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Esportes
22/12/2013 07:58:56
Em domingo histórico, Brasil encara o orgulho de 20 mil sérvios na decisão
Em um domingo inédito e histórico, a seleção brasileira feminina de handebol encara a Sérvia na decisão do Mundial da modalidade, às 14h15m (de Brasília), na Arena Belgrado, na capital do país.

Globo Esporte/LD

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Foto: Cinara Piccolo/PhotoGrafia
Em um domingo inédito e histórico, a seleção brasileira feminina de handebol encara a Sérvia na decisão do Mundial da modalidade, às 14h15m (de Brasília), na Arena Belgrado, na capital do país. Medalhistas pela primeira vez, as meninas sabem que o duelo não será totalmente igual. Se dentro de quadra estarão sete contra sete, fora dele serão 20 mil sérvios empurrando sua seleção contra o Brasil. Em um país jovem, forjado à base de recentes conflitos armados, o sentimento das anfitriãs não é apenas de querer vingar a derrota para o Brasil na primeira fase por 25 a 23. É bem claro na feição de cada atleta sérvia que o confronto com as brasileiras tem clima de guerra, de orgulho nacional. Vencer, na opinião do técnico Sasa Boskovic, não é uma opção. Trata-se de uma necessidade, uma obrigação. As brasileiras, que se acostumaram na Sérvia a derrubar preconceitos e estigmas, porém, não ligam. Insaciáveis, elas prometem sangue nos olhos para escrever em dourado o último capítulo de uma história surpreendente.
- Eu espero ganhar. Vai ser talvez o jogo mais complicado da nossa vida. Nós nunca jogamos uma final de Mundial. Nunca jogamos em um ginásio com 20 mil pessoas contra você. E não é só torcendo contra, é raiva, eles odeiam você. A cultura aqui é diferente quando se vai para um espetáculo de esporte. Não vamos jogar só contra a Sérvia. Vamos jogar contra mais 20 mil gritando. E essa pressão que eles vão fazer... Portanto, temos que definir como vamos levar isso. São dois lados. Elas vão entrar em um ginásio torcendo por elas. Deve ser muito gostoso jogar assim. Mas, ao mesmo tempo, é o Brasil como rival, não é a Dinamarca, não é Montenegro. Então, isso pode pressioná-las. A obrigação é delas. Temos que ser fiéis e disciplinados com o que deu certo para a nossa equipe - disse dinamarquês e técnico brasileiro Morten Soubak.
De um lado, Andrea Lekic comanda as sérvias. Quarta melhor jogadora do mundo em 2011, ela jogou no time da brasileira Duda, o Gyor Eto Kc, da Hungria, e tem 42 gols no Mundial. Cérebro da Sérvia, da sua mão também sai grande parte das jogadas tramadas pelas anfitriãs. Amada pela torcida, Lekic se lesionou contra a Polônia, deixou o ginásio mancando, mas enfrenta o Brasil. Do lado da seleção brasileira, Alexandra Nascimento é dona das bolas de confiança. Melhor do mundo em 2012, ela cobra os sete metros e preocupa a marcação rival sempre que se posiciona na ponta direita.
Seleção cascuda
Os gols necessários para vencer a Sérvia neste domingo não faltaram durante o Mundial. Vieram principalmente de Alexandra Nascimento, terceira artilheira da competição com 48 gols e melhor jogadora do mundo. Mas também de Ana Paula, Duda e Fernanda, que juntas anotaram 96 gols. A frieza para ignorar os torcedores sérvios foi mostrada na histórica vitória sobre as húngaras, nas quartas de final, após duas prorrogações de tirar o fôlego. A predestinação em uma campanha surpreendente esteve no gol de Mayara, contra as próprias húngaras, com a bola batendo na trave, no bumbum da goleira e entrando, colocando o Brasil com um gol de frente na reta final do jogo. É assim, com as experiências acumuladas nas oito vitórias anteriores, que a seleção, invicta e inegavelmente o melhor time do Mundial, espera superar mais um obstáculo. - Vai ser um jogão. Bem parecido com o jogo contra a Hungria. Elas estão em casa, o público vai ajudar. Não vai ser fácil. Elas não vão querer errar, perder de novo para a gente. Vão vir com tudo e estamos preparadas para vencer de novo. Eu acredito que temos que ter o mesmo pensamento dos outros jogos. Não jogamos contra o público, e sim contra as jogadoras. Quando se está concentrada em quadra e sem pensar na torcida, se ganha a partida. Demonstramos isso na primeira fase e podemos fazer de novo - frisou Mayssa, que não deve começar jogando, mas contra as mesmas sérvias, na primeira fase, teve sua melhor atuação no Mundial. Dani Piedade, aos 33 anos, confessa que nunca esperava viver esse dia, ainda mais depois de sobreviver a um AVC no ano passado. Talvez por ter sentido na pele a sensação de impotência por algumas semanas durante seu tratamento, a pivô rechaça qualquer possibilidade de satisfação apenas com a medalha de prata, por mais histórica que seja. - Meu coração não cabe no meu peito. Eu estou muito feliz. Nunca pensei que fôssemos chegar a um momento tão grandioso. Esperei tanto por isso que nem sei o que dizer. Eu só posso agradecer a Deus por estar aqui de novo. E jogando ao lado desse grupo maravilhoso. Só agradeço a Deus por essa chance, e por isso nós vamos com tudo. Viemos com a raça brasileira e não vamos deixar para trás. Vamos para ganhar. Já que estamos aqui, vamos acabar com elas. Esse é o clima - prometeu Dani. Confiança sérvia
Se as meninas do Brasil expressam em suas palavras e ações total confiança, do lado sérvio não é diferente. Com apenas uma derrota na competição, justamente para o Brasil, na primeira fase, a Sérvia cresceu no mata-mata e também, pode-se dizer, surpreendeu o mundo ao eliminar a atual campeã mundial e olímpica, a Noruega, nas quartas de final. Ainda como reflexo dessa vitória, o time foi como um caminhão para cima da Polônia e atropelou as rivais nas semifinais por 24 a 18. Do sorriso do técnico Sasa Boskovic, por vezes sarcástico, vem a resposta sobre quem é o favorito. - Claro que somos nós. Olhe para o meu sorriso? Tenho as melhores meninas e eliminamos a Noruega. O que vou dizer? Além disso, teremos um ginásio lotado do nosso lado. O favoritismo é nosso. Sei que o Brasil tem grandes jogadoras, a Duda Amorim, por exemplo, que jogou com a nossa capitã, a Lekic. Ela está em um grande momento, e mesmo com a torcida, os torcedores não podem defender as bolas. Quem faz isso é a nossa goleira. E eles também não fazem gols. Então, temos que ser fortes nessa partida - gabou-se Sasa. Essa empolgação sérvia, inclusive, é a maior preocupação de Morten Soubak. Ele teme que o clima também chegue aos árbitros. Craque rival, a capitã Andrea Lekic deixou o jogo contra a Polônia mancando e chorando. Morten não tem dúvida que ela joga. - O desafio vai ser a pressão que vamos ter dos torcedores e da arbitragem. Então, temos que pensar muito nos momentos ruins do jogo. O que fazer e como tratar isso? Vimos a Polônia ser atropelada por um caminhão sérvio. Elas não entraram no jogo. Esse é o nosso desafio. Não deixar isso acontecer. Vai ser difícil e é um dos desafios - concluiu o comandante brasileiro.
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