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ImprimirEndrick ainda não atingiu a maioridade, mas com 17 anos já experimentou alguns dos prazeres e dos dissabores do futebol. Com a fama e a pressão da opinião pública, comuns aos jogadores de alto nível, o atacante diz já estar acostumado. Porém, dentro de campo, ele também já lidou com algo impossível de se habituar ou aceitar: o racismo.
Em entrevista exclusiva ao ge, o estreante na seleção brasileira revelou quando, ainda na infância, foi vítima de ofensas por conta de sua cor de pele.
– Racismo é uma coisa forte. É difícil para nós falarmos. É triste ver isso. Eu sofri, sim, quando tinha 9 anos em Brasília. Minha tia foi na Polícia, fez boletim (de ocorrência) e não deu em nada – disse Endrick.
– Era 1 a 1, um jogo em Brasília, eu fiz o gol da virada e fui comemorar. Os pais dos garotos do outro time, acho que subiu raiva no coração deles, começaram a me chamar de macaco, fazer gestos obscenos. De pequeno, eu não sabia. Minha tia foi na polícia, fez o boletim de ocorrência, mas não deu em nada. Quando fiquei sabendo, deixei nas mãos de Deus. As pessoas que fazem isso com Vini ou que fazem na Libertadores, que acontece bastante também, Deus vai pesar a mão, fazer o que for preciso para essas pessoas melhorarem ou vai acontecer algo pior quando Ele voltar – completou.
Embora lamente e condene, o jovem jogador diz que não afeta com esse tipo de atitude:
– Não vou me abalar com isso, vou seguir de cabeça erguida. Se eles fizerem, eles vão ficar bravos porque eu não vou me irritar, vou ficar tranquilo.
Nesta entrevista, o prodígio também fala sobre a primeira oportunidade na Seleção, as "borboletas na barriga" ao saber que estava convocado e como ficou mais tranquilo após uma conversa que teve com o técnico Fernando Diniz. Confira!
ge: Com apenas 17 anos, você está vivendo muitos desafios e novas experiências. Foi vendido ao Real Madrid, tem se destacado pelo Palmeiras e, agora, realizou o sonho de vestir a camisa da Seleção. Como lida com tudo isso? – É muita coisa né, cara? Eu agradeço a Deus por tudo isso que ele me proporciona. Se tudo isso está acontecendo na minha vida é porque eu consigo aguentar, eu vou conseguir vencer. Tem a pressão, tem o fato de já ter sido negociado com o Real Madrid, o fato de eu já estar na Seleção. Muitas coisas que, querendo ou não, causam muita pressão. Mas sei que Deus está comigo, ele vai fazer eu passar por tudo isso. É isso o que quero fazer, quero me tornar um garoto muito forte.
Em algum momento você se assustou? – Pior que não, eu fico bem tranquilo. Eu falo em todas as minhas entrevistas, vivo um dia de cada vez. Sempre estou feliz com o dia, não penso muito no amanhã, penso no que acontece no presente, é isso o que estou fazendo. Lógico que sempre vem uma lembrancinha do que já aconteceu ou do que vai acontecer, mas eu penso mais no dia a dia.
Você tem uma origem simples e enfrentou adversidades para chegar até aqui. Quando olha para trás, o que enxerga? – Força, luta... É isso o que vai acontecer a minha vida toda, lutar sempre, passar sempre por todas as adversidades.
Recentemente, circularam fotos do seu pai, quando ele trabalhava como ajudante geral no Palmeiras, junto com o Raphael Veiga. E hoje vocês jogam juntos não só no clube, mas também na Seleção. O que isso representa para você? – Eu vi algumas fotos, vi a minha também com o Gab (Jesus), eu tinha 10 anos e fui fazer o tour do Palmeiras, ele jogava lá também. Vi essa foto com o Veiga também. Eu fico feliz. Meu pai é muito emotivo, sempre chora, vejo a felicidade nos olhos dele e da minha mãe, quero só passar isso a eles, felicidade. Como eu falo, para mim o importante é deixar a minha família feliz
Hoje mesmo no treino ele chorou... – Ele sempre chora, chora para tudo (risos). Para mim, é normal.
Muita gente não esperava que você já seria convocado para a Seleção sendo tão jovem. Você também foi surpreendido ou já tinha essa expectativa? – Eu não imaginava, achava que eu não iria ser convocado. Estava esperando, sim, a olímpica, que é a que estava mais próxima. Para mim, é a coisa que está mais perto, não vamos mentir. Eu não estava vendo celular, estava treinando. O pessoal começou a me ligar e naquele dia eu não estava querendo ver celular. Eu fiquei treinando. Depois eu vi a foto e ali estava “Endrick convocado” e o Diniz falando. Deu umas borboletas na barriga, depois eu respondi o pessoal. Foi um dia importante para mim. Estou só disfrutando, conversei com Diniz, nossa conversa foi sadia, hoje estou bem mais solto
Seu pai chorou ao saber da convocação? – Pergunta a ele (risos). Chora para tudo ele. Ele e minha mãe choraram. Só agradeço a Deus pela oportunidade e por ver a felicidade mais uma vez nos olhos deles.
E quando você entrou em campo contra a Colômbia, deu borboleta na barriga? – Não deu nem um pouquinho. Por incrível que pareça, fiquei bem tranquilo naquele jogo. Só agradeci a Deus, foi isso o que fiz o jogo todo.
Como foi viver aquele momento? – Foi muito bom, creio que agora, diante da nossa torcida, posso fazer um bom jogo e conquistar essa vitória.
Endrick revela ter sido vítima de racismo na infância: "Vou seguir de cabeça erguida" Em entrevista exclusiva, atacante do Palmeiras e da Seleção conta episódio vivido em Brasília, fala sobre "borboletas na barriga" após convocação e diz ter ficado mais leve após papo com Diniz Por Bruno Cassucci, Cahê Mota e Eric Faria — Teresópolis, RJ
20/11/2023 04h00 Atualizado há 7 horas
Endrick ainda não atingiu a maioridade, mas com 17 anos já experimentou alguns dos prazeres e dos dissabores do futebol. Com a fama e a pressão da opinião pública, comuns aos jogadores de alto nível, o atacante diz já estar acostumado. Porém, dentro de campo, ele também já lidou com algo impossível de se habituar ou aceitar: o racismo.
Em entrevista ao Fantástico, Endrick conta sobre o sonho de defender a Seleção no Maracanã
Em entrevista exclusiva ao ge, o estreante na seleção brasileira revelou quando, ainda na infância, foi vítima de ofensas por conta de sua cor de pele.
– Racismo é uma coisa forte. É difícil para nós falarmos. É triste ver isso. Eu sofri, sim, quando tinha 9 anos em Brasília. Minha tia foi na Polícia, fez boletim (de ocorrência) e não deu em nada – disse Endrick.
– Era 1 a 1, um jogo em Brasília, eu fiz o gol da virada e fui comemorar. Os pais dos garotos do outro time, acho que subiu raiva no coração deles, começaram a me chamar de macaco, fazer gestos obscenos. De pequeno, eu não sabia. Minha tia foi na polícia, fez o boletim de ocorrência, mas não deu em nada. Quando fiquei sabendo, deixei nas mãos de Deus. As pessoas que fazem isso com Vini ou que fazem na Libertadores, que acontece bastante também, Deus vai pesar a mão, fazer o que for preciso para essas pessoas melhorarem ou vai acontecer algo pior quando Ele voltar – completou.
Embora lamente e condene, o jovem jogador diz que não afeta com esse tipo de atitude:
– Não vou me abalar com isso, vou seguir de cabeça erguida. Se eles fizerem, eles vão ficar bravos porque eu não vou me irritar, vou ficar tranquilo. Endrick em entrevista no vestiário da Seleção — Foto: Bruno Cassucci Endrick em entrevista no vestiário da Seleção — Foto: Bruno Cassucci
Nesta entrevista, o prodígio também fala sobre a primeira oportunidade na Seleção, as "borboletas na barriga" ao saber que estava convocado e como ficou mais tranquilo após uma conversa que teve com o técnico Fernando Diniz. Confira!
ge: Com apenas 17 anos, você está vivendo muitos desafios e novas experiências. Foi vendido ao Real Madrid, tem se destacado pelo Palmeiras e, agora, realizou o sonho de vestir a camisa da Seleção. Como lida com tudo isso? – É muita coisa né, cara? Eu agradeço a Deus por tudo isso que ele me proporciona. Se tudo isso está acontecendo na minha vida é porque eu consigo aguentar, eu vou conseguir vencer. Tem a pressão, tem o fato de já ter sido negociado com o Real Madrid, o fato de eu já estar na Seleção. Muitas coisas que, querendo ou não, causam muita pressão. Mas sei que Deus está comigo, ele vai fazer eu passar por tudo isso. É isso o que quero fazer, quero me tornar um garoto muito forte.
Veja também: Diniz prepara duas mudanças na Seleção Endrick admite que se abalou com críticas
Em algum momento você se assustou? – Pior que não, eu fico bem tranquilo. Eu falo em todas as minhas entrevistas, vivo um dia de cada vez. Sempre estou feliz com o dia, não penso muito no amanhã, penso no que acontece no presente, é isso o que estou fazendo. Lógico que sempre vem uma lembrancinha do que já aconteceu ou do que vai acontecer, mas eu penso mais no dia a dia.
Você tem uma origem simples e enfrentou adversidades para chegar até aqui. Quando olha para trás, o que enxerga? – Força, luta... É isso o que vai acontecer a minha vida toda, lutar sempre, passar sempre por todas as adversidades.
Recentemente, circularam fotos do seu pai, quando ele trabalhava como ajudante geral no Palmeiras, junto com o Raphael Veiga. E hoje vocês jogam juntos não só no clube, mas também na Seleção. O que isso representa para você? – Eu vi algumas fotos, vi a minha também com o Gab (Jesus), eu tinha 10 anos e fui fazer o tour do Palmeiras, ele jogava lá também. Vi essa foto com o Veiga também. Eu fico feliz. Meu pai é muito emotivo, sempre chora, vejo a felicidade nos olhos dele e da minha mãe, quero só passar isso a eles, felicidade. Como eu falo, para mim o importante é deixar a minha família feliz
Hoje mesmo no treino ele chorou... – Ele sempre chora, chora para tudo (risos). Para mim, é normal.
Família de Endrick em treino da seleção brasileira — Foto: Divulgação Família de Endrick em treino da seleção brasileira — Foto: Divulgação
Muita gente não esperava que você já seria convocado para a Seleção sendo tão jovem. Você também foi surpreendido ou já tinha essa expectativa? – Eu não imaginava, achava que eu não iria ser convocado. Estava esperando, sim, a olímpica, que é a que estava mais próxima. Para mim, é a coisa que está mais perto, não vamos mentir. Eu não estava vendo celular, estava treinando. O pessoal começou a me ligar e naquele dia eu não estava querendo ver celular. Eu fiquei treinando. Depois eu vi a foto e ali estava “Endrick convocado” e o Diniz falando. Deu umas borboletas na barriga, depois eu respondi o pessoal. Foi um dia importante para mim. Estou só disfrutando, conversei com Diniz, nossa conversa foi sadia, hoje estou bem mais solto
Seu pai chorou ao saber da convocação? – Pergunta a ele (risos). Chora para tudo ele. Ele e minha mãe choraram. Só agradeço a Deus pela oportunidade e por ver a felicidade mais uma vez nos olhos deles.
E quando você entrou em campo contra a Colômbia, deu borboleta na barriga? – Não deu nem um pouquinho. Por incrível que pareça, fiquei bem tranquilo naquele jogo. Só agradeci a Deus, foi isso o que fiz o jogo todo.
Como foi viver aquele momento? – Foi muito bom, creio que agora, diante da nossa torcida, posso fazer um bom jogo e conquistar essa vitória.
Endrick em ação durante Colômbia x Brasil — Foto: Staff Images / CBF Endrick em ação durante Colômbia x Brasil — Foto: Staff Images / CBF
Você terá a oportunidade de jogar um Brasil x Argentina com o Messi em campo, no Maracanã lotado. Já tinha imaginado viver algo assim? – Sim, mas não era agora. Estou disposto a ajudar a seleção brasileira, que foi o que coloquei como meta na minha vida. Uma coisa que eu sempre quero é defender as cores do Brasil. Defendi uma vez contra a Argentina em Montaigu, na final, pude jogar e sentir aquele gostinho. Agora é bem mais diferente, creio que terça-feira vai ser um dia maravilhoso para todos nós, espero que possamos conquistar a vitória.
Um momento marcante até aqui na sua curta carreira foi aquela vitória por 4 a 3 sobre o Botafogo, em que você faz dois gols, dá assistência e lidera o Palmeiras na virada. Mas, antes da gravação você estava contando que aquele jogo nem foi o mais especial para você. Por quê? – Para outras pessoas pode ter sido, mas para mim não importa o gol, se dei assistência, importa se estou feliz e bem comigo mesmo. No jogo contra o Santos, infelizmente a gente perdeu, mas eu voltei a jogar, a ser titular, estava feliz, indo para cima, chutando no gol, alegre, vendo minha família feliz porque eu estava voltando a jogar. Não pude fazer gol, mas joguei muito bem. Ali foi meio que meu pulo para começar a ficar bem e voltar a jogar.
– Eu via muitas coisas quando eu tinha 16 anos, via os comentários, aquilo me abalava muito. Quando fiz 17 anos, eu não ligava mais para aquilo, não via mais nada, só queria ver minha família feliz e me ver feliz, o que mais importante é o jogador feliz. Nenhum de vocês sabe o que acontece fora de campo. Aconteceu uma tragédia com o Da Mata, zagueiro da seleção, a tia dele faleceu e ele só soube no aquecimento. Aquilo ali deixou ele mal. Você não sabem de nada. O jogador estar bem com ele mesmo é a melhor coisa do mundo. Depois daquele jogo eu estava bem, alegre, com sorriso no rosto, mostrando quem eu sou, é isso o que eu quero mostrar para o resto da minha carreira.
Você é de uma geração muito conectada, que vive nas redes sociais. O quanto as críticas sofridas ali te abalam? – Um tempo atrás, eu sempre ficava no celular, vendo o que o pessoal falava de mim. Me abalava, mas hoje estou bem tranquilo. As críticas eram fortes e eu queria fazer as pessoas verem que eu não era aquilo. Quando eu completei 17, eu vi que não era aquilo, eu estava jogando com raiva, com ódio dentro de mim, querendo fazer uma coisa que eu não era. Depois eu larguei tudo, só queria fazer eu e minha família feliz, se o povo gostasse, bem, se não gostasse, não estava nem aí. Estou feliz, estou bem, só quero me divertir em campo, brincar. Foi o que o Diniz falou para mim hoje. Quando ele falou, um peso caiu.
Temos notado o Diniz te dando bastante atenção durante os treinos, tendo conversas reservadas... o que ele procura passar nesses momentos? – Ele falou para eu me divertir, tentar driblar mesmo, se errar, correr e voltar. É o que gosto de fazer, correr, driblas. Essas palavras que ele me falou hoje foram palavras de impulso, espero que eu possa ajuda-lo bastante.
Me contaram que você, desde pequeno, tinha o sonho de jogar no Maracanã lotado. Você já viveu essa experiência, mas agora será com a camisa da Seleção. – Lá em Brasília tem muitos torcedores do Flamengo e eles falavam. E eu dizia: quero jogar pela Seleção. Até me arrepio falando isso. Eu decretei que queria jogar no Maracanã com a Seleção e será com a Seleção que vou jogar lá. Quando jogou Palmeiras e Vasco, meu pai falou: faz um gol por favor. Eu espero que agora, com a seleção, a que mais tem Copas do Mundo, a maior que tem, estar jogando por essa seleção é gratificante para mim, ainda mais no Maracanã. Se eu fizer um gol, não sei o que vou fazer. Mais importante que o gol é a vitória, espero que a gente possa ganhar.
Como tem sido o contato com Vini Jr e Rodrygo, seus futuros companheiros no Real Madrid? Na semana passada ganhou destaque uma foto em que vocês estavam juntos na academia... – Os dois são garotos fenomenais, eles me acolheram super bem. A gente conversou, deu risada, a gente estava pedalando e conversando. Nada mais importante do que nossa amizade. Se a gente não estiver bem fora de campo, como vai se desenvolver dentro? É um ataque jovem, se Deus quiser vai trazer alegrias para o povo brasileiro. Só agradecer a Deus por estar nessa geração, espero que a gente possa trazer felicidade para vocês e ir em busca da felicidade do Brasil.