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04/07/2018 14:48:00
Eric Boullier deixa McLaren, e Gil de Ferran assume comando da equipe

G1/LD

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A fase ruim da McLaren teve sua consequência mais drástica: Eric Boullier não é mais o diretor esportivo da equipe inglesa. Quem assume o cargo é o ex-piloto brasileiro Gil de Ferran, que vinha atuando como consultor. A mudança tem efeito imediato, e Gil já comanda o time neste fim de semana durante o GP da Inglaterra.

Boullier, que chegou à McLaren no começo de 2014, não resistiu a mais uma temporada aquém das tradições de uma equipe dona de 11 títulos mundiais de pilotos (sendo um de Emerson Fittipaldi e três de Ayrton Senna), mas que não é campeã desde 2008. Mesmo com a mudança dos então criticados motores Honda pelas unidades mais confiáveis da Renault, a McLaren ocupa apenas a sexta posição no Mundial de Construtores, tendo um quinto lugar de Fernando Alonso na Austrália como melhor resultado.

Como costuma acontecer nesses casos, a direção da empresa agradeceu a Boullier pelos serviços prestados e informou que foi o francês quem pediu para sair. Isso duas semanas depois de ele negar veementemente a declaração de uma fonte anônima que trabalha na McLaren de que o ambiente no time é “tóxico”, e que não deixaria o cargo. Mas agora, digamos, ele "mudou de ideia".

  • Estou muito orgulhoso por ter trabalhado numa equipe brilhante ao longo dos últimos quatro anos, mas agora admito que é a hora certa de deixar o cargo. Desejo a todos da McLaren o melhor para o restante da temporada e para o futuro - disse Boullier.

A pressão na McLaren sob a liderança de Boullier atingiu níveis tão insustentáveis, que até mesmo um chocolate causou discórdia. Sim, integrantes da equipe vinham recebendo como prêmio um chocolate que custa R$ 1,25 pelo "trabalho duro" no time. E era apenas um por pessoa... Claro que os funcionários vinham reclamando desse ambiente no time.

Além da efetivação de Gil de Ferran como diretor esportivo, a McLaren promoveu outras mudanças sob a alegação de simplificar a hierarquia no time. Ex-engenheiro de Fernando Alonso na Ferrari, Andrea Stella assumiu a função de diretor de performance, enquanto Simon Roberts, que era chefe de operações, passa a ser líder de logística e produção.

  • O desempenho do MCL33 em 2018 não cumpriu com as expectativas de ninguém da McLaren, especialmente nossos leais fãs. Não é culpa das centenas de muito comprometidos homens e mulheres trabalhadores da McLaren. As causas são sistêmicas e estruturais e exigem grandes mudanças internas. É o começo da nossa estrada para a recuperação - declarou Zak Brown, CEO do Grupo McLaren.

Do céu ao inferno: a decadência da McLaren

Uma das equipes mais poderosas e vitoriosas da história da Fórmula 1, a McLaren começou sua derrocada em 2007, quando, ainda sob o comando de Ron Dennis, estourou o escândalo de espionagem à Ferrari. A equipe foi desclassificada do campeonato de Construtores e multada em US$ 100 milhões (hoje cerca de R$ 390 milhões).

Em 2008, Lewis Hamilton ainda foi campeão após uma apertada disputa com Felipe Massa e a Ferrari, mas depois disso começou uma lenta decadência.

Com a saída de Hamilton para a Mercedes, no fim de 2012, esse processo se acentuou. Em 2015, a McLaren apostou na reedição da parceria com a Honda, mas o fracasso foi absolutamente retumbante devido à lentidão na melhora das unidades de potência e também por equívocos nas construções dos carros.

Também de volta ao time após a turbulenta passagem em 2007, Alonso atacou duramente a Honda, e a montadora deixou a equipe no fim de 2017 numa complicada operação que envolveu ainda a STR e o empréstimo do piloto Carlos Sainz à Renault, que passou a fornecer motores à McLaren, que segue sem vencer ou fazer pole na F1 desde o GP do Brasil de 2012.

Em 2018, equipe melhorou, mas pouco

Em 2018, mesmo tendo evoluído em relação aos últimos anos, a McLaren não vem conseguindo grande coisa. Graças ao talento de Alonso, a equipe pontuou nas primeiras cinco corridas na temporada, mesmo com o desempenho caindo gradativamente.

Na Espanha, a equipe lançou uma profunda revisão no modelo MCL33, mas o desempenho piorou. Alonso e seu companheiro de equipe Stoffel Vandoorne voltaram a conviver com falhas no carro, e nos bastidores começou-se a ventilar a saída do espanhol não só da McLaren como da Fórmula 1.

Curiosamente, a última corrida de Alonso foi muito boa, com o bicampeão terminando em oitavo mesmo tendo largado dos boxes após uma troca da asa dianteira (por um erro do espanhol) em regime de parque fechado. De qualquer forma, para quem já venceu 182 corridas, um "comemorado" oitavo lugar é pouco...

Gil de Ferran, carreira vitoriosa nas pistas

Com familiares de origem francesa, Gil de Ferran nasceu em Paris no dia 11 de novembro de 1967, mas sempre representou o Brasil. Campeão brasileiro de Fórmula Ford em 1987, Gil foi para a Europa e se sagrou campeão da prestigiada F3 Inglesa em 1992 - como prêmio recebeu um teste com a Williams "de outro planeta" campeã mundial de F1 com Nigel Mansell.

O passo natural era a Fórmula 1, e Gil estava encaminhado para se acertar com a Footwork/Arrows, mas no dia do teste que provavelmente selaria a vaga, ele bateu a cabeça no caminhão da equipe e teve o desempenho comprometido no vestibular com Jos Verstappen, pai de Max Verstappen.

De Ferran ficou sem vaga para 1994 e no fim daquele ano decidiu dar um passo ousado e passar a correr na Fórmula Indy, que vinha em ascensão internacional. Imediatamente, Gil se consolidou como um dos grandes nomes da categoria, mesmo após a cisão que mudou sua nomenclatura para Champ Car, em 1996.

Vice-campeão em 1997 pela equipe Walker, Gil foi contratado pela poderosa Penske e não decepcionou: faturou o bicampeonato da Champ Car, em 2000 e 2001. No fim de 2000, quebrou o recorde mundial de média de velocidade numa volta em circuito fechado (388.541 km/h), no superoval de Fontana.

Em 2002, a Penske decidiu voltar à IndyCar por questões de patrocinadores, e Gil continuou competitivo. Conquistou a tão sonhada vitória nas 500 Milhas de Indianápolis em 2003, mesmo ano em que decidiu parar de correr.

As ligações construídas com a Honda nesse período com a Penske renderam a Gil um cargo de diretor esportivo da BAR na F1, em 2005. Logo depois, a equipe foi adquirida na totalidade pela Honda e, ainda sob o comando do brasileiro, venceu uma corrida em 2006, na Hungria, com Jenson Button. Após um mau início de campeonato em 2007, Gil deixou a Honda.

Gil abriu sua própria equipe e continuou correndo na American Le Mans Series até 2009, quando parou de competir definitivamente. Foi dono de equipe na reunificada Fórmula Indy, até que este ano foi convidado em maio deste ano para assumir uma função de consultor na McLaren.

Agora, um dos mais importantes nomes do automobilismo brasileiro encara provavelmente o grande desafio de sua trajetória dentro e fora do cockpit.

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