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ImprimirSe estivesse na arquibancada, Jesus Morlán certamente teria trocado a expressão compenetrada por um sorriso. Na raia de Szeged, sede do Mundial de canoagem velocidade, os pupilos do saudoso técnico honraram o planejamento minucioso e foram coroados pelo esforço em mais um ciclo olímpico. Neste sábado, Erlon de Souza e Isaquias Queiroz superaram o forte vento contra e foram medalha de bronze no C2 1000m, selando a classificação para os Jogos de Tóquio 2020.
- Queria agradecer a uma pessoa que é mais importante que todo mundo, que é o nosso treinador Jesus Morlán. Ele pode ter falecido, mas continua com a gente. Sem ele não teria essa medalha nem esses títulos. Essa medalha de hoje é consequência do trabalho dele, então dedicamos a ele toda essa nossa trajetória. Sem ele a gente não teria conseguido esses feitos na nossa vida - disse Isaquias, emocionado, após elogiar o trabalho de toda a comissão técnica atual.
Erlon e Isaquias completaram o percurso em 3m44s34, enquanto os cubanos Serguey Torres Madrigal e Fernando Dayan Jorge Enriquez levaram a prata com a marca de 3m41s46. Os chineses H. Liu e H. Wang lideram desde o início e confirmaram a vitória com o tempo de 3m40s55. Foi a primeira vez que a prova não teve sequer um país europeu no pódio.
- A gente sabia que ia doer mais do que os outros dias, mas graças a Deus a gente ainda conseguiu fazer uma boa prova. Com alguma dificuldade, mas superamos e ficamos no pódio. Acredito que a Europa não esperava isso com vento contra, mas os surpreendemos dessa vez - disse Erlon.
O barco brasileiro só não podia terminar em último lugar para garantir a vaga olímpica. O fez com louvor, e de quebra garantiu também uma vaga para o país no C1 1000m, prova que também é especialidade de Isaquias. Ainda neste sábado ele compete na semifinal do individual em Szeged.
Erlon e Isaquias venceram as duas baterias que disputaram até a final. Nas eliminatórias lideraram a segunda bateria, deixando para trás nomes como Victori Mihalachi e Catalin Chirila, da Romênia, atuais campeões europeus da prova. Com o domínio completo da prova, puderam reduzir o ritmo no fim para cravar 3m29s32, o terceiro tempo geral.
Nas semifinais, os dois superaram os cubanos Torres Madrigal e Jorge Enriquez com 3m27s34, 1s35 a menos que os adversários. Na disputa por medalhas, porém os campeões pan-americanos levaram a melhor com o vento contra e superaram os brasileiros.
- Falaram que a disputa pelo ouro seria entre Brasil e China, só que o vento, falando em bom espanhol, cambió (mudou), e aí mudou de frente, da esquerda para a direita. E aí os cubanos remam muito bem com o vento contra e acabaram surpreendendo um pouco a gente - analisou Isaquias.
Caio Ribeiro é bronze no KL3 200m
Prata no VL3, Caio Ribeiro conquistou a segunda medalha dele em Szeged neste sábado. O brasileiro cravou 40s70 no KL3 200m e foi bronze. O campeão foi o ucraniano Serhii Yamelianov, com 40s03, seguido pelo russo Leonid Krylov, com 40s56.
- Eu até aceitaria ficar em segundo de novo porque sei que o outro adversário é o mais forte que tem no momento, mas ficar em terceiro... Ainda não tenho certeza onde errei. Acho que só quando voltar para o meu espaço vou conseguir lembrar cada detalhe desde a largada - lamentou.
Esta foi a quarta medalha da paracanoagem do Brasil em Szeged. Além das duas de Caio, Luis Carlos Cardoso também subiu duas vezes ao pódio. Foi ouro no VL2 200m e bronze no KL1 200m. Débora Benevides não conquistou medalha, mas foi quarta no VL2 200m e garantiu vaga para o país nas Paralimpíadas de Tóquio.