Globo Esporte/LD
ImprimirAntes de mais nada, propõe-se um desafio: imagine que os maiores clubes do continente europeu tenham se unido e concordado em desertar da Uefa, assim como de suas respectivas confederações, para formar uma superliga na Europa. Pois bem, embora pareça ficção, tal plano vem sendo arquitetado há pelo menos três anos e pode sair do papel até 2021.
Uma extensa reportagem publicada nesta sexta-feira pela revista alemã "Der Spiegel" em parceria com a equipe do Football Leaks revelou, com imensa riqueza de detalhes, o projeto discutido à boca miúda para a criação do que podemos chamar de Superliga da Europa. Apurado durante meses, o artigo baseia-se em documentos confidenciais e trocas de e-mail entre representantes dos maiores clubes do continente.
A princípio, 16 clubes fazem parte da "conspiração". Onze deles são considerados os "fundadores" - e vão dispor de privilégios, como nunca poderem ser rebaixados:
Real Madrid, Barcelona, Manchester United, Juventus, Chelsea, Arsenal, Paris Saint-Germain, Manchester City, Liverpool, Milan e Bayern de Munique.
Além disso, ao menos para a primeira edição da Superliga, outros cinco clubes participarão sob o caráter de "convidados". São eles:
Atlético de Madrid, Borussia Dortmund, Olympique de Marselha, Inter de Milão e Roma.
De acordo com a reportagem, os clubes optaram pela rebelião por entender que o resultado das principais ligas do continente, sobretudo os campeonatos Alemão e Italiano, são demasiado previsíveis. Até mesmo a Champions League, vencida pelo Real Madrid nas últimas três temporadas, estaria seguindo tal caminho.
- Os clubes do mundo se uniram secretamente, todos aparentemente com uma única ideia em mente: o tédio significa a morte de qualquer show. E a única maneira de combater o tédio é fazer um show ainda maior e mais brilhante, o maior espetáculo de futebol na terra. A ideia é a criação de uma Super League, uma liga de elite de competição de alto nível reservada exclusivamente para os principais nomes do futebol europeu de clubes. Todo jogo é um top game. Esse é o plano da sociedade secreta - diz um trecho da reportagem.
Charlie Stillitano, famoso executivo esportivo americano, seria uma das pessoas à frente do projeto. Em uma reunião com representantes do Real Madrid em dezembro de 2015, ele disse, segundo os documentos obtidos, que o cálculo é de que cada clube membro da Superliga poderia obter uma receita anual de "mais de 500 milhões de euros".
A título de comparação, o Real Madrid, vencedor da Liga dos Campeões naquela temporada, recebeu cerca de 80 milhões de euros da UEFA.
Os empecilhos
Assim que a ideia da formação da Superliga foi levantada, e que os primeiros passos foram dados, ainda em 2015, levantaram-se indagações internas. Os clubes temiam as consequências que uma eventual desfiliação da Uefa poderia acarretar.
-Os clubes seriam responsabilizados por qualquer prejuízo da Uefa?
-Os clubes continuariam obrigados a liberar seus jogadores para as seleções depois de sair da Uefa?
-As ligas e associações poderiam penalizar os jogadores por participar da Superliga?
-Os jogadores poderiam ter os contratos rescindidos caso o clube jogasse a Superliga?
Bayern de Munique e Borussia Dortmund, únicos alemães entre os 16 clubes, por sua vez, são casos à parte. Na Alemanha, os contratos dos jogadores possuem por obrigação uma cláusula que os liga exclusivamente à Bundesliga. Ou seja, abrir mão do Campeonato Alemão para disputar a Superliga poderia acarretar na anulação do vínculo dos atletas.
Segundo a reportagem, apesar dos questionamentos e balizados por um poderoso departamento jurídico, os clubes pretendem tornar a Superliga uma realidade.