Globo Esporte/LD
ImprimirDiego Alves e Flamengo protagonizam uma espécie de xadrez jurídico em toda polêmica que envolve o goleiro, Dorival Júnior e o clube. Silêncio forçado dos dirigentes; Comunicação com o goleiro enviada também por WhatsApp e e-mail para que fique tudo registrado para necessidades de possíveis comprovações; Trabalho com horários diferentes do grupo, mas sem que configure qualquer tipo de afastamento ou cause constrangimento ao atleta para que não gere nenhuma ação contra o clube; Mantra ensinado aos jogadores de que “é problema interno”; Cautela com os mais novos do elenco diante de toda polêmica e de possível influência com o ambiente que, de fato, ficou pesado. Consultas constantes ao jurídico para saber as ações a serem tomadas; Pela segunda vez, Diego Alves será multado com decréscimo de porcentagem do seu salário.
E a multa?
Desde o início do caso, Diego Alves sabe da intenção da diretoria de multá-lo, mas até agora nem ele nem seus representantes receberam qualquer aviso sobre desconto nos seus vencimentos.
O goleiro se manifestou em rede social negando desobediência. Além disso, demostrou internamente incômodo com o caso e considera o tratamento do clube inadequado desde o início do problema.
Novo ruído
Nesta sexta-feira, Diego Alves se desentendeu com a direção pelo horário de treino. Teria cumprido determinação médica para ir pela manhã, e retornado à tarde para atividade separada.
A direção do futebol viu o caso de maneira diferente e considerou mais um episódio inconveniente do goleiro. Na verdade, um novo ato de indisciplina, já que entende que o jogador só deveria ter ido na parte da tarde.
Versões conflitantes
Para Diego Alves, a confusão começou após a notícia de que ficaria no banco. O jogador seguiu para o treino e depois conversou com Dorival. Externou sua chateação e desconforto – e teria manifestado, segundo sua versão, que não estava treinando bem. Por isso, preferia se preparar melhor e ficar fora da viagem para o jogo com o Paraná.
Dorival, por sua vez, teria tentado dissuadir o jogador de qualquer ideia diferente de não seguir com o grupo - lembrando a crise que tal atitude poderia causar. O treinador pôs panos quentes na coletiva de imprensa após o jogo em Curitiba.
A situação está sendo trabalhada internamente com tranquilidade. Nada que se torne mais importante do que a entidade, do que os interesses da nossa equipe. A preocupação é com hoje. O Diego é um grande profissional, nada contra ele. Diego retornou de lesão um pouco séria, fez poucos períodos de treinamento, mas, independentemente disso, quem jogaria seria o Cesar. Quando o posicionei, ele fez a solicitação. E a diretoria está conversando com ele com tranquilidade. Ele vai ser respeitado. É tudo questão de tempo - afirmou Dorival, na ocasião.
A interpretação dos dois lados é distinta: Diego Alves queria ser preservado e não quis interferir no andamento do grupo para uns; para outros, principalmente para a diretoria, era nada menos que um ato de indisciplina pedir para não viajar. O ruído acendeu o pavio do conflito que detonou a crise.
Na última terça-feira, diante dos companheiros de time e sem comissão técnica em reunião à portas fechadas no vestiário do Ninho do Urubu, Diego Alves deu sua versão de todo caso - de que não se recusou a viajar -, agradeceu aos jogadores pela compreensão e por não tomarem partido de lado algum.
Na reunião de quarta, Dorival confrontou a versão. Diego Alves pediu a presença do diretor executivo, Carlos Noval, com o objetivo de apontar quem estava com a verdade. O treinador relutou, e o goleiro tratou a atitude como prova de que sua explicação seria a correta. Diante da insistência, o dirigente chegou ao local e respaldou Dorival.
Os ânimos ficaram exaltados, com atitudes ríspidas por parte do goleiro. Os jogadores, atônitos, ficaram desconfortáveis e tiveram que se meter para que o bate-boca não tomasse maiores proporções.
Diante do desconforto, Dorival encerrou o encontro no CT. Quem estava presente no momento resume a cena como “constrangedora” para todos.
Silêncio forçado das partes
O silêncio do vice-presidente de futebol do Flamengo, Ricardo Lomba, e do diretor Carlos Noval é forçado. A dupla, que tinha apreço pelo goleiro, está extremamente incomodada já que, diante da proporção do problema, ficou impossível puxar a rédeas para que o foco seja somente no campo.
A orientação do jurídico do Flamengo é para que não se pronunciem para evitar declarações fortes que possam servir de contra-ataque por parte de representantes do jogador.
O goleiro se mantém calado, também como parte da estratégia. Mas está extremamente desconfortável com toda polêmica e em intenso debate com seus representantes para saber os próximos passos.
Cada parte na sua trincheira, calada, incomodada, revirando contratos, traçando estratégias para não dar brechas jurídicas. Uma relação azeda que virou um jogo de paciência, um xadrez que a jogada errada pode levar ao xeque-mate jurídico.
Programação sem constrangimento e 'zap'
Diego Alves está em recuperação de leve entorse no joelho direito. O início da fase de transição para o campo está previsto para este sábado, quando o time treina pela manhã e depois segue para capital paulista, onde enfrenta o São Paulo, às 17h (de Brasília), domingo.
O goleiro será comunicado sobre atividades e outros temas ligados aos seus compromissos profissionais pelo aplicativo WhatsApp e, se necessário, também por e-mail - comprovantes em caso de descumprimento de alguma determinação.
A ideia é que Diego Alves trabalhe no contraturno do elenco principal, mas o processo será conduzido de forma natural, deixando claro que não há um ''afastamento'', com o intuito de não gerar constrangimento para o atleta, já que o goleiro não atua mais com Dorival Junior.
Qualquer movimentação em falso por parte do clube poderia gerar, segundo entendimento interno, reclamação de assédio moral no trabalho, quando um funcionário passa por “situações humilhantes e constrangedoras, repetitivas e prolongadas durante a jornada de trabalho e no exercício de suas funções" - entre outras definições.
O contrato do jogador com o Flamengo vai até 31 de dezembro de 2020.