Globo Esporte/LD
ImprimirApós a inesperada vitória na segunda corrida da temporada, o GP da Malásia, em março, Sebastian Vettel retornou ao papel de coadjuvante, acompanhando de forma quase resignada o domínio das Mercedes de Lewis Hamilton e Nico Rosberg. Mas o alemão estava apenas esperando uma nova chance de voltar a exercer o protagonismo da categoria. E, neste domingo, a oportunidade apareceu logo na largada. Após assumir a ponta no início da prova, desbancando as Flechas de Prata, Vettel tratou de abrir distância. A vantagem foi fundamental para defender a vitória diante de todas as reviravoltas provocadas pela entrada do safety car e por diversos incidentes que marcaram uma das corridas mais movimentadas dos últimos tempos. Com seu segundo triunfo pelo time de Maranello, o alemão soma agora 41 vitórias na carreira, igualando a marca do tricampeão Ayrton Senna. A conquista foi dedicada a Jules Bianchi, que morreu no último dia 17, e foi homenageado antes da corrida.
Beneficiado diretamente pelo incidente envolvendo o companheiro Daniel Ricciardo e Rosberg, nas voltas finais, o jovem russo Daniil Kvyat terminou em segundo, alcançando o primeiro pódio de sua carreira. Após ter sua asa dianteira danificada no toque que custou o segundo lugar de Rosberg, o australiano conseguiu chegar em terceiro. Vencedor da etapa húngara no ano passado, o piloto da RBR subiu ao pódio pela primeira vez nesta temporada. Esta foi também a primeira vez, desde o GP do Brasil de 2013, que nenhum dos pilotos da Mercedes marcou presença na cerimônia de entrega dos troféus.
Dono de quatro vitórias em Hungaroring, Hamilton chegou com status de franco favorito à vitória, após ter liderado os três treinos livres e cravado a pole position em um treino classificatório perfeito, com o melhor tempo em todas as parciais. Após vacilar na largada, o inglês voltou a apresentar uma instabilidade emocional que não apresentava há tempos, saiu da pista e perdeu ainda mais posições. A chance de vencer pela sexta vez nesta temporada acabou escapando, mas as circunstâncias da corrida, principalmente com o incidente envolvendo Ricciardo e Rosberg nas voltas finais, acabaram por beneficiar o bicampeão mundial, que ampliou sua vantagem na liderança de 17 para 21 pontos.
O dia foi difícil para os pilotos brasileiros. Felipe Massa largou apenas em oitavo, e ainda precisou cumprir uma punição de 5s nos boxes por ter se posicionado de maneira errada no grid na primeira tentativa de largada, que foi abortada. A falha do veterano da Williams provocou a redução na duração da corrida, de 70 para 69 voltas. O brasileiro acabou adotando uma estratégia complicada, com muitas paradas nos boxes, e terminou apenas em 12º. Felipe Nasr, aproveitando os diversos abandonos de seus colegas, ficou muito perto da zona de pontuação, ao chegar em 11º, mas foi o companheiro da Sauber, Marcus Ericsson, que teve mais sorte e ficou exatamente em 10º, garantindo 1 ponto para a equipe suíça.
A Fórmula 1 faz agora a tradicional parada para as férias do meio de ano e retorna no dia 23 de agosto, com o GP da Bélgica, no icônico circuito de Spa-Francorchamps.
A corrida
Nas entrevistas realizadas antes da corrida, os pilotos da Ferrari apontavam a RBR e a Williams como principais adversárias deste domingo. Mas a aparente falta de confiança não impediu que Sebastian Vettel e Kimi Raikkonen dessem o bote na Mercedes logo na largada, tomando as posições do pole Lewis Hamilton e do segundo colocado, Nico Rosberg. A partir de então, o alemão, novo líder da corrida, e o companheiro finlandês passaram a abrir distância.
Hamilton caiu para quarto, atrás do companheiro Rosberg, e não conseguiu processar bem a reviravolta na largada. Ao tentar atacar o alemão, o bicampeão errou, saiu da pista e voltou apenas em 10º, atrás do brasileiro Felipe Massa, da Williams. Nico se estabilizou na terceira posição, enquanto Vettel e Raikkonen ditavam o ritmo na liderança do pelotão. Valtteri Bottas era o quarto, e Felipe Nasr apenas o 18º.
Hamilton não poupou ataques a Felipe Massa, mas o brasileiro não facilitou a ultrapassagem do inglês. Os dois chegaram a encostar as rodas traseiras, até que o piloto da Mercedes finalmente conseguiu superar o colega da Williams, na décima volta. Massa fez sua primeira parada cinco voltas depois, quando cumpriu 5s de punição por ter se posicionado errado no grid durante a primeira tentativa de largada, que precisou ser abortada. Por isso, o brasileiro voltou para a pista apenas em 16º.
Aproveitando a pista esvaziada quando boa parte dos pilotos faziam suas primeiras paradas, Hamilton tratou de acelerar a Mercedes e tentar descontar o prejuízo da mal sucedida largada. O inglês já estava em quinto quando foi para os boxes, e conseguiu manter a posição ao retornar à pista. Quando chegou a vez de Vettel fazer o pit stop, Raikkonen assumiu a liderança apenas provisoriamente, até o alemão reaver a ponta.
Na 20ª volta, Maldonado dividiu a pista com o mexicano Sergio Pérez e não economizou na ousadia, encostando no carro do adversário e o mandando para fora da pista. Na volta 26, Hamilton se aproximou da RBR de Daniel Ricciardo, mas só conseguiu fazer a ultrapassagem para assumir a quarta posição três voltas depois. Enquanto isso, Nasr, em 17º, passou a atacar o xará Massa. O brasileiro da Sauber não precisou concretizar a manobra, porque o compatriota da Williams preferiu retornar aos boxes para trocar os pneus médios por macios.
Após superar Ricciardo, o alvo de Hamilton passou a ser o companheiro Nico Rosberg. Mas a diferença entre os dois ainda era de 10s. A distância caiu significativamente para 6s até a volta 41. A esta altura, Vettel já estava 13s à frente do companheiro Raikkonen, despontando de forma confortável como piloto em melhores condições de vencer.
Na volta 43, a asa dianteira de Hulkenberg quebrou sozinha, de forma repentina. O alemão da Force India perdeu o controle do carro e passou reto na curva, batendo de frente na barreira de proteção. O safety car virtual foi acionado, e os outros pilotos aproveitaram para ir aos boxes. Hamilton e Rosberg fizeram o segundo pit stop praticamente em sequência, mas o inglês não teve a mesma sorte do companheiro, amargando mais uma parada demorada (5s1), como já havia ocorrido da primeira vez. Os pilotos da Mercedes apostaram em pneus médios, na tentativa de conter o desgaste nas voltas restantes da corrida.
A direção de prova optou por acionar o safety car real para retirar os detritos do acidente de Hulkenberg. O episódio deu nova dinâmica à disputa, com Hamilton e Rosberg em condições de atacar as Ferrari. A situação era especialmente complicada para Raikkonen, com problema no sistema de recuperação de energia do motor, que tirava cerca de 3s por volta de seu rendimento. Na relargada, na volta 49, Nico não perdeu tempo e tomou a segunda posição de Kimi. Ricciardo tentou passou Hamilton e foi acertado pelo inglês. Mas o australiano não desistiu e deu início a uma acirrada disputa com o inglês, que teve parte de sua asa dianteira quebrada e foi finalmente superado, caindo para sexto.
Sem potência, Raikkonen cedeu a terceira posição para Ricciardo, que tinha Rosberg logo à frente. O alemão da Mercedes, por sua vez, passou a perseguir o líder Vettel, pouco mais de 1s à frente. Enquanto isso, Hamilton foi obrigado a voltar aos boxes para colocar uma nova asa e voltou apenas em 12º. O inglês foi considerado culpado pelo toque em Ricciardo, tendo que pagar um drive through e vendo sua situação se complicar ainda mais. Massa, em 10º, foi mais uma vez aos boxes e caiu para 14º, enquanto Raikkonen abandonou de vez a prova.
Pressionado por Rosberg, Vettel manteve a distância na casa de 1s. Sem conseguir alcançar o alemão da Ferrari, Nico passou a ser atacado por Ricciardo, em terceiro. Na volta 64, o australiano se excedeu na tentativa de ultrapassar a Mercedes e acertou o carro do adversário, provocando um furo de pneu de Nico. Após o momento crucial da corrida, o piloto da RBR voltou aos boxes para colocar uma nova asa dianteira e retornar à pista. Rosberg fez o mesmo, trocou o pneu avariado e voltou em 10º, atrás de Marcus Ericsson, da Sauber.
Após todas as movimentações provocadas pelo incidente entre Rosberg e Ricciardo, Vettel voltou a disparar na liderança. A presença inesperada de Daniil Kvyat, da RBR, na segunda posição dava mostras de que o desfecho da prova seria uma dos mais inesperados desta temporada. Sem ameaças, Vettel acelerou de forma segura rumo à segunda vitória com o uniforme da Ferrari. Kvyat foi punido por 10s após sair da pista e obter vantagem, mas já tinha vantagem suficiente para garantir o primeiro pódio de sua carreira, em segundo. Ricciardo saiu praticamente ileso do toque com Rosberg e confirmou a terceira posição, seguido pelo caçula da F-1, Max Verstappen. Na posição seguinte, mais um resultado inesperado: Fernando Alonso fez a melhor corrida da nova era McLaren-Honda e garantiu a quinta posição.
Hamilton se recuperou da punição sofrida pelo toque em Ricciardo e foi o sexto, garantindo importantes oito pontos para ampliar sua liderança no ranking. Sem tempo de fazer uma prova de recuperação após colocar um novo pneu, Rosberg precisou se contentar com o oitavo lugar, atrás da Lotus de Romain Grosjean. Jenson Button e Ericsson completaram o top 10, respectivamente. Felipe Nasr ficou perto de pontar, em 11º, e Massa cruzou a linha de chegada em 12º, logo à frente do companheiro Valtteri Bottas. Maldonado foi o 14º, e Roberto Merhi, da Manor, o 15. Will Stevens (Manor), Carlos Sainz (STR), Raikkonen, Perez e Hulkenberg não completaram.