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22/08/2017 14:25:00
A briga pelo legado de Campos
Três anos após desastre aéreo que matou o presidenciável Eduardo Campos, integrantes da família disputam sua herança política em Pernambuco

IstoÉ/PCS

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Há três anos, a morte do ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos, à época candidato a presidente da República, deixou um vácuo na família Campos e também em seu partido, o PSB.

Hoje, enquanto a sigla sofre com a ausência de uma liderança com capilaridade nacional, a família disputa o poder de uma dinastia que surgiu com Miguel Arraes (1916-2005), avô de Eduardo, ex-prefeito de Recife e governador de Pernambuco por três vezes.

Em 2018, tio e sobrinho concorrerão a uma cadeira na Câmara dos Deputados, ao passo que no governo estadual a prima de Eduardo, hoje filiada ao PT, pode enfrentar o partido da família, o PSB. A questão é que, mesmo diante de tantos aspirantes a sucedê-lo, nenhum nome parece estar à altura de Eduardo — pelo menos por enquanto.

João Henrique Campos, um dos cinco filhos de Eduardo, está sendo treinado para vir a ser seu sucessor desde sua morte. Com 23 anos, o jovem recém formou-se em engenharia civil e assumiu, em fevereiro deste ano, o cargo de chefe de gabinete do atual governador de Pernambuco, Paulo Câmara (PSB). Deve concorrer em 2018 ao cargo de deputado federal. “Ele tende a obter uma boa votação para deputado federal e poderá, quem sabe no futuro, vir a tentar cargos majoritários”, afirma Adriano Oliveira, cientista político e professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).

Enfrentará a concorrência do tio, Antônio Campos, irmão de Eduardo que saiu do PSB rumo ao Podemos disparando críticas à família e ao partido, após perder a eleição para prefeito de Olinda. À época ele queixou-se da ausência da cunhada, a viúva de Eduardo, Renata Campos, em seu palanque, e a acusou de temer que ele fizesse “sombra” a seu filho João Henrique. “Ela jamais gostou dos Campos, inclusive do meu pai, mas a perdoo e desejo muita paz a ela, que comanda muito a política do PSB no Estado, sem querer aparecer ostensivamente”, afirmou Antônio, que nega querer disputar o legado do irmão. “Há espaço para todos”.

A viúva discreta

De perfil discreto, Renata era a pessoa que mais influenciava Eduardo. Todas as decisões do presidenciável passavam pelo crivo da economista, também filiada ao PSB. Hoje, a viúva procura não se envolver diretamente em disputas, mas continua exercendo papel central nos bastidores do partido. “Há especulações de que ela também estaria interessada em um cargo proporcional, mas ela é discreta, só aparece em eventos públicos juntos aos filhos”, diz o cientista político Michel Zaidan, autor de um livro sobre os anos eduardianos em Pernambuco. “Ela não tem cargo mas é como se tivesse. Não se pode subestimar a importância dela e da mãe de Eduardo, Ana Arraes, no PSB.” Nas últimas semanas, surgiram especulações de que Ana, que foi deputada federal antes de ser ministra do Tribunal de Contas da União, estaria prestes a voltar à vida política para concorrer a uma candidatura majoritária ou, num voo mais ambicioso, a uma vaga de vice numa chapa presidencial.

No ano passado outro nome da família Campos deixou o PSB. Foi Marília Arraes, prima de Eduardo Campos, que filiou-se ao PT. A vereadora de Recife já havia rompido com o partido em 2014, quando anunciou que apoiaria o petebista Armando Monteiro, adversário do governador Paulo Câmara na disputa ao governo de Pernambuco. Em sua carta de desfiliação, a vereadora criticou o partido e afirmou que “atitudes bajulatórias, principalmente para com a família Campos e os que gravitam em torno dela, tornaram-se praxe entre os integrantes do PSB”.

Marília pode vir a ser a candidata ao governo do Estado em 2018. Após duas eleições sem lançar candidatos, o PT tem defendido a ideia de ter um nome próprio para a disputa. Apesar da grande quantidade de nomes que orbitam em torno da família Campos, parece não haver ainda um sucessor pronto a ocupar a liderança exercida por Eduardo. “Ele tinha o controle do partido nacionalmente. Agora há uma concorrência para presidir a legenda”, constata Zaidan. Resta saber se o “eduardismo” será capaz de sobreviver ao tempo — e às disputas de poder.

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