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05/08/2023 09:28:00
Caixa-preta: desde 2021, 72% das perícias de acidentes aéreos não foram concluídas no Brasil

G1/LD

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O Brasil registrou 386 acidentes aéreos entre janeiro de 2021 e julho de 2023, de acordo com dados divulgados pelo Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa), por meio do Sistema de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Sipaer).

Desse total, 72% ainda não tiveram as perícias finalizadas pelo órgão coordenado pela Força Aérea Brasileira (FAB) — o índice representa 278 acidentes. O g1 teve acesso ao relatório por meio da Lei de Acesso à Informação (LAI).

Em uma série de reportagens a partir deste sábado (5), até segunda-feira (7), vamos mostrar o número de acidentes aéreos registrados; como funciona a investigação, a importância dos relatórios para a segurança do transporte aéreo e como eles são usados para estudos; e o relato de famílias de vítimas sobre a espera por respostas e como isso impacta no luto.

De janeiro até julho deste ano foram registrados 107 acidentes aéreos no país, em 102 deles as investigações não foram concluídas; No ano passado, dos 137 acidentes registrados, 114 perícias não foram finalizadas;

Em 2021, o Brasil registrou 142 casos e 62 deles continuam ativos — ou seja, em investigação — por parte do Cenipa.

O g1 questionou o Cenipa sobre o número de pessoas que traballham nas investigações de acidentes aéreos no país, e também sobre os motivos do número de casos sem conclusão. No entanto, até a publicação das reportagens não obteve resposta.

O estado que mais registrou acidentes nos últimos três anos foi São Paulo, com 71 casos. Em seguida, aparece Mato Grosso, com 59 ocorrências, e Minas Gerais, com 40 acidentes (relembre ao final da reportagem os casos mais marcantes de 2023).

O painel do Cenipa que traz informações sobre os acidentes mostra que entre 2021 e 2023, 136 pessoas morreram em desastres aéreos no país.

Investigação

De acordo com o portal do Cenipa, as investigações de acidentes aéreos ocorrem para prevenir novos registros e identificar o que provocou a ocorrência. Dessa forma, seria possível formular melhores recomendações de segurança.

De acordo com os dados do Cenipa, os acidentes são mais comuns entre aviões. Em dois anos e meio, 291 aeronaves desse tipo se envolveram em ocorrências no Brasil. No mesmo período, entre 2021 e 2023, 43 helicópteros passaram por algum tipo de intercorrência.

O órgão da FAB especifica ainda os tipos mais comuns de ocorrência:

Em primeiro lugar está a falha de motor em voo

Em segundo lugar a perda de controle da aeronave durante a viagem

A excursão em pista — quando uma aeronave sai da superfície da pista do aeroporto durante o pouso ou decolagem — completa o ranking de causas típicas de acidentes no país, segundo o Cenipa.

'Procurar agulha no palheiro'

O especialista em engenharia aeronáutica da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Rogério Pingo Ribeiro diz que vários fatores impactam no prazo para a finalização de um relatório sobre um acidente.

"Há a complexidade de uma aeronave moderna. Além disso, há casos em que a máquina é muito destruída. Então, é como procurar uma agulha no palheiro", diz ele.

O especialista afirma ainda que, em alguns casos, as evidências são mínimas. Além disso, o engenheiro diz que alguns itens que auxiliam na conclusão de uma perícia são os gravadores de cabine ou o de dados de voo, conhecidos como caixas-pretas.

"É de uma ajuda grandiosa para a engenharia. Esse equipamento é obrigatório para aviões de grande porte e comerciais, porém, não são em outros casos", aponta.

O diretor presidente do Sindicato Nacional dos Aeronautas (SNA), o piloto Henrique Hacklaender, explica que não existe tempo médio para a conclusão de uma perícia.

"O objetivo principal é encontrar uma conclusão para que não ocorram novos acidentes", diz o piloto.

Segundo Henrique, que é formado em ciências aeronáuticas pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), até o local onde ocorre o acidente deve ser levado em consideração no tempo para conclusão de um relatório. O piloto explica que isso ocorre porque um avião pode se acidentar em lugares de difícil acesso, como em uma mata fechada ou no mar.

Acidentes aéreos que marcaram 2023 até julho

Avião cai em floresta entre Roraima e Mato Grosso

O piloto Garon Maia e seu filho, Francisco Veronezi Maia, de 11 anos, morreram após o avião em que estavam cair em uma área de mata fechada na divisa entre Rondônia e Mato Grosso, no dia 30 de julho.

Registros do site Flightradar24 indicam que o avião perdeu sinal cerca de 25 quilômetros após a decolagem, o equivalente a oito minutos de voo. O Cenipa iniciou as investigações na terça-feira (1º). Como o bimotor não era obrigado a ter caixa-preta, o trabalho deve ter um tempo prolongado.

Avião cai na Serra do Mar, no Paraná

Três pessoas morreram após a aeronave em que estavam cair na região da Serra do Mar, no Paraná, em julho deste ano. O avião decolou do noroeste do estado, mas não mandou mais sinal cerca de 10 minutos antes do horário previsto para o pouso.

Estavam na aeronave Heitor Guilherme Genowei Junior, 42 anos, Felipe Furquim, 35 anos, ambos servidores da Casa Civil do Governo do Paraná e o piloto Jonas Borges Julião, de 37 anos. No percurso, o bimotor não teria acionado o ELT (sinal de localização de emergência).

Aeronave cai sobre casas em Goiânia

Um avião fabricado em 1993 caiu em cima de casas em Goiânia e deixou dois irmãos mortos, em março deste ano. Leonardo Rodrigues da Rocha e Bruno Rodrigues da Rocha foram socorridos pelo Corpo de Bombeiros, mas não resistiram aos ferimentos e morreram no hospital.

A aeronave saiu de Taiobeiras, no norte de Minas Gerais, e tinham Goiânia como destino final. O Cenipa iniciou as investigações. Assim como o avião do acidente em Rondônia e Mato Grosso, não há caixa-preta nesse caso.

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