Segunda-Feira, 23 de Dezembro de 2024
Geral
03/11/2023 09:52:00
Caso Sophia: 'Prazer em torturar essa criança', diz advogada sobre troca de mensagens entre réus

G1MS/LD

Imprimir

Após o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) ter acesso ao celular de Christian Campoçano Leitheim, e recuperar troca de mensagens dele com Stéphanie de Jesus, foi possível evidenciar as agressões que a menina Sophia Jesus O'campo sofria antes de falecer, aos 2 anos. Para a presidente da Comissão de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente (CDCA), da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-MS), Maria Isabela Saldanha, as provas evidenciam que a menina foi vítima de tortura.

O g1 teve acesso ao documento que revela sessões de torturas e até ameaças feitas pelo padrasto sobre "quebrar o pescoço" da menina e dar "chicotadas cabulosas".

A advogada Maria Isabel afirmou que as mensagens mostram que, no caso da Sophia, não pode ser aplicado a tese de "excesso de disciplina".

"Porque você percebe que não há uma intenção de disciplinar, há quase que um prazer em torturar essa criança. È engraçado que quando a gente fala de bater em um cachorrinho, é violência contra o animal, se bater em uma mulher, é violência contra a mulher, mas bater na criança, é disciplina. Esse pensamento tem que cair. E no caso da Sophia, é tortura, porque você percebe que é reiterada, existe uma razão torpe, fútil para bater", defendeu.

A maioria das conversar foram retiradas do telefone de Stéphanie. A primeira mensagem listada é de 2 de dezembro de 2021, quando Sophia apanha por “tirar” os brinquedos da mão do irmão.

  • “Ela começou com sem graça de querer pegar tudo na mão dele aí ele foi e entregou, aí tipo, ela começou a bater nele aí ele foi e falou para mim, aí eu fui e briguei com ela. Ai virei para o lado um pouquinho ela foi e bateu nele de novo. Aí eu catei fui e falei com ela de novo, aí eu tava com a caneta da mesa digitalizadora na mão né, aí bem na hora que ela foi bater nele aí eu peguei eu catei e bati bem no dedo dela, aí ela já entortou a boca, eu falei se você chorasse você apanha de novo, ficou quieto, aí não deu mais”.

O tempo passa e em 26 de março de 2022 a mãe demostra mais uma vez o lado violento, dessa vez com a filha, diz que vai “tacar Sophia na parede” e recebe instruções assustadoras de como fazer a pequena parar de chorar.

– “Desde a hora que você saiu ela não para de chorar. Já bati e não adiantou nada”

– “Porque você não pega o celular e fala que vai ligar para mim, sei lá, vai tentando assustar ela com alguma coisa”, diz Christian.

– “Eu estou tentando aqui, BO a parada, mas, mesmo assim, minha cabeça está explodindo mais que tava”

– “Da uns tapão nela, ai você vira a cara dela pro colchão e fica segurando porque ai ela para de chorar, é sério, parece até tortura mais não é, porque ai ela fica sem ar e para de chorar, entendeu”.

Ao g1, Maria Isabela também citou os relatórios do Conselho Tutelar, presentes no inquérito do caso. De acordo com a advogada, as conselheiras registraram que orientaram a mãe de Sophia, Stéphanie, a não agredir mais a criança.

"Ou seja, elas sabiam da agressão. Por que não retiraram a menina do lar? Porque nós temos essa falta de capacitação. O profissional não consegue distinguir uma mãe que está sendo dissimulada para encobrir uma agressão, de uma mãe que realmente passou por um problema de estresse, emocional", completou.

Para a presidente da CDCA, a história de Sophia foi marcada por falhas desde o início. As idas da menina para unidades de saúde eram frequentes. O prontuário médico consta que ela passou por 30 atendimentos médicos em unidades de saúde da capital, uma delas por fraturar a tíbia.

Igor de Andrade, companheiro do pai da menina, Jean O'campo, relatou ao g1 que eles tentaram conseguir a guarda da criança, mas um dos impedimentos seria a homofobia por parte da mãe da vítima.

A advogada Maria Isabel também lembrou de outra parte do inquérito, relatada por Igor. Quando Jean e Igor chegaram a unidade de saúde que Sophia foi levada sem vida, as enfermeiras a mostraram de fralda, mesmo já estando sem vida. Jean questionou a presença da fralda, e a profissional explicou que ela estava muito machucada.

"O caso está aberto no TJ (Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul), ele não está mais em segredo de Justiça. Então quem quiser consultar, consulte. Tire suas conclusões. São tantas falhas, desde o começo, do Conselho Tutelar, nos postos de saúde. Enfim, eu espero que realmente haja uma resolução justa para esse caso. E que as pessoas aprendam a não se omitir em caso de agressão contra criança. Que tenham um pouco do sentimento de empatia, que olhem para a criança, como diz o pai Jean. Que não olhe para o casal X, Y, Z. Que olhe para a criança", pontuou a advogada.

O caso

Sophia Jesus Ocampos, de 2 anos, morreu no dia 26 de janeiro de 2023. Ela foi levada já sem vida pela mãe à UPA do Bairro Coronel Antonino. Segundo o médico legista, o óbito havia ocorrido cerca de sete horas antes.

Em depoimento, a mãe confirmou que sabia que a menina estava morta quando procurou a unidade de saúde. O laudo de necropsia do corpo da menina, emitido pelo Instituto de Medicina e Odontologia Legal (IMOL), apontou que a causa da morte foi por traumatismo na coluna cervical e confirmou que Sophia foi estuprada.

A declaração de óbito aponta que a causa da morte foi por um trauma na coluna cervical, que evoluiu para o acúmulo de sangue entre o pulmão e a parede torácica. O documento ainda diz que a menina sofreu "violência sexual não recente".

Igor de Andrade, companheiro do pai da menina, relatou ao g1 que eles tentaram conseguir a guarda da criança, mas um dos impedimentos seria a homofobia por parte da mãe da vítima. Na casa onde a criança morava, bitucas e caixas de cigarro foram estavam espalhadas na varanda. Havia também garrafas de bebidas alcoólicas.

COMENTÁRIO(S)
Últimas notícias