Correio do Estado/LD
ImprimirEm Mato Grosso do Sul, 469 pessoas esperam na fila por um transplante de órgãos, segundo dados da Central Estadual de Transplantes (CET-MS).
A informação foi divulgada nesta semana, no dia em que se comemora o Dia Nacional da Doação de Órgãos no Brasil. Em um ano, o número teve uma alta de quase 10%.
No levantamento deste ano, 313 ativos aguardam por um transplante de córnea, 152 de rins e quatro de coração.
Ao todo, 173 procedimentos foram realizados no Hospital Regional de Mato Grosso do Sul e na Santa Casa de Campo Grande, que recentemente suspendeu transplantes por 29 dias após um impasse contratual entre o único laboratório credenciado a fazer exames de biologia molecular, a Secretaria Estadual de Saúde (SES) e a Secretaria Municipal de Saúde (Sesau).
Vale ressaltar que em 2021, durante a pandemia, a fila regional de transplantes de órgãos registrou 427 pacientes, sendo cinco corações, 275 córneas e 147 rins.
De acordo com Claire Miozzo, coordenadora da CET-MS, as paralisações não acabaram com as doações em Mato Grosso do Sul, ela justifica que alguns órgãos coletados foram distribuídos para pacientes elegíveis em outros estados e acredita que a retomada das atividades nos principais hospitais já estão em andamento.
Claire salienta o incentivo à doação de órgãos em Mato Grosso do Sul, que registra 74% de recusas familiares.
“Um único doador elegível pode ajudar a salvar até sete vidas. E é importante conversar sobre o tema, pois é necessário haver o consentimento familiar, preferencialmente em vida. Pela legislação brasileira, não há como garantir a vontade do doador. O diálogo em casa é a base para estender a vida de outra pessoa”, afirma Miozzo.
DIFICULDADES
Para a médica nefrologista Rafaella Grandinete Campanholo, o Estado tem densidade demográfica pequena, o que dificulta a equivalência entre a lista de espera e a realização dos procedimentos, além de políticas públicas adequadas para a população.
“Não é só apenas o ato da doação. Precisamos levar em conta todo aparato disponibilizado em Mato Grosso do Sul, desde leitos, acompanhamento periódico, medicação e exames dos pacientes. Uma mão precisa lavar a outra”, relata a nefrologista.
Segundo o presidente da Associação Doentes Renais Crônicos (Recromasul), Edson Figueiredo, muitas das famílias que buscam pelo apoio da associação filantrópica não podem custear exames e medicamentos de doenças crônicas.
“É um descaso muito grande com o núcleo familiar do paciente, onde já lidamos com escassez de remédios necessários para o tratamento. Nós, como um coletivo, precisamos realizar eventos, vendas e bingos para ajudar com os custos de quem deveria ser ajudado automaticamente pelo sistema”, criticou.
NA FILA
Alexandra Victória, 23 anos, é paciente renal e realizou o transplante em 2019. A jovem destaca que teve diagnóstico de insuficiência renal aos 13 anos e começou tratamento imediatamente.
“Sempre tive problemas com a imunidade, mas uma noite fui parar na emergência após uma longa noite de dor. Achei que era dengue. O médico solicitou que fizesse exames, uma sessão de hemodiálise e só a partir desse momento comecei a sentir alívio. Desde então, entrei na fila por um novo rim e finalmente consegui”, conta a jovem.
Cláudia Ramos, mãe de Alexandra, relata a experiência da filha como um recomeço.
“Fiquei assustada com o diagnóstico, porque ela era muito nova e minha família nunca lidou com um paciente renal crônico. Nós não podíamos viajar, ela precisava de cuidados 24 horas por dia. Isso mudou com o transplante. Hoje, Alexandra é uma mulher normal e com uma vida comum”, destaca.
No panorama internacional, o Brasil é o terceiro país que mais realiza transplantes, atrás dos EUA e da China, de acordo com o Registro Brasileiro de Transplantes da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO).