Agência Brasil/LD
ImprimirNa maior reserva indígena do Brasil, meninos e meninas Yanomami têm sido resgatadas tão desnutridas que chegam a pesar duas vezes menos do que deveriam, o que revela o drama do cenário. O g1 teve acesso a dados médicos de quatro crianças resgatadas. Uma delas, de 4 anos, tem 9,9 kg - o equivalente a um bebê de 8 meses, quando o ideal seria 16 kg para a idade dela.
Ela está internada desde terça-feira (24) no Hospital da Criança Santo Antônio, único hospital infantil de Roraima. Outro registro é de uma criança de um ano e quatro meses. Ela foi resgatada com 7 kg, são 3kg a menos que o peso ideal para idade.
O peso atual corresponde também ao de um bebê de 8 meses. A análise é da pediatra Isabela Balalai, membro da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP).
"Com esse nível de desnutrição nos primeiros anos de vida há alto risco de impacto no desenvolvimento cerebral e imunológico. Além disso, atraso cognitivo, déficit de crescimento, alterações psicológicas e atrasos motores". "A criança desnutrida fica imunocomprometida. Ou seja, o sistema imune não dá conta de fazer a proteção e qualquer doença pode levar a óbito. Há alto risco de doenças infecciosas", completou.
Não há hospitais dentro da Terra Yanomami. O posto de Surucucu funciona como uma uma unidade referência na reserva e é para lá que, inicialmente, os casos que precisam de maior atenção são levados. Depois, são removidos de avião até Boa Vista, numa viagem que dura cerca de 1h30.
Na capital, as crianças são internadas no Hospital Santo Antônio, única unidade infantil de alta e média complexidade, administrado pela prefeitura. Além do corpo visivelmente fragilizado pela falta de peso, com as costelas aparentes, outros sinais também são observados pelos médicos.
“Elas são pequenas, emagrecidas, caquéticas, com o cabelo já mais ralo, a pele descamando. Esses são os sinais de que elas estão desnutridas há bastante tempo”, diz o pediatra Eugênio Patrício, responsável pelo setor de cuidados prolongados, onde os pacientes precisam de tratamentos com diagnósticos considerados complexos.
O g1 também teve acesso a dados de outras duas crianças resgatadas, de 1 ano e 8 meses, ambas com peso limite para suas idades. Segundo os registros, a criança de um ano tinha 10,5 kg e a bebê 7,2 kg. No entanto, as duas foram resgatadas em avançado estado de desidratação.
Nesta quinta-feira (26), o número de meninos e meninas Yanomami, grande parte com desnutrição, chegou a 53 na unidade. As internações correspondem a 82,8 % de todos os indígenas atendidos na unidade.
Desse total, há sete crianças na UTI - dessas, três estão intubadas no Hospital da Criança Santo Antônio, administrado pela prefeitura da capital. São levadas para a unidade crianças doentes que agravaram o quadro de saúde e não foi mais possível tratá-las nas comunidades conde vivem.
Em todos os quadros, as crianças Yanomami têm baixo peso para a idade, agravado por doenças como malária, diarreia, verminose. Associadas, essas doenças tornam o quadro clínico ainda mais complexo.
Maior reserva indígena do país, a Terra Yanomami está no centro do debate nacional após dezenas de denúncias revelarem o caos sanitário na saúde. São relatos e imagens que expõem indígenas extremamente desnutridos e com malária, abandonados pelo governo.
Em dezembro do ano passado, o g1 e a Globo News mostraram imagens de crianças Yanomami sofrendo com desnutrição grave na Terra Indígena. As fotos, divulgadas pela associação Urihi Associação Yanomami, revelaram meninos e meninas extremamente magros e com costelas aparentes.
Em 2021, o g1 e o Fantástico já tinham registrado cenas inéditas e exclusivas de crianças extremamente magras, com quadros aparentes de desnutrição e de verminose, além de dezenas de indígenas doentes com sintomas de malária em comunidades Yanomami.
O atual governo federal estima que ao menos 570 crianças morreram na região nos últimos quatro anos, vítimas de desnutrição, malária, pneumonia e contaminação por mercúrio. Em 2022, foram 99 mortes de crianças.