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Imprimir“Vamos pôr a foto da minha mãe aqui?”. O porta-retrato foi colocado na mesa de estudo improvisada na sala de casa, em Campo Grande. É assim que Bruno, de 10 anos, acompanha as aulas online, olhando para a jovem sorridente e de braços abertos de frente ao emblema do time do São Paulo. Sem memórias próprias, foi a forma que encontrou para guardar a imagem de Eliza Samúdio, assassinada há 10 anos, quando ele tinha apenas quatro meses de idade.
A história de Bruninho, como é chamado pela família, é mais conhecida pelo Brasil do que por ele mesmo. O menino é fruto de conturbado relacionamento entre Eliza e o ex-goleiro do Flamengo Bruno Fernandes de Souza, que culminou no estrangulamento dela, aos 25 anos, no dia 10 de junho de 2010. O corpo nunca foi encontrado, uma pergunta que assombra há anos a mãe de Eliza, Sônia de Fátima Moura, 55 anos e, agora, o filho da vítima.
“Sinto que é uma página que não consigo virar; volta e meia eu paro e me pergunto ‘onde está o corpo dela?’; Bruninho não tem como ir ao túmulo da mãe dele, não tem onde colocar uma rosa para ela”, disse Sônia. O menino já perguntou onde está o corpo da mãe. “Não tenho o que falar, disse que não sabia”.
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Capital Dez anos após morte, agora é o filho quem pergunta onde está o corpo de Eliza Aos 10 anos, filho de Eliza Samúdio com goleiro Bruno Fernandes mora com avó em MS e faz as perguntas que permanecem sem respostas Por Silvia Frias | 18/06/2020 07:52
Sônia e os porta-retratos com fotos de Eliza que estão próximas da mesa de estudo de Bruno (Foto/Arquivo pessoal) “Vamos pôr a foto da minha mãe aqui?”. O porta-retrato foi colocado na mesa de estudo improvisada na sala de casa, em Campo Grande. É assim que Bruno, de 10 anos, acompanha as aulas online, olhando para a jovem sorridente e de braços abertos de frente ao emblema do time do São Paulo. Sem memórias próprias, foi a forma que encontrou para guardar a imagem de Eliza Samúdio, assassinada há 10 anos, quando ele tinha apenas quatro meses de idade.
A história de Bruninho, como é chamado pela família, é mais conhecida pelo Brasil do que por ele mesmo. O menino é fruto de conturbado relacionamento entre Eliza e o ex-goleiro do Flamengo Bruno Fernandes de Souza, que culminou no estrangulamento dela, aos 25 anos, no dia 10 de junho de 2010. O corpo nunca foi encontrado, uma pergunta que assombra há anos a mãe de Eliza, Sônia de Fátima Moura, 55 anos e, agora, o filho da vítima.
Eliza, sorridente, faz pose no emblema do time que torcia (Foto/Arquivo pessoal) “Sinto que é uma página que não consigo virar; volta e meia eu paro e me pergunto ‘onde está o corpo dela?’; Bruninho não tem como ir ao túmulo da mãe dele, não tem onde colocar uma rosa para ela”, disse Sônia. O menino já perguntou onde está o corpo da mãe. “Não tenho o que falar, disse que não sabia”.
Bruninho mora com a avó materna em Mato Grosso do Sul desde julho de 2010. Ela, o marido Hernani, o filho e o neto residiam em Anhanduí e há alguns anos vieram para Campo Grande. A casa ficou um pouco mais vazia com a partida do filho Pedro, 21 anos, que se mudou há oito meses para São Paulo.
A família vive rotina alterada pela pandemia do novo coronavírus (covid-19). O menino assiste às aulas virtuais do 5º ano do Ensino Fundamental no período da manhã e à tarde, faz companhia à avó.
Há pouco mais de um ano, o menino conheceu parte da história. “Ele sabia que o pai estava preso, que a mãe tinha sido morta, ligou os fatos; foi bem direto e perguntou: ‘o responsável pela morte da minha mãe foi meu pai, né?’”. Sônia assentiu, mas não deu detalhes.
“Não tem necessidade de fazer isso com ele, a gente conversa e, quando ele quiser saber de alguma coisa, vai perguntar para mim”. Ela garante que ele nunca procurou informações na internet.
Em 2009, já grávida, Eliza registrou boletins na Polícia Civil por ameaça, seqüestro, lesão corporal e tentativa de aborto. De acordo com a denúncia judicial, em junho de 2010, quatro meses após o nascimento do filho, a modelo foi levada à força do Rio de Janeiro por Luiz Henrique Ferreira Romão,o Macarrão, amigo de Bruno, para sítio do goleiro, em Esmeraldas (MG), sendo mantida em cárcere privado. De lá, mandada para a casa do ex-policial civil Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, e esganada até a morte. O corpo teria sido esquartejado e a ocultação nunca foi esclarecida. As buscas foram encerradas em 2014.
A angústia da dúvida que sempre acompanhou a mãe, agora, também atormenta o filho de Eliza. “Às vezes ele fica perguntando ‘porque será que ele matou minha mãe?’”. Sem conhecer essa resposta, Sônia prefere não entrar no assunto.
“Ele é novo, tem que viver a infância dele, esse negócio da mãe e do pai é muito pesado para uma criança”, disse. “Eu digo a ele que, infelizmente, são perguntas que um dia vai ter que fazer para ele [Bruno]”.
Em 2013, o goleiro foi condenado a 22 anos e 3 meses de prisão por homicídio e ocultação de cadáver e pelo seqüestro e cárcere privado do bebê. Durante o processo, admitiu que Eliza estava morta, mas sempre negou participação no crime. Em julho de 2019 foi beneficiado com o regime semiaberto e teve permissão da Justiça para se mudar para Arraial do Cabo (RJ) onde treina para retornar ao futebol quando o Campeonato Carioca for retomado.
Sônia questiona como ele pode continuar no regime semiaberto sem ter atividade profissional conhecida. A reportagem não conseguiu contato com empresário ou advogado do goleiro para tratar desse assunto.
Até hoje, a pensão alimentícia não foi paga e o processo ainda tramita na Justiça do Rio de Janeiro.
Descrédito– Dez anos depois da morte de Eliza, Sônia não acredita que a filha teria um destino diferente nos dias atuais. “Quando ela foi assassinada, já existia Maria da Penha, ela fez cinco boletins de ocorrência, pediu socorro, denunciou na Justiça, mas quem era ela? Quem era ele? Ídolo de milhões, ela não era ninguém”.
O descrédito da mãe de Eliza é baseado no que vê nas redes sociais. No Instagram, Bruno tem mais de 50 mil seguidores e as imagens em que aparece treinando ou com a família – esposa e a filha – são elogiadas por fãs que pedem a volta dele aos campos de futebol. “As pessoas agem como se ele fosse ídolo, tiram fotos, mas ele é um assassino”.
Sônia diz que Bruno nunca tentou ver o filho e, caso fosse obrigada por ordem judicial, exigiria o acompanhamento de psicólogo. “Não tem como confiar numa pessoa que atentou contra o filho e matou a mãe dele”. O sofrimento é companheiro diário, mas a dor da perda é atenuada pelo convívio como neto.