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ImprimirUma pesquisa brasileira encontrou microplásticos no cérebro humano. É a primeira vez que o resíduo é encontrado no órgão e, segundo os especialistas, um sinal de alerta máximo para o risco do uso de plástico na rotina humana.
O estudo, que foi feito na Universidade de São Paulo (USP), em parceria com a Universidade Livre de Berlim, e com o apoio da Universidade de Campinas (Unicamp), analisou o cérebro de 15 pessoas falecidas que moravam em São Paulo. Dos cérebros analisados, em oito deles foram encontrados os resíduos.
Segundo os pesquisadores, as pessoas não tinham contato com a indústria de produção de plástico, por exemplo. O plástico mais comum encontrado foi o polipropileno, usado em roupas, embalagens de alimentos e garrafas.
O estudo foi publicado na revista científica "Journal of the American Medical Association (JAMA), uma referência na área médica, nesta semana.
O que são essas partículas?
Ao longo da decomposição e em alguns processos, ele vai se transformando em partículas minúsculas, que são os microplásticos. O achado abre um novo capítulo da discussão sobre a contaminação por esse tipo de resíduo.
Em 2022, o mesmo grupo de pesquisa encontrou partículas de plástico pela primeira vez no pulmão humano e decidiu analisar o cérebro. Thais Mauad, líder do estudo e pesquisadora na USP, explica que o órgão é o mais protegido do corpo humano e a ideia era entender se esses resíduos conseguiam alcançá-lo.
A gente achava que essa era a única área protegida, mas estamos vendo que não é. Se está no cérebro, pode estar em qualquer outra parte do nosso corpo. A gente já sabe que eles são prejudiciais para a saúde, só não sabemos em que dimensão no nosso sistema nervoso. Mas esse é um alerta às autoridades.
— Thais Mauad, médica, pesquisadora da USP e líder do estudo.
Como o microplástico foi parar lá?
O plástico está presente em quase tudo no nosso dia a dia. Cerca de 22 milhões de toneladas de plástico são descartadas na natureza por ano em todo o mundo. As pesquisas recentes já encontraram essas partículas nos oceanos, nos peixes que comemos, na água e também no ar.
Por exemplo, enquanto um pneu gira no asfalto, ele solta microplásticos. A roupa que usamos solta partículas tão pequenas que não é possível ver, isso se mistura ao ar que respiramos. Até por isso, também já foram encontradas nos pulmões.
A hipótese dos pesquisadores é que os resíduos tenham chegado ao cérebro, justamente, pela respiração. Isso porque as partículas e fibras estavam no bulbo olfatório, uma parte do cérebro onde são processados os cheiros que sentimos. Nela, há pequenas perfurações por onde passam os nervos que atuam nesse processo, que é por onde eles acreditam ter entrado o resíduo.
E como isso afeta a saúde?
Thais Mauad alerta que há pesquisas que provam que os resíduos são prejudiciais à saúde. No início deste ano, um importante estudo acompanhou pessoas que tinham microplásticos no coração e descobriu que essas pessoas tinham um risco quatro vezes maior de problemas cardíacos graves e morte.
No entanto, no caso do cérebro, ainda não é possível prever exatamente qual o risco, isso porque a análise só pode ser feita depois do óbito. Mas Thais explica que esse é o próximo desafio às autoridades.
“Não sabemos qual o impacto disso, por exemplo, no cérebro de uma criança em desenvolvimento”, explica.