Vinte\n funcionários públicos de Santa Maria devem ser indiciados pela Polícia \n Civil em um novo inquérito sobre o incêndio na Boate Kiss, que matou 242\n pessoas há quase um ano. Entre os servidores públicos que estão sendo \n alvo de investigação está o prefeito Cezar Schirmer (PMDB). Eles devem \n ser acusados de conduta omissa e má-fé na administração pública por \n terem permitido que a casa noturna funcionasse apesar da falta de \n documentos apropriados. O inquérito, que está previsto para ser \n concluído em fevereiro, também pode incluir fraude processual e conduta \n criminosa entre as acusações. As informações são do jornal O Globo. \n Cezar Schirmer não poderá ser indiciado porque tem foro \n privilegiado, mas a Polícia pretende mencionar as responsabilidade do \n administrador no caso ao Ministério Público, que vai decidir se \n encaminha o pedido ao Tribunal de Justiça. Nas investigações, que \n começaram em abril do ano passado, a polícia identificou centenas de \n irregularidades, como falsificação de assinaturas, licenças irregulares e\n uso de CPFs inexistentes, o que evidenciaria a improbidade \n administrativa. O prefeito de Santa Maria está de férias e retorna à \n cidade na próxima semana. \n Incêndio na Boate Kiss \n Na madrugada do dia 27 de janeiro, um incêndio deixou 242 mortos \n em Santa Maria (RS). O fogo na Boate Kiss começou por volta das 2h30, \n quando um integrante da banda que fazia show na festa universitária \n lançou um artefato pirotécnico, que atingiu a espuma altamente \n inflamável do teto da boate. \n Com apenas uma porta de entrada e saída disponível, os jovens \n tiveram dificuldade para deixar o local. Muitos foram pisoteados. A \n maioria dos mortos foi asfixiada pela fumaça tóxica, contendo cianeto, \n liberada pela queima da espuma. \n Os mortos foram velados no Centro Desportivo Municipal, e a \n prefeitura da cidade decretou luto oficial de 30 dias. A presidente \n Dilma Rousseff interrompeu uma viagem oficial que fazia ao Chile e foi \n até a cidade, onde prestou solidariedade aos parentes dos mortos. \n Os feridos graves foram divididos em hospitais de Santa Maria e \n da região metropolitana de Porto Alegre, para onde foram levados com \n apoio de helicópteros da FAB (Força Aérea Brasileira). O Ministério da \n Saúde, com apoio dos governos estadual e municipais, criou uma grande \n operação de atendimento às vítimas. \n Quatro pessoas foram presas temporariamente - dois sócios da \n boate, Elissandro Callegaro Spohr, conhecido como Kiko, e Mauro \n Hoffmann, e dois integrantes da banda Gurizada Fandangueira, Luciano \n Augusto Bonilha Leão e Marcelo de Jesus dos Santos. Enquanto a Polícia \n Civil investiga documentos e alvarás, a prefeitura e o Corpo de \n Bombeiros divergem sobre a responsabilidade de fiscalização da casa \n noturna. \n A tragédia fez com que várias cidades do País realizassem \n varreduras em boates contra falhas de segurança, e vários \n estabelecimentos foram fechados. Mais de 20 municípios do Rio Grande do \n Sul cancelaram a programação de Carnaval devido ao incêndio. \n No dia 25 de fevereiro, foi criada a Associação dos Pais e \n Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia da Boate Kiss em Santa\n Maria. A associação foi criada com o objetivo de oferecer amparo \n psicológico a todas as famílias, lutar por ações de fiscalização e \n mudança de leis, acompanhar o inquérito policial e não deixar a tragédia\n cair no esquecimento. \n Indiciamentos \n Em 22 de março, a Polícia Civil indiciou criminalmente 16 pessoas\n e responsabilizou outras 12 pelas mortes na Boate Kiss. Entre os \n responsabilizados no âmbito administrativo, estava o prefeito de Santa \n Maria, Cezar Schirmer (PMDB). A investigação policial concluiu que o \n fogo teve início por volta das 3h do dia 27 de janeiro, no canto \n superior esquerdo do palco (na visão dos frequentadores), por meio de \n uma faísca de fogo de artifício (chuva de prata) lançada por um \n integrante da banda Gurizada Fandangueira. \n O inquérito também constatou que o extintor de incêndio não \n funcionou no momento do início do fogo, que a Boate Kiss apresentava uma\n série das irregularidades quanto aos alvarás, que o local estava \n superlotado e que a espuma utilizada para isolamento acústico era \n inadequada e irregular. Além disso, segundo a polícia, as grades de \n contenção (guarda-corpos) existentes na boate atrapalharam e obstruíram a\n saída de vítimas, a boate tinha apenas uma porta de entrada e saída e \n não havia rotas adequadas e sinalizadas para a saída em casos de \n emergência - as portas apresentavam unidades de passagem em número \n inferior ao necessário e não havia exaustão de ar adequada, pois as \n janelas estavam obstruídas. \n Já no dia 2 de abril, o Ministério Público denunciou à Justiça \n oito pessoas - quatro por homicídios dolosos duplamente qualificados e \n tentativas de homicídio, e outras quatro por fraude e falso testemunho. A\n Promotoria apontou como responsáveis diretos pelas mortes os dois \n sócios da casa noturna, Mauro Hoffmann e Elissandro Spohr, o Kiko, e \n dois dos integrantes da banda Gurizada Fandangueira, Marcelo de Jesus \n dos Santos e Luciano Augusto Bonilha Leão. \n Por fraude processual, foram denunciados o major Gerson da Rosa \n Pereira, chefe do Estado Maior do 4º Comando Regional dos Bombeiros, e o\n sargento Renan Severo Berleze, que atuava no 4º CRB. Por falso \n testemunho, o MP denunciou o empresário Elton Cristiano Uroda, ex-sócio \n da Kiss, e o contador Volmir Astor Panzer, da GP Pneus, empresa da \n família de Elissandro - este último não havia sido indiciado pela \n Polícia Civil. \n Os promotores também pediram que novas diligências fossem \n realizadas para investigar mais profundamente o envolvimento de outras \n quatro pessoas que haviam sido indiciadas. São elas: Miguel Caetano \n Passini, secretário municipal de Mobilidade Urbana; Belloyannes Orengo \n Júnior, chefe da Fiscalização da secretaria de Mobilidade Urbana; Ângela\n Aurelia Callegaro, irmã de Kiko; e Marlene Teresinha Callegaro, mãe \n dele - as duas fazem parte da sociedade da casa noturna.