CE/LD
ImprimirAs avaliações com tecnologia de satélite, mapeamento de dados e geoprocessamento permitiram que o Instituto do Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul (Imasul) identificasse que 127 propriedades rurais no Pantanal apresentam condição crítica para ocorrência de incêndios florestais devido ao volume de biomassa vegetal.
Essa constatação representa o mapa dos locais que podem ter uma grande propagação do fogo, caso haja incêndio e onde são necessárias ações emergenciais para prevenção.
A possibilidade de antecipar esse perigo para o meio ambiente, com impacto direto para a economia, foi obtida por conta de estudos desenvolvidos em parceria do Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais (LASA), que pertence à Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), e pesquisadores da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), integrantes do Núcleo de Estudos do Fogo em Áreas Úmidas, que mantém ativo o programa de Pesquisas Ecológicas de Longa Duração (PELD).
A Wetlands apoiou a iniciativa do estudo para gerar a plataforma conhecida como SIFAU. Técnicos do Imasul usam essa ferramenta para gerar dados e direcionar políticas públicas.
As propriedades rurais mapeadas estão concentradas no pantanal do Nabileque, uma pequena parte na região próximo ao Território Indígena Guató, no pantanal Paraguai; além das regiões do Abobral e no Paiaguás, onde há a divisa de Mato Grosso do Sul com Mato Grosso e próximo ao Parque Nacional do Pantanal Matogrossense.
Ficaram de fora do mapa de risco em Mato Grosso do Sul os pantanais da Nhecolândia, Aquidauana, Miranda e Porto Murtinho. O estudo não alcançou Mato Grosso, por se tratar de outra federação. Por lá, ainda há os pantanais de Barão de Melgaço, Cáceres e Poconé.
Conforme dados da Embrapa, o pantanal do Nabileque é o quinto maior entre as 11 sub-regiões do bioma, com 13.281 km² de extensão. Ele está localizado dentro dos municípios de Corumbá, Porto Murtinho e Miranda, além de fazer fronteira com a Bolívia.
As inundações nesses locais contribuem para reduzir os campos. Porém, como o período de estiagem está maior neste ano, pode ocorrer que mais áreas devem ficar sem a presença de água, com vegetação mais exposta e mais suscetíveis para o fogo.
Os pesquisadores Sidney Kuerten, da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS), e Mario Luis Assine, da Universidade do Estado de São Paulo (Unesp), indicaram em estudo que a região com maior risco para os incêndios tem inundação tardia na comparação com outras regiões.
“A área experimenta inundação tardia em relação às outras áreas do Pantanal, com defasagem de até quatro meses quando comparada com o período de cheia do rio Paraguai no norte da bacia”, explicaram.
No levantamento feito pelo Imasul, em torno de 3,5 mil hectares encontram-se com excesso de biomassa vegetal e essas áreas estão inseridas na proposta de ser realizada a queima prescrita para reduzir o risco de propagação de fogo.
Essas ações de prevenção ganharam corpo depois da ocorrência da tragédia de 2020, quando o fogo consumiu 26% do bioma. Além disso, há medidas judiciais que cobram a União, e indiretamente os estados de MS e MT, para apresentar ações eficazes de prevenção.
“Só quem esteve presente em 2020 tem a dimensão do que ocorreu no Pantanal. O momento de hoje só foi possível por causa das crises vividas e da capacidade dos agentes presentes de deixar de apontar dedos e partir para ação”, reconheceu o governador Eduardo Riedel (PSDB), que editou decreto de estado de emergência para Mato Grosso do Sul n.25/2023 para o período de 180 dias, ou cerca de seis meses.
Nesse documento, que passou a valer nesta quarta-feira,10 de abril, prevê que o Estado poderá usar da ferramenta de queima prescrita para prevenir incêndios. Além disso, há R$ 25 milhões disponíveis para medidas preventivas.
“Onde for identificado, através do monitoramento pelo sistema de vigilância, a presença de biomassa e riscos de incêndio, o proprietário será notificado”, afirmou o titular da Semadesc, Jaime Verruck.
Para ocorrer a chamada queima prescrita, técnicas envolvendo estudos da UFMS vão ser utilizadas. Esse método envolve usar o fogo de forma planejada, monitorada e controlada para fins de conservação, pesquisa científica tecnológica e manejo, autorizado pelo órgão ambiental competente, em áreas determinadas e sob condições específicas, com objetivos pré-definidos em plano de manejo integrado do fogo.
As notificações já começaram a ser feitas aos proprietários dessas 127 propriedades rurais. Essas comunicações não têm caráter punitivo.
A Famasul, entidade que aglomera proprietários rurais no Estado, está participando das medidas por meio do chamado Comitê do Fogo.
“A parceria é muito importante. Nosso estado é diferenciado e pioneiro com esse plano de combate aos focos. E o produtor rural sempre é o primeiro a chegar nesse combate aos incêndios”, afirmou Marcelo Bertoni, presidente da entidade.
Levantamento da Confederação Nacional dos Municípios (CNM) indicou que entre 2016 e 2021, os incêndios florestais causaram prejuízo para a pecuária e a agricultura no valor de R$ 533.171.486,00. Os dados foram obtidos a partir de relatórios do Ministério do Desenvolvimento Regional.