G1/LD
Desaparecido há quatro dias na Floresta Amazônica, num trecho isolado entre o Sul do Amapá e o Norte do Pará, o avião monomotor, de prefixo PT-RDZ, transportava uma família de índios Tiriyó, sendo duas crianças de 2 e 4 anos. Ao todo eram sete viajantes, além do piloto, sendo que a capacidade de voo era de seis passageiros, como o G1 mostrou com base no registro do avião na Agência Nacional de Aviação Civil (Anac).
A viagem, que partiu no domingo (2) e fez a última comunicação às 12h06, foi contratada pelos indígenas para fazer o trajeto entre a aldeia Matawaré, no Parque do Tumucumaque, e o município amapaense de Laranjal do Jari. Ainda não há informações concretas se houve queda ou um pouso forçado na mata.
De acordo com Kutanan Waiana, coordenação executiva da Articulação dos Povos e Organizações Indígenas do Amapá e Norte do Pará, a contratação de pequenos aviões para transporte entre aldeias é comum na região, com viagens que custam entre R$ 3 mil e R$ 10 mil.
"A bordo uma família, professor, esposa e três filhos, uma aposentada e o seu genro (...) e essa vinda dele para o Jari, depois para Macapá, era para resolver problemas bancários, atualização, isso diariamente acontece. Eles vinham, compravam mantimentos e levavam para suas comunidades. É a primeira vez que isso acontece [desaparecimento] na nossa região", comentou.
A região é de difícil acesso e o transporte aéreo é a única forma de se chegar as aldeias. Em função da geografia da região, a maior parte do trajeto é feito em território paraense, onde se concentram as buscas da Força Aérea Brasileira (FAB), coordenadas pela Salvaero, de Manaus.
Perda de contato
Vinte e cinco minutos após sair da aldeia, o piloto Jeziel Barbosa de Moura, que tem mais de 30 anos de experiência, avisou a um outro piloto da empresa de aviação que precisaria fazer um pouso de emergência. Foi a última comunicação. Os índios fazem o voo das aldeias até Laranjal do Jari e de lá fazem uma viagem de carro de cerca de 4 horas até Macapá.
A Fundação Nacional do Índio (Funai) classificou o voo como clandestino, já que não houve o acompanhamento pelo controlador, além da falta do plano de voo. Para a Articulação dos Povos Indígenas, a falta de regularização das pistas na região precariza a situação das viagens.
"A principal cobrança que nós temos esses anos todos, nós queríamos os registros dessas pistas de pouso, a homologação, junto a Funai. Achamos que com essa homologação poderíamos ter mapeado facilmente nossos parentes perdidos. Acredito que por não ter isso, tem essa dificuldade, porque hoje esses voos são particulares e esses indigenas fretam todo mês", explicou Waiana.
As mesmas pistas são usadas, além das viagens particulares, em voos para atendimentos de saúde e sociais, coordenados pelo Distrito Sanitário Especial Indígena (Dsei). A necessidade de regularização motivou uma ação do Ministério Público Federal (MPF) que exige da Anac a não cobrança para homologação desses espaços.
Em novembro, a Justiça Federal determinou que a Anac está impedida de cobrar taxas ou qualquer valor para registro ou regularização de pistas de pouso localizadas em áreas indígenas.