Correio do Estado/LD
O avião de prefixo PT-VKY, modelo Embraer EMD-810 Sêneca III, que caiu em área de fazendas no Pantanal de Miranda, na última segunda-feira, pode ter passado por manutenção em oficinas irregulares de Campo Grande. O piloto Marcos David Xavier, de 34 anos, estava sozinho e morreu no local.
Essa suspeita foi levantada pela delegada Ana Cláudia Medina, da Delegacia Especializada de Combate ao Crime Organizado (Deco), que no ano passado conduziu a Operação Ícaro, desmontando esquema ilícito de reparos em aviões.
Medina esteve quinta e sexta-feira no local dos destroços para prestar apoio ao delegado Leandro Costa de Lacerda Azevedo, responsável pelas investigações no momento. Segundo ela, “análise preliminar feita por peritos da Deco reforça a suspeita de que as causas do acidente aéreo tenham sido problemas mecânicos”.
Um dos indícios foi uma das asas encontradas a cerca de 400 metros de distância do ponto de impacto, o que sugere que foi rompida ainda no ar, possivelmente em razão de má conservação. “Diante do que nós encontramos, hipóteses sobre mau tempo e imperícia em procedimentos voo [erro do piloto] vão sendo descartadas aos poucos”, disse.
Nos próximos dias, partes do avião devem ser encaminhadas para análise junto à Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). Como a área é um brejo de difícil acesso, tanto que a polícia só conseguiu chegar lá a cavalo, máquinas devem abrir caminho para que as peças sejam recolhidas.
Por enquanto, o local está sob intervenção policial e ninguém pode se aproximar. Agentes do Esquadrão Pelicano da Força Aérea Brasileira e técnicos do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) também fizeram análises. Os responsáveis podem ser responsabilizados caso comprovadas irregularidades.
CONFRONTAMENTO
Os dados obtidos serão confrontados com informações descobertas pela Deco e Anac ao longo das investigações acerca da Operação Ícaro, deflagrada em outubro do ano passado.
À época, a partir da denúncia de furtos de peças, a Polícia Civil descobriu que oficinais ilegais de Campo Grande prestavam manutenção a baixo custo, sem nenhum tipo de regulamentação. O serviço clandestino sem fiscalização não garantia boa conservação das aeronaves, e colocava em risco a segurança do transporte aéreo em Mato Grosso do Sul.
QUEDA
No início da madrugada de terça-feira, o avião e o corpo do piloto foram encontrados a cerca de 2,5 quilômetros da Fazenda Cristo, de onde havia decolado na noite anterior com destino à Capital.
O dono da fazenda é proprietário do veículo e o mantém preservado em hangar no local. Além disso, registros apontam que o plano de voo estava correto e devidamente autorizado.
A hipótese inicial foi de que o mau tempo pudesse ter contribuído para a queda. O piloto era considerado experiente e há mais de 10 anos prestava serviços particulares e para a empresa MS Táxi Aéreo.