\n \n O\n discurso da presidente Dilma foi cheio de vazios e entre linhas. Qualquer\n análise que fizesse sobre todo ele, tomaria muito espaço, o que impossibilitou\n qualquer tentativa de fazê-lo aqui.\n \n A\n lição que se tira dessa fala da presidente, é que ela não está preparada para\n dialogar com o povo, mas ditar regras num falso diálogo. O que se entende é que\n as medidas, pelos menos em grande parte, são provisórias como as da saúde com\n vindas de médicos “importados”, como disse ela: provisoriamente.\n \n As\n medidas anunciadas pela presidente são pra valer mesmo ou somente provisórias\n como se referiu sobre os médicos “importados”? Ou disse “provisoriamente” só\n para acalmar a revolta da população e dos médicos brasileiros?\n \n A\n vitória popular no transporte urbano não pode ficar em pedaços. São\n inadiáveis outras soluções, além da redução da tarifa.\n \n Quanto\n às tarifas dos ônibus são pra valer, ou é um recado para os “prefeitos amigos,\n da base aliada” de que passado o movimento, tudo volta como antes.\n \n Quer\n dizer que enquanto o povo estiver nas ruas, as tarifas serão mantidas?\n \n Acontece\n que o povo está acordado. Ele sabe que a questão não é apenas o aumento ou a\n redução da tarifa, mas o enfrentamento do problema como um todo.\n \n É\n preciso que melhorias físicas sejam feitas e que na aquisição de novos carros\n estes sejam colocados à disposição dos passageiros que perdem muito tempo na\n espera dos ônibus. O que o povo não aceita é ver o pátio das empresas com\n alguns carros novos, e velhos ônibus circulando em pouca quantidade e muito\n atraso.\n \n É\n preciso que sejam erguidas pequenas plataformas de acesso aos veículos, em\n todos os pontos de ônibus e também as coberturas de proteção do sol e chuva.\n \n Pessoas\n idosas ou que tenham problemas de coluna têm necessidade da acessibilidade com\n urgência.\n \n A\n acessibilidade a idosos, crianças e portadores de deficiência, mesmo que não\n sejam cadeirantes, mas que tenham dificuldades e correm risco de acidentes,\n precisa ter a atenção do prefeito municipal, seja de Campo Grande ou outro\n município do estado.\n \n Os\n idosos têm de ser respeitados em seu direito de transporte gratuito, como manda\n a lei, isto é, com todos os motoristas parando para recebê-los e deixando-os\n nos pontos que solicitem.\n \n Falta\n fiscalização por parte da Agetran com a velocidade e a quantidade de pessoas\n que são colocadas dentro dos ônibus. Também tem de ser fiscalizada a colocação\n dos cintos de segurança em todos os carros e que estes tenham cartazes que\n expliquem a indispensável importância do cinto de segurança para todos os\n passageiros.\n \n Entre\n as reivindicações que a Agência de Transporte e Trânsito de Campo Grande e\n outras cidades sul-mato-grossenses poderiam adotar está a reformulação ou\n criação do Conselho de Transporte, para fixar proporcionalidade das\n representações que ali têm assento. Para tornar a representatividade mais\n democrática e participativa, essa é a hora.\n \n É\n preciso garantir direitos como a meia passagem, o passe livre para prounistas e\n cotistas. E que seja constituído um controle de Qualidade dos Ônibus,\n estabelecendo obrigações mínimas; como: ar condicionado nos carros; intervalos\n máximos de 10 minutos entre ônibus; ampliação programada das frotas, e também a\n atenção especial para a ampliação das ciclovias; também com a atenção aos\n motociclistas que devem ter suas faixas preferenciais horizontais pintadas\n antes dos semáforos (como adotado na capital de São Paulo).\n \n Que\n seja garantida a reunião dos prefeitos de cidades que tenham transporte urbano\n de usuários como algo assemelhado a um Conselho de Transporte de Passageiros,\n junto dos estudantes. E que essa reunião ocorra pelo menos três vezes ainda\n neste ano, para que se avalie se as reivindicações do Movimento Popular estão\n sendo atendidas.\n \n Que\n sejam tratadas com prioridade e urgência a pauta de reivindicações que já foram\n ou que ainda serão apresentadas. Sobretudo, que se garanta a participação\n ativa, sem perder o caminho da democracia direta, onde cada um tenha o poder de\n voz, voto e veto. Com todos esses direitos e mais a civilidade de cada pessoa,\n falaremos praticamente a mesma língua, da gentileza e da cidadania.\n \n Finalizando\n volto ao título deste artigo. A presidente Dilma não dá entrevistas costumeiras\n nem de vez em quando. Ela\n só se une ao povo pela televisão ou rádio; não cumpre com suas promessas\n eleitorais e ainda acumula com outras, como agora. Por causa dessas atitudes, o\n seu castigo não veio a cavalo. O castigo de Dilma veio de ônibus. Esse veículo\n arrombou as comportas que retinham as reclamações populares. Hoje fico por\n aqui, com meu bom dia, o meu bom dia pra vocês.\n \n Ruy\n Sant’Anna é jornalista e advogado.nbsp;\n \n \n \n \n