O\n documento, produzido pela organização Union of Concerned Scientists (União de\n Cientistas Preocupados, em tradução livre), com sede nos Estados Unidos, explora\n como, na primeira década deste século, o Brasil conseguiu se distanciar da\n liderança mundial em desmatamento e do terceiro lugar em emissões de gases e se\n transformou em exemplo de sucesso.\n \n "As\n mudanças na Amazônia brasileira na década passada e sua contribuição para\n retardar o aquecimento global não têm precedentes", diz o relatório,\n intitulado "Histórias de Sucesso no Âmbito do Desmatamento", que\n analisa a trajetória de 17 países em desenvolvimento com florestas tropicais.\n \n "A\n velocidade da mudança em apenas uma década – na verdade, de 2004 a 2009 – é\n impressionante".\n \n Queda\n \n Os\n autores destacam a queda de 70% nas taxas de desmatamento no Brasil na\n comparação entre os dados de 2013 e a média entre 1996 e 2005 e observam que\n aproximadamente 80% da floresta original ainda existe.\n \n Ressaltam\n ainda que, a partir de meados dos anos 2000, as emissões resultantes de\n desmatamento no Brasil caíram em mais de dois terços, neutralizando aumentos em\n outros setores e resultando em uma tendência geral de queda.\n \n O\n relatório observa que, após atingir seu ponto alto entre 2004 e 2005,\n impulsionado pela expansão da produção de soja e carne, o desmatamento na\n Amazônia começou a cair, mesmo diante do aumento dos preços internacionais das\n commodities – prova de que "um setor agrícola forte e moderno pode crescer\n ao mesmo tempo que a paisagem se torna mais florestada".\n \n Nem mesmo\n os resultados mais recentes, divulgados pelo governo brasileiro no ano passado,\n alteram a avaliação dos cientistas em relação ao desempenho do Brasil. Os dados\n mostraram aumento de 28% na taxa de desmatamento da Amazônia no período entre\n agosto de 2012 e julho de 2013 na comparação com o ano anterior.\n \n "Situação\n semelhante já ocorreu em 2008, quando a taxa de desmatamento aumentou por um\n ano e depois retomou sua trajetória de queda", disse à BBC Brasil o\n principal autor do estudo, Doug Boucher.\n \n Boucher\n afirma que a mudança foi alta porque o desmatamento já havia sido reduzido para\n um nível muito baixo.\n \n "Mesmo\n com esse aumento, o valor de 2013 foi 9% inferior se comparado ao de 2011".\n \n Ações\n \n O sucesso\n do Brasil é creditado a uma série de ações que começaram a ser implementadas no\n governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (1995-2002), como a criação\n de novas áreas protegidas na Amazônia, incluindo reservas indígenas e unidades de\n uso sustentável, e foram ampliadas no governo de Luiz Inácio Lula da Silva\n (2003-2010), com o Plano de Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia\n Legal.\n \n O\n relatório destaca a importância das moratórias voluntárias adotadas pela\n indústria da soja, que a partir de 2006 se comprometeu a não comprar grãos\n produzidos em terras desmatadas da Amazônia, e pelo setor de carne bovina, que\n seguiu o exemplo de 2009 em diante.\n \n Segundo o\n documento, também foi crucial a atuação do Ministério Público, com ações judiciais\n que reforçaram a aplicação das leis e a ajuda de sistemas avançados de\n mapeamento e monitoramento.\n \n O texto\n observa que o estabelecimento de acordos com matadouros e exportadores, por\n exemplo, exigindo que conhecessem as fronteiras das fazendas de onde compram\n seus produtos, permitiu identificar produtores que desmatam e excluí-los da\n cadeia de suprimentos.\n \n O\n documento ressalta ainda as iniciativas de Estados e municípios que promoveram\n mudanças para reduzir o desmatamento e pressionaram o governo federal por ações\n mais rígidas.\n \n Outro\n destaque citado é o acordo de Redd+ (Redução de Emissões provenientes de\n Desmatamento e Degradação Florestal) entre Brasil e Noruega, que prevê\n incentivos para países em desenvolvimento reduzirem emissões, por meio de financiamento\n de países ricos.\n \n Países\n \n O\n relatório dividiu os países analisados em três grupos: o primeiro, onde está o\n Brasil, é o dos que tiveram sucesso na implementação de programas para reduzir\n desmatamento e emissões ou para promover reflorestamento. Também integram este\n grupo Índia, Quênia, Madagascar e Guiana.\n \n Há ainda\n aqueles países em que os programas não tiveram o resultado esperado, mas mesmo\n assim foram benéficos. Entre eles estão México, Vietnã e Costa Rica.\n \n O\n terceiro grupo, formado por El Salvador e países da África Central, aborda\n casos em que o sucesso foi devido principalmente a mudanças socioeconômicas.\n \n "Na\n década de 90 do século 20, o desmatamento (global) consumiu 16 milhões de\n hectares por ano e foi responsável por cerca de 17% do total da poluição que\n causa o aquecimento global", diz o documento.\n \n "Atualmente,\n o cenário global parece consideravelmente mais favorável. O desmatamento\n diminuiu 19%, passando para 13 milhões de hectares por ano na primeira década\n do século 21, graças ao sucesso de variadíssimos esforços de proteção das\n florestas, que também estimularam as economias e meios de vida locais".\n \n No caso\n do Brasil, os pesquisadores admitem que há desafios para manter o sucesso\n alcançado até agora.\n \n Além do\n aumento do desmatamento verificado em 2013 na comparação com o ano anterior, os\n cientistas citam emendas ao Código Florestal como motivo de preocupação sobre o\n futuro do sucesso do Brasil.\n \n No\n entanto, afirmam que os resultados obtidos até agora já são motivo de\n "orgulho".\n \n "Não\n podemos ignorar o fato de que o sucesso do Brasil até agora tem sido muito\n grande", disse Boucher à BBC Brasil.\n \n Segundo\n os autores do relatório, "a redução do desmatamento da Amazônia já trouxe\n uma grande contribuição no combate à mudança climática, mais do que qualquer\n outro país na Terra".\n \n \n