G1/AB
A Defensoria Pública de São Paulo ingressou nesta quinta-feira (11) com pedidos de indenização para as famílias de algumas das vítimas da chacina que deixou 17 pessoas mortas há um ano na Grande São Paulo. Segundo o órgão, oito pedidos foram encaminhados à Procuradoria Geral do Estado.
Segundo a Defensoria, o objetivo é continuar "as tratativas para a obtenção das indenizações, visando evitar a judicialização desses casos". "Há outros 3 casos que a Defensoria Pública ainda aguarda a documentação necessária para que possa fazer os pedidos administrativos", afirma em nota.
A Defensoria atua como assistente de acusação no processo criminal que investiga a participação de policiais militares no assassinato de 17 pessoas nas cidades de Osasco e Barueri.
Os valores dos pedidos ainda não foram definidos, "uma vez que este ainda é um assunto que está em tratativas na Procuradoria do Estado", afirma a Defensoria.
Quatro agentes de segurança, sendo três policiais militares e um guarda-civil, se tornaram reús em processo judicial que os acusa pela chacina e por ferir outras seis pessoas no dia 13 de agosto em Osasco e Barueri. Os três PMs estão detidos no presídio militar Romão Gomes, na Zona Norte da capital paulista. Outras seis mortes ocorreram no dia 8 de agosto em Itapevi, Carapicuíba e Osasco.
A doméstica Zilda Maria de Paula, 63 anos, mãe de Fernando Luis, conhecido como "Abuse" e assassinado em um bar em agosto do ano passado, disse que não espera receber alguma indenização. "A gente não sabe de nada. Fomos ao palácio do governo em uma reunião que daria assistência para algumas famílias. Do governo mesmo não tem nada. Dizem que vamos receber indenização, mas não sabemos quando e quanto. Estou me virando com meu salário, mas e quem não tem isso?"
Indiciamentos Em dezembro de 2015, a Polícia Civil havia indiciado seis policias militares e um guarda-civil por envolvimento em assassinatos nos dias 8 e 13 de agosto daquele ano.
Segundo a Secretaria da Segurança Pública (SSP), os sete agentes respondiam diretamente pelos assassinatos de 23 pessoas e pelas tentativas de homicídios de outros sete sobreviventes.
O motivo que levou PMs e GCMs a cometerem a chacina seria vingar as mortes de um policial militar no dia 7 de agosto e de um guarda-civil no dia 12 de agosto. Algumas das vítimas tinham passagens pela polícia, mas não há confirmação de que elas teriam participado dos assassinatos do policial e do GCM.
Uma força-tarefa chegou a ser criada pelo governo de São Paulo para apurar inicialmente 19 assassinatos ocorridos em 13 de agosto em Osasco e Barueri. Câmeras de segurança gravaram homens mascarados e armados executando pessoas num bar.
Mas, segundo a SSP, o Departamento Estadual de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP) descartou duas dessas mortes que aconteceram em Osasco. No entendimento do departamento, elas não têm relação com o envolvimento de agentes nas execuções para vingar os homicídios de um policial e um guarda, dias antes.
Posteriormente, durante as investigações, o DHPP descobriu que seis policiais militares e um guarda-civil também estavam envolvidos em seis assassinatos ocorridos no dia 8 de agosto em Itapevi, Carapicuíba e também Osasco. Os nomes atualizados das vítimas não foram informados.
Cronologia da chacina:
8 de agosto de 2015: 6 mortos e 1 ferido
Itapevi(3 mortos)
Avenida Pedro Paulino: 3 mortos
Carapicuíba (1 morto)
Rua Alvorada: 1 morto
Osasco (2 mortos e 1 ferido)
Avenida Sport Club Corinthians: 1 morto
Rua Jacinto José de Souza: 1 morto e 1 ferido
13 de agosto: 17 mortos e 6 feridos
Barueri (3)
Rua Irene: 2 mortos
Rua Carlos Lacerda: 1 morto
Osasco (14 mortos e 6 feridos)
Rua Antonio Benedito Ferreira: 8 mortos e 2 feridos
Rua Professor Sud Menucci: 1 morto
Rua Astor Palamin: 2 mortos
Rua Moacir Sales D´Avila: 1 morto e 2 feridos
Rua Suzano: 1 morto e 2 feridos
Rua Vitantonio D´Abril: 1 morto
Mortes descartadas
Essas duas mortes abaixo chegaram a ser incluídas inicialmente na investigação do DHPP como possíveis vítimas da chacina, mas foram descartadas, de acordo com a SSP. Segundo a pasta, a investigação descartou que elas tenham relação com o envolvimento de PMs e GCMs para vingar a morte de agentes. Apesar disso, as apurações sobre os casos abaixo prosseguem para identificar os autores dos crimes.
13 de agosto:
2 mortos
Osasco
Avenida Eurico da Cruz: 1 morto
Rua Cuiabá: 1 morto
Grupos de extermínio
De acordo com policiais envolvidos na investigação, o DHPP concluiu que os sete agentes se organizaram em diversos grupos de extermínio. Armados e usando toucas e capuzes, eles saíram nos dias 8 e 13 de agosto em carros e motos descaracterizados atirando em pessoas nessas quatro cidades. Ao menos 12 homens teriam participado da chacina na Grande São Paulo, de acordo com a investigação, feita por representantes das polícias Civil e Militar.
Eles queriam vingar as mortes de um policial militar e de um guarda civil, ocorridas dias antes. O cabo Oliveira foi morto a tiros, no dia 7 de agosto, em Osasco, por dois criminosos ao reagir a assalto a um posto de combustíveis. Ele era da Força-Tática do 42º Batalhão da PM (BPM), responsável pela segurança na região, mas estava sem farda.
A dupla usou a própria arma do policial para matá-lo e fugiu. O DHPP já identificou os suspeitos, que são procurados pela Justiça.
O guarda-civil Jefferson Silva foi baleado e assassinado em 12 de agosto, em Barueri, por três assaltantes que tentaram roubá-lo. Ele também estaria à paisana. Os criminosos fugiram. Na noite seguinte ao assassinato do guarda, começaram as ondas de execuções em Osasco, Barueri, Carapicuíba e Itapevi.