G1/PCS
Uma falha de projeto vai limitar, por tempo indeterminado, o escoamento da energia produzida pelas hidrelétricas de Jirau e Santo Antônio, que ficam no rio Madeira, em Rondônia.
A informação foi confirmada ao G1 pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS). Essa energia é transferida para São Paulo e há risco de que o problema possa causar corte no fornecimento.
O projeto de escoamento de eletricidade de Jirau e Santo Antônio, que liga Rondônia a Araraquara, no interior paulista, conta com duas duplas de linhões. De acordo com o ONS, o problema atinge uma das duplas.
Os linhões contam com um equipamento chamado eletrodo de terra. Em uma das duplas, esse eletrodo de terra foi instalado numa região em que o solo é inadequado por conter uma placa de granito mais próxima da superfície que o indicado.
Essa placa de granito está causando interferência no funcionamento do eletrodo de terra, o que reduz a segurança na operação da dupla de linhões atingida.
O risco é que, no caso de falha em uma das linhas, a outra pode parar de operar se o eletrodo não funcionar corretamente. Ou seja, a transmissão na dupla de linhões pode cair, o que geraria um corte no fornecimento.
A outra dupla de linhões, onde não há problema no eletrodo de terra, continuaria funcionando normalmente, mas a quantidade de energia transmitida de Rondônia para SP seria reduzida pela metade nessa situação.
Restrição
Por conta do problema no eletrodo, o ONS reduziu de 6,3 mil MW para 4,7 mil MW a quantidade de energia que pode ser escoada pela dupla de linhões atingida.
Segundo o ONS, no momento essa restrição não impacta o fornecimento de energia em São Paulo porque, com a seca na região Norte, Jirau e Santo Antônio estão produzindo bem abaixo dos 4,7 mil MW.
Entretanto, o risco de blecaute aumenta nos próximos meses já que a concessionária IE Madeira, que é responsável pela construção e operação da linha de transmissão com problema, terá que encontrar uma nova área para instalar o eletrodo de terra. Não será necessário construir um novo linhão.
Até que a mudança seja feita, informou o ONS, o envio de energia das hidrelétricas para SP ficará restrito.
Problema não era esperado
O diretor técnico da concessionária IE Madeira, Jairo Kalife, disse que o eletrodo de terra foi instalado em 2014 mas o problema foi detectado apenas em fevereiro de 2016, quando a empresa teve condições de injetar correntes pela terra em valores maiores.
De acordo com ele, a concessionária fez medições rasas no local onde o equipamento está instalado e "não era esperado" que o problema ocorresse.
Kalife informou que a empresa procura por nova área para instalar o eletrodo de terra e que já encontrou "de quatro a seis pontos candidatos." A expectativa é que o investimento atinja de R$ 45 milhões a R$ 60 milhões.
Ele apontou ainda que a mudança pode ser feita em cerca de 6 meses, mas que o tempo vai depender de outros fatores, como a obtenção de licença por parte do Instituto de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).
Kalife negou o risco de blecaute, mas admitiu que, por conta do problema, pode haver, em uma situação limite, falta de energia em alguns pontos de São Paulo. Esse corte, porém, seria por motivo de segurança.
Jirau e Santo Antônio
Leiloada em maio de 2008, a Jirau é a terceira maior hidrelétrica do país: conta com 50 turbinas para geração de energia e capacidade instalada de 3.750 MW. Ela foi inaugurada oficialmente em dezembro de 2016 e custou R$ 19 bilhões.
A hidrelétrica de Santo Antônio conta com 50 turbinas e capacidade instalada de 3.568 MW. As obras começaram em setembro de 2008 e terminaram em dezembro de 2016, ao custo estimado de R$ 20 bilhões.
Juntas, Jirau e Santo Antônio têm capacidade para atender a cerca de 40 milhões de pessoas.