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Brasil
09/12/2013 06:47:24
Falta mais eficiência ao SUS do que verba, afirma estudo
Os problemas de acesso e cuidados especializados no SUS têm mais a ver com desorganização e ineficiência do que com falta de dinheiro.

Folha/PCS

Os problemas de acesso e cuidados especializados no SUS têm mais a ver com\n desorganização e ineficiência do que com falta de dinheiro. \n \n Essa é uma das conclusões do Banco Mundial em relatório obtido com\n exclusividade pela Folha que analisa 20 anos do SUS e traça seus\n desafios. \n \n O próprio governo reconhece a desorganização, mas aponta avanços nos últimos\n anos. \n \n O subfinanciamento é sempre citado por especialistas, gestores e governos\n como uma das principais causas para as deficiências do SUS. \n \n E o Banco Mundial reforça isso: mais da metade dos gastos com saúde no país\n se concentra no setor privado, e o gasto público (3,8% do PIB) está abaixo da\n média de países em desenvolvimento. \n \n Mas o relatório afirma que é possível fazer mais e melhor com o mesmo\n orçamento. \n \n "Diversas experiências têm demonstrado que o aumento de recursos\n investidos na saúde, sem que se observe a racionalização de seu uso, pode não\n gerar impacto significativo na saúde da população", diz Magnus Lindelow,\n líder de desenvolvimento humano do banco no Brasil. \n \n Um exemplo citado no relatório é a baixa eficiência da rede hospitalar.\n Estudos mostram que os hospitais poderiam ter uma produção três vezes superior\n à atual, com o mesmo nível de insumos. \n \n Mais da metade dos hospitais brasileiros (65%) são pequenas unidades, com\n menos de 50 leitos -a literatura internacional aponta que, para ser eficiente,\n é preciso ter acima de cem leitos. \n \n Nessas instituições, leitos e salas cirúrgicas estão subutilizados. A taxa\n média de ocupação é de 45%; a média internacional é de 70% a 75%. \n \n As salas de cirurgias estão desocupadas em 85% do tempo. Ao mesmo tempo, os\n poucos grandes hospitais de referência estão superlotados. \n \n "No Brasil, sempre houve grande pressão para não se fechar os hospitais\n pequenos, o que não ocorre no exterior. O problema não é só ineficiência, mas a\n falta de segurança desses locais", diz a médica Ana Maria Malik, do núcleo\n de saúde da FGV. \n \n Mas a questão hospitalar é só um ponto. Grande parte dos pacientes que vão a\n emergências hospitalares é de baixo risco e poderia ser atendida em unidades\n básicas. \n \n Dois estudos citados pelo Banco Mundial estimam que em 30% das internações\n os pacientes poderiam ter sido atendidos em ambulatórios. \n \n "O Brasil tem alto índice de internações por causas sensíveis à atenção\n primária, que poderia ser minimizado com melhor organização do fluxo\n assistencial, gerando, assim, uma menor pressão na rede hospitalar", diz\n Lindelow. \n \n Cuidado adequado para hipertensos e diabéticos, rastreamento de câncer de\n colo de útero e mama, por exemplo, são ações que podem reduzir parte dessas\n internações e da mortalidade precoce. \n \n Para o médico Milton Arruda Martins, professor da USP, uma razão para a\n baixa eficiência na atenção básica é o grande número de pacientes por equipe de\n saúde da família. "É do dobro do que se preconiza. Se cada equipe tivesse\n um número menor de pessoas para atender, a capacidade resolutiva seria maior."\n \n \n Segundo Lindelow, a atenção especializada é outro desafio que não se\n restringe a equipamentos e insumos. "É essencial investir em capacitação,\n criação de protocolos e regulação de demanda que permita o acesso a\n especialistas, exames e cirurgias." \n \n Na opinião de Milton Martins, a rede secundária também é insuficiente.\n "Pequenas cirurgias, como catarata e hérnia, podem ser feitas fora de\n hospitais, em ambulatórios, mas não há especialistas nem estrutura para\n isso."\n \n \n