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Pouco menos de um mês após ter os anexos de seu acordo de delação premiada rasgados pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, o empreiteiro Léo Pinheiro, ex-presidente da OAS, depôs nesta terça-feira ao juiz federal Sergio Moro em Curitiba.
Ele não apenas confessou ter pago propina para não ser convocado a depor na CPMI da Petrobras, em 2014, como também implicou no esquema o ex-ministro das Relações Institucionais de Dilma Rousseff Ricardo Berzoini.
Os valores ilícitos teriam sido pagos a pedido dos ex-senadores Gim Argello (ex-PTB-DF), preso pela Lava Jato, Vital do Rêgo (PMDB-PB), hoje ministro do TCU, e deputado federal Marco Maia (PT-RS), relator da CPMI. Estes dois últimos têm foro privilegiado e não são investigados pela Justiça Federal de Curitiba.
De acordo com o empreiteiro, Vital e Gim, então presidente e vice-presidente da CPMI, o extorquiram para que seu nome não fosse incluído na lista de oitivas. Já Berzoini teria participado de uma reunião com os dois senadores na residência de Gim, em Brasília. Pinheiro entendeu a presença dele como um “instrumento de pressão”.
“O ministro [Berzoini] relatou que era uma preocupação muito grande do governo da presidente Dilma o desenrolar dessa CPI e que gostaria que as empresas, o quanto possível, pudessem colaborar para que essas investigações não tivessem uma coisa que prejudicasse o governo, [para que] não viessem a causar nenhum prejuízo”, disse ele a Moro.
Pinheiro contou que Berzoini ficou na reunião por cerca de quarenta minutos e depois foi embora. “O presidente e o vice-presidente de uma CPI, um ministro de Estado, e um empresário investigado. [Podemos dizer que] não é uma reunião adequada. Isso está claro para qualquer pessoa”, ironizou o empreiteiro.
No depoimento, Pinheiro confirmou que pagou 2,85 milhões de reais aos parlamentares, um pouco mais do que a metade do valor requisitado, de 5 milhões de reais. Parte desse valor (350.000 reais) foi transferido para a conta da paróquia São Pedro, em Taguatinga, no Distrito Federal, igreja com a qual Gim tinha uma “relação política e religiosa”, conforme as palavras de Pinheiro; os outros 2,5 milhão de reais teriam sido repassados ao PMDB nacional — 1,5 milhão por doações legais e 1 milhão por caixa 2. Esse dinheiro seria usado na campanha de então senador Vital do Rêgo ao governo do Estado da Paraíba, em 2014 — ele acabou não sendo eleito.
O esquema criminoso montado na CPMI já havia sido relatado nas delações do ex-presidente da UTC, Ricardo Pessoa, e do ex-senador Delcídio do Amaral.
No início de sua fala, Pinheiro fez questão de dizer que reconhece os seus delitos e está disposto a colaborar com a Justiça. “Em primeiro lugar, queria agradecer ao senhor [Moro] e ao Ministério Público por voltar aqui para esclarecer, para falar a verdade, mesmo que esse fatos me incriminem. Eu cometi crimes e, para o bem da sociedade, para o bem da justiça, estou aqui para dizer tudo o que sei, a verdade”, afirmou.