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Brasil
17/07/2025 16:23:00
Lula diz que 'gringo não vai dar ordem' e que vai taxar big techs dos EUA

UOL/PCS

O presidente Lula (PT) voltou a criticar o presidente dos EUA, Donald Trump, e disse que vai cobrar imposto de "empresas digitais norte-americanas" durante o 60º Congresso da UNE (União Nacional dos Estudantes), em Goiânia.

O que aconteceu Lula reclamou que o governo norte-americano não respondeu às propostas do Brasil sobre as tarifas. "Não recebemos nenhuma resposta. A resposta que nós recebemos foi a matéria publicada no jornal, no email dele, no Zap [WhatsApp] dele, no portal dele, porque ele não se dignou nem sequer a mandar uma carta", como a atitude tomada pelo Itamaraty nesta semana ao enviar uma carta ao governo dos EUA.

"Eu tenho certeza de que o presidente americano jamais negociou 10% do que eu negociei na minha vida", afirmou Lula. Ele voltou a questionar as razões da aplicação das taxas e ironizar a relação entre Trump e o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), citado pelo norte-americano como motivo principal para impor um tarifaço ao Brasil.

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O governo brasileiro tem insistido que a decisão foi política e que as justificativas econômicas apresentadas por Trump não se sustentam. Um relatório publicado na semana passada pela Amcham Brasil revela que o superávit comercial dos Estados Unidos em relação ao Brasil alcançou US$ 1,7 bilhão. A cifra representa um aumento de aproximadamente 500% em comparação com o mesmo período de 2024.

Não é um gringo que vai dar ordem a esse presidente da República. Não é. Eu sei a quem eu devo respeitar nesse país, eu sei quem é que manda nesse país, eu sei quem faz esse país ser o que é: o nome dessa pessoa só tem quatro letras, chama-se povo brasileiro. Lula, em provocação a Trump

Lula também prometeu taxar e regulamentar as big techs, debate que não tem avançado no governo. "Eu queria dizer para vocês que a gente vai julgar e vai cobrar imposto das empresas americanas digitais. Nós não aceitamos, em nome da liberdade de expressão, você ficar utilizando [as redes] para fazer agressão, para fazer mentira, para prejudicar", disse.

A afirmação vai contra o que foi conversado no comitê com representantes da indústria nesta semana. O vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) recebeu empresários da indústria, do agro, dos setores de bens e comércios e representantes de algumas das maiores multinacionais dos Estados Unidos e só falou em diminuir as taxações, não em aumentá-las.

O tom das conversas tem se voltado ao diálogo em vez do uso da lei de reciprocidade. Empresários não fizeram uma fala pública contra a estratégia de retaliação, que Lula tem deixado claro que não vai descartar, mas insistiram que a solução deve ser pela diplomacia.

Enquanto uma parte do governo dialoga, outra tem se mantido dura nas críticas. No evento, o ministro Camilo Santana (Educação) chamou os embargos de Trump de "injustificáveis". Já a ministra Luciana Santos (Ciência e Tecnologia) pediu "respeito" ao Brasil. Ontem, Rui Costa (Casa Civil) debochou da investigação econômica anunciada pelos EUA na terça.

Soberania: a nova pauta

Trocado de última hora na semana passada, o tema do congresso da UNE está diretamente alinhado com o governo. "O Brasil se une pela soberania", expõe o telão, na mesma pegada propagada pela Secom (Secretaria de Comunicação) de Lula contra as tarifas anunciadas pelos Estados Unidos, e bandeirinhas do Brasil foram distribuídas junto a flâmulas da organização.

"Ah-ah, uh-uh, o Brasil é nosso", gritam os estudantes. "Eu nunca vi tanta bandeira do Brasil assim em um ato da UNE", falou rindo a estudante Maria Elisa. Trump também foi alvo de protestos.

Muitos estão de verde e amarelo e com camisas da seleção brasileira de futebol. Lula e o governo têm se aproveitado do embate com Trump para trazer a pauta patriótica, ligada ao bolsonarismo nos últimos anos, para mais perto de si. Até o antigo "Eu sou brasileiro com muito orgulho, com muito amor" foi retomado, puxado pela presidente da Une, Manuella Mirella.

Os gritos dos movimentos endossavam pautas do governo, com taxação de grandes fortunas e diminuição da jornada de trabalho. "A 6x1 tem que acabar, eu não nasci para morrer de trabalhar", gritaram os estudantes.

Lula demorou a entrar na pauta da jornada. A mudança na escala ganhou força na Câmara pelo PSOL, com pouco envolvimento do PT e do governo, mas foi ganhando força e hoje é defendida pelo presidente nos discursos.

Mas o principal canto foi voltado a Bolsonaro. "Sem anistia e sem perdão, eu quero ver o Bolsonaro na prisão", cantaram os estudantes no começo, durante e após a chegada de Lula. Nesta semana, a PGR (Procuradoria-Geral da República) pediu a condenação do ex-presidente por cinco crimes. O governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil), também foi alvo de vaias.

Antes do ato, Lula se encontrou com um grupo de sobreviventes de um acidente com um ônibus de estudantes da UFPA (Universidade Federal do Pará). O veículo seguia para o evento na BR-153, quando colidiu com uma carreta que invadiu a contramão. Cinco pessoas —três delas, estudantes— morreram.