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Brasil
31/08/2013 07:43:56
Médicos estrangeiros falam de expectativa e desafio de atuar no Brasil
Em São Paulo, mais de 50 deles se preparam para trabalhar no interior do país, em rincões onde o atendimento básico é luxo.

BBC Brasil/AB

\n \n Às 5h30 da manhã o soldado que\n guarda as instalações militares que servem como abrigo para os primeiros\n profissionais do programa Mais Médicos acende a luz do quarto, anunciando mais\n um dia de treinamento.\n \n Em São\n Paulo, mais de 50 deles se preparam para trabalhar no interior do país, em\n rincões onde o atendimento básico é luxo.\n \n Poucos\n quilômetros separam o quartel na zona sul de São Paulo da Escola Municipal da\n Saúde, onde há uma semana o grupo de destemidos profissionais tem aulas sobre o\n sistema de saúde brasileiro e noções de português.\n \n "Acordamos\n cedo porque temos de enfrentar o trânsito", conta Thiago da Silva, 32\n anos. Paulistano, há mais de uma década foi para a Argentina. Há poucas semanas\n voltou ao país, carregando um diploma de médico, um leve sotaque portenho e a\n expectativa de fazer diferença no SUS (Sistema Único de Saúde).\n \n "Quero\n contribuir para o sistema de saúde do meu país. As expectativas são as\n melhores. Quero ajudar. Por isso resolvi vir", diz Silva.\n \n Ele é\n um dos 1.778 inscritos na primeira fase do programa, que pagará R$ 10 mil aos\n profissionais que permanecerem pelo menos três anos em locais onde há carência\n de médicos. Ao todo, são cerca de 15 mil vagas.\n \n Silva\n irá atuar em Francisco Morato, na periferia da Grande São Paulo. Até o momento,\n 282 estrangeiros (brasileiros com formação no exterior entram nessa conta) se\n inscreveram no programa, fora o contigente de 4 mil médicos cubanos que atuarão\n no país por meio de um convênio entre Brasília e Havana.\n \n Oportunidade\n \n As\n primeiras noções sobre como funciona o SUS e carga mais pesada sobre língua\n portuguesa são dadas em uma sala da Escola Municipal de Saúde, de São Paulo,\n uma das oito capitais onde os "estrangeiros" recebem treinamento por\n três semanas.\n \n A\n vizinhança rica e os prédios envidraçados da Vila Olímpia, onde a escola se\n situa, destoam bastante da próxima parada destes profissionais.\n \n Ignácio\n Ferreyra frequenta as aulas com uma jaqueta azul bordada com um\n "puma", animal símbolo da seleção argentina de rugbi.\n \n Há três\n anos ele trocou Córdoba por Ilha Bela, no litoral de São Paulo. Nesse tempo,\n tentou revalidar o diploma, sem sucesso. No meio tempo, passou a dar aulas de\n rugbi, esporte anglo-saxão pouco conhecido aqui mas que faz sucesso no lado\n argentino da fronteira.\n \n "Eu\n vi no Mais Médicos a grande oportunidade para fazer o que eu sei, que é ser\n médico. Todo mundo agora tem a expecativa de conhecer logo o posto de saúde\n onde vai trabalhar", diz. Questionado sobre a possível falta de\n infraestrutura, ele desconversa.\n \n "Até\n agora, tudo o que nos prometeram tem acontecido", diz, elogiando a\n infraestrutura do curso.\n \n Ferreyra\n vai para uma comunidade de Bertioga e não nega que seja um "sortudo"\n por trabalhar na praia.\n \n "Eu\n também já estou acostumado com os caiçaras. Tenho certeza de que poderei fazer\n muita coisa", diz, em bom português.\n \n Experiência\n \n Kátia\n Abrantes Miranda, 61 anos, tem uma neta com o nome "da grande Elis\n Regina". Ela diz que isso é mostra de sua estreita relação com o Brasil.\n \n Mas\n esta não é a primeira experiência internacional desta portuguesa nascida no\n antigo Congo Belga e que já clinicou em vários países, como Inglaterra e\n Holanda.\n \n "Eu\n sempre quis viver no Brasil", conta, dizendo que era chamada de brasileira\n nos tempos da faculdade.\n \n Kátia\n seguirá para Indaiatuba (SP) e diz que não nutre grandes expectativas. Sabe que\n a jornada será puxada e diz que está preparada.\n \n "Pode\n ser que as tecnologias não sejam as mesmas, os protocolos não sejam os mesmos,\n mas gente doente e precisando de prevenção há por todo lado, é igual",\n diz.\n \n Kátia\n se diz entusiasmada com a "oportunidade" e até o momento é só elogios\n ao programa, embora faça piada com o fato de ter lições de\n "português", parte integrante do curso preparatório aos estrangeiros.\n \n A única\n grande crítica de Kátia e dos demais médicos é em relação ao episódio em que\n médicos brasileiros hostilizaram colegas cubanos durante treinamento em\n Fortaleza.\n \n O\n projeto causou a ira das associações médicas em virtude da\n "importação" de profissionais e o episódio causou rebuliço nas redes\n sociais.\n \n "Acho\n abominável", diz Kátia. "É uma grande falta de respeito". Mas a\n crítica logo se dissipa com mais elogios tecidos aos brasileiros.\n \n \n \n \n