UOL/PCS
Antonio Palocci, ex-ministro dos governos Lula e Dilma, disse em depoimento nesta quinta (20) ao juiz Sergio Moro, em Curitiba, que poderia repassar em sigilo informações "que vão ser certamente do interesse da Lava Jato". Palocci foi interrogado em ação penal sobre lavagem de dinheiro e corrupção ativa e passiva.
"Fico à sua disposição hoje e em outros momentos, porque todos os nomes e situações que eu optei por não falar aqui, por sensibilidade da informação, estão à sua disposição o dia que o senhor quiser. Se o senhor estiver com a agenda muito ocupada, a pessoa que o senhor determinar, eu imediatamente apresento todos esses fatos com nomes, endereços, operações realizadas e coisas que vão ser certamente do interesse da Lava Jato."
Palocci relatou ter sido procurado em 2014 por um banqueiro que se disse enviado por um membro do alto escalão do governo Dilma Rousseff. Segundo o ex-ministro, o banqueiro disse que cuidaria de "provisões" e queria que Palocci intermediasse o contato com a Odebrecht para "capitalizar esses recursos".
Palocci disse ter negado ao interlocutor que tivesse conhecimento de "provisões" e pediu que o banqueiro procurasse a Odebrecht.
O ex-ministro também contou ter perguntado ao banqueiro se a presidente Dilma sabia que ele havia sido enviado por alguém do alto escalão do governo; o banqueiro teria dito que não.
Segundo a Folha, há cerca de duas semanas Palocci teve uma reunião com a força-tarefa da Lava Jato em Curitiba, onde está preso desde setembro de 2016, para negociar sua delação premiada.
Governos e Odebrecht
Palocci disse ainda que, diante do cenário atual, "todos os governos parecem que trabalham em função da empresa Odebrecht."
O ex-ministro contou como ainda no começo do primeiro governo Lula, em 2004, houve a aprovação de uma redução de carga tributária para o setor da construção civil. Ele citou ainda o fato de que várias companhias de diversos setores pediam recursos ao Estado. "O governo salva empresas", disse.
Elogios a Moro e à Lava Jato
Palocci fez elogios à operação que levou para a cadeia ele próprio e outros quadros expressivos do PT. O ex-ministro, preso preventivamente desde setembro de 2016, disse que a Lava Jato "realiza uma investigação de importância".
"Acredito que posso dar um caminho, que talvez vá dar um ano de trabalho, mas é um trabalho que faz bem ao Brasil", acenou.
Além de se mostrar disposto a colaborar com novidades para a Lava Jato, Palocci fez elogios ao juiz Sergio Moro. "Eu sei que o senhor é um juiz extremamente rígido, mas um juiz justo", disse ao magistrado.
O ex-ministro pediu que seu julgamento seja "com base na lei e em critérios absolutamente justos". "Eu sei que o senhor faz isso com maestria. O senhor tem dado uma contribuição ao país na medida em que acelera processos decide com celeridade. Acho que isso é digno de nota. Agora, acho muito importante que a decisão seja em cima de fatos justos".
Caixa 2 "generalizado"
Ao ser questionado por um de seus advogados sobre a existência de pagamentos não contabilizados (caixa 2) em campanhas eleitorais, Palocci afirmou que a prática era "generalizada". Perguntado por Moro se esses pagamentos aconteceram no PT, Palocci respondeu que ocorriam ao menos em todos os grandes partidos.
"Isso é uma situação mais do que óbvia e conhecida por todos", afirmou.
No entanto, Palocci negou que fosse o "Italiano" da planilha do setor de operações estruturadas da Odebrecht --na prática, um departamento dedicado a cuidar de propinas e caixa 2 para agentes públicos e partidos políticos. Na planilha, a conta corrente "Italiano" teve crédito de R$ 200 milhões em caixa 2 para o PT.
"Eu nunca operei contribuições. Até porque não era minha função. Se fosse, eu teria feito. Eu sempre dizia: tem o tesoureiro da campanha", disse. "Evidentemente eu pedia recursos para as empresas acreditando que elas iam tratar isso da melhor maneira possível."
Palocci negou ainda que organizasse pagamentos de caixa 2 junto a Marcelo Odebrecht. O ex-ministro também negou a acusação, feita pelo ex-executivo em delação premiada, de que negociou a concessão de linha de crédito do BNDES ou benefícios para a Odebrecht.
- "Fiz, em dois meses, 20 palestras e recebi mais do que eu havia recebido em três anos e meio como ministro", comentou, sem citar valores, ao juiz Moro.*
O ex-ministro negou que a consultoria Projeto, empresa aberta por ele quando foi deputado federal (2006-2010), tenha prestado serviços para órgãos públicos. Palocci disse ter feito uma consultoria "de curtíssimo prazo" para o Banco Interamericano de Desenvolvimento.
Em 2011, Palocci tornou-se ministro da Casa Civil do governo Dilma Rousseff, mas se viu obrigado a deixar o cargo em junho no mesmo ano. A saída veio após a revelação, em reportagens da "Folha", de que multiplicou seu patrimônio em 20 vezes, durante o período como parlamentar, por meio da empresa de consultoria.
Acusações
Palocci foi interrogado em ação penal sobre lavagem de dinheiro e corrupção ativa e passiva. Ele é acusado de ter recebido propina para agir a favor da Odebrecht em licitação de sondas para a Petrobras. A SeteBrasil ganhou a licitação e encomendou seis sondas a um estaleiro da Odebrecht ao preço de R$ 28 bilhões. A propina de 0,9% (R$ 252,5 milhões) foi dividida entre executivos da Petrobras e da Sete Brasil (1/3) e do PT (2/3).
O ex-ministro afirmou ter conversado com Marcelo Odebrecht sobre o assunto, mas apenas do ponto de vista de mercado, sem pedidos de interferência.
"Em toda o meu relação com a Odebrecht, nesses anos todos, eles jamais me pediram uma contrapartida e eu jamais dei margem para que eles pensassem que era possível uma contrapartida vinculada a recursos de campanha. O Marcelo dizia que pra ele também não interessava."
Segundo a denúncia do Ministério Público, entre 2006 e 2015, Palocci estabeleceu com altos executivos da Odebrecht "um amplo e permanente esquema de corrupção" destinado a assegurar o atendimento aos interesses do grupo empresarial na alta cúpula do governo federal.
O Ministério Público Federal aponta que, no exercício dos cargos de deputado federal, ministro da Casa Civil e membro do Conselho de Administração da Petrobras, Palocci interferiu para que o edital de licitação lançado pela estatal e destinado à contratação de 21 sondas fosse formulado e publicado de forma a garantir que a Odebrecht não obtivesse apenas os contratos, mas que também firmasse tais contratos com margem de lucro pretendida.