Cidades
25/02/2014 11:15:15
Orfãs em acidente que matou os pais na 163, mulheres viram irmãs na dor
Uma mesma dor fez brotar a amizade entre duas mulheres que tiveram as vidas atravessadas pela tragédia. Num domingo, 11 de maio de 2008, Angelina e Fátima perderam os pais em colisão frontal na BR-163, no município de Bandeirantes.
CG News/AB
Uma mesma dor fez brotar a amizade entre duas mulheres que tiveram as \n vidas atravessadas pela tragédia. Num domingo, 11 de maio de 2008, \n Angelina e Fátima perderam os pais em colisão frontal na BR-163, no \n município de Bandeirantes.
Surgiu uma amizade, somos amigas. Eu fiquei muito revoltada, ela \n também. Tentei buscar todos os caminhos. É muito difícil, a gente não \n supera, conta Angelina Penze Campagna Nunes da Cunha, 51 anos.Nos\n diálogos para resolver coisas práticas quanto ao seguro dos veículos, \n descobriram outras coincidências. Ela também tinha dois filhos, o \n marido dela também estudou no Rio de Janeiro, diz. Mas o principal \n ponto em comum foi o sofrimento. Nas tentativas de silenciar a dor, \n Angelina procurou pessoas que perderam pais, pessoas que perderam \n filhos, mas foi na amiga de infortúnio que encontrou sinônimo para a sua\n tristeza.É muito difícil. Conversava com todo mundo, nada \n batia. Conversei com quem tinha perdido mãe ou pai, com quem perdeu a \n mãe e o pai. Nada aliviava. Conversei com uma senhora que perdeu mãe e \n filho. Mas não batia, não era a mesma coisa, diz, emocionada, Angelina.Com\n a filha do outro casal, foi diferente. Era a mesma situação. A gente \n chorava junto. Ela lembrava o que a mãe fazia, eu lembrava o que a minha\n mãe fazia, relata.Incrédula, até hoje Angelina tenta entender \n como o pai, um condutor precavido e que conhecia a BR-163 desde os \n tempos que passava a cavalo na estrada de terra, se envolveu em \n acidente. Ele voltava do velório de uma irmã, mas estava bem, tinha \n dormido. Sempre foi muito cauteloso, recorda.Ayres Penze e a \n esposa Eraide Campagna Penze, 76, estavam em uma caminhonete S-10. O \n veículo bateu de frente com um Corsa Classic, onde estavam Geraldo \n Sanches, 70, e Geraldina Teixeira Sanches, 71. Eraide, Geraldo e \n Geraldina morreram na rodovia.Ayres chegou a ser socorrido, mas \n morreu quando a ambulância se aproximava de Campo Grande. Saber da \n morte da minha mãe já foi um baque. Não quiseram falar do meu pai para \n mim. Consegui entrar na Santa Casa e chacoalhava meu pai. Pedia: Você \n não, pai. Você não, pai.Morando em Bandeirante, a 70 \n quilômetros de Campo Grande, Angelina afirma que a BR-163 foi a sua \n vida. Nunca tive medo dela. Ia e voltava todos os dias, levando meus \n filhos para estudarem em Campo Grande, relata.A exemplo de \n Angelina e Fátima, a BR-163 foi determinante em muitas histórias. Entre \n 2010 e 14 de fevereiro deste ano, 362 pessoas perderam a vida na \n estrada, que leva a alcunha de Rodovia da Morte.
Surgiu uma amizade, somos amigas. Eu fiquei muito revoltada, ela \n também. Tentei buscar todos os caminhos. É muito difícil, a gente não \n supera, conta Angelina Penze Campagna Nunes da Cunha, 51 anos.Nos\n diálogos para resolver coisas práticas quanto ao seguro dos veículos, \n descobriram outras coincidências. Ela também tinha dois filhos, o \n marido dela também estudou no Rio de Janeiro, diz. Mas o principal \n ponto em comum foi o sofrimento. Nas tentativas de silenciar a dor, \n Angelina procurou pessoas que perderam pais, pessoas que perderam \n filhos, mas foi na amiga de infortúnio que encontrou sinônimo para a sua\n tristeza.É muito difícil. Conversava com todo mundo, nada \n batia. Conversei com quem tinha perdido mãe ou pai, com quem perdeu a \n mãe e o pai. Nada aliviava. Conversei com uma senhora que perdeu mãe e \n filho. Mas não batia, não era a mesma coisa, diz, emocionada, Angelina.Com\n a filha do outro casal, foi diferente. Era a mesma situação. A gente \n chorava junto. Ela lembrava o que a mãe fazia, eu lembrava o que a minha\n mãe fazia, relata.Incrédula, até hoje Angelina tenta entender \n como o pai, um condutor precavido e que conhecia a BR-163 desde os \n tempos que passava a cavalo na estrada de terra, se envolveu em \n acidente. Ele voltava do velório de uma irmã, mas estava bem, tinha \n dormido. Sempre foi muito cauteloso, recorda.Ayres Penze e a \n esposa Eraide Campagna Penze, 76, estavam em uma caminhonete S-10. O \n veículo bateu de frente com um Corsa Classic, onde estavam Geraldo \n Sanches, 70, e Geraldina Teixeira Sanches, 71. Eraide, Geraldo e \n Geraldina morreram na rodovia.Ayres chegou a ser socorrido, mas \n morreu quando a ambulância se aproximava de Campo Grande. Saber da \n morte da minha mãe já foi um baque. Não quiseram falar do meu pai para \n mim. Consegui entrar na Santa Casa e chacoalhava meu pai. Pedia: Você \n não, pai. Você não, pai.Morando em Bandeirante, a 70 \n quilômetros de Campo Grande, Angelina afirma que a BR-163 foi a sua \n vida. Nunca tive medo dela. Ia e voltava todos os dias, levando meus \n filhos para estudarem em Campo Grande, relata.A exemplo de \n Angelina e Fátima, a BR-163 foi determinante em muitas histórias. Entre \n 2010 e 14 de fevereiro deste ano, 362 pessoas perderam a vida na \n estrada, que leva a alcunha de Rodovia da Morte.