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Cidades
03/04/2016 10:28:00
"Toda vítima de um estelionato cai porque não desconfia", alerta delegado

Correio do Estado/AB

O uso da internet já não é mais novidade no cotidiano da população. Simultaneamente ao benefício desse serviço surgiram os crimes virtuais, que são considerados delitos praticados por meio da rede mundial de computadores e que podem ser enquadrados no Código Penal Brasileiro (CPB), resultando em punições como pagamento de indenização ou prisão. Em uma semana, dois crimes virtuais idênticos fizeram vítimas em Campo Grande.

Os crimes virtuais utilizam a mesma metodologia de crimes já conhecidos. A técnica empregada é um pouco diferente, mas o fim que se pretende é o mesmo, onde a intenção do criminoso pode ser de ludibriar uma pessoa para obter vantagem financeira ou pessoal, enganar as vítimas ou mesmo furtar informações particulares com o intuito de utilizá-las em proveito próprio.

Em uma semana, dois golpes do “envelope vazio” aconteceram em Campo Grande. Na terça-feira (29), um caminhão foi roubado após a vítima anunciá-lo no tradicional site de venda, o OLX. O veículo foi entregue ao falso comprador, (na ocasião um suposto fazendeiro), após extrato bancário apontar que o depósito no valor de R$ 20 mil havia sido realizado no caixa eletrônico.

Somente depois que a vítima entregou o veículo e diante da demora de o dinheiro cair na conta, a pessoa foi informada, pela agência bancária, que os envelopes foram depositados vazios e que ela havia caído no golpe do ''envelope vazio''.

Os crimes digitais são cada vez mais comuns porque as pessoas cultivam a sensação de que o ambiente virtual é uma terra sem leis, o que não deixa de ser verdade. Segundo o delegado Sidnei Alberto, da Delegacia Geral da Polícia Civil (DGPC), o site não tem responsabilidade pelos produtos que são vendidos pela internet.

“Os sites não têm responsabilidade sobre a origem do produto. Eles não cometem crime, são órgão divulgador. O interessado é quem tem que verificar a procedência do produto que vai comprar", destacou o delegado.

No caso citado acima, a vítima do golpe do envelope vazio cometeu o erro de não desconfiar do comprador. “Ele entregou o documento do caminhão sem a transferência. Quando eu te vendo, eu tenho que levar o certificado de propriedade, além disso, o reconhecimento de firma é pessoal. Então eu tenho que ir ao cartório com o documento preenchido com o nome da pessoa que vai comprar, e eu assino que recebi a quantia”, informou Sidnei.

Ao efetuar o depósito, automaticamente o extrato bancário aponta que o depósito está pendente na conta da pessoa. Diante desta situação o delegado alerta que o banco informa a pendência do dinheiro na conta da pessoa.

“Não podemos recriminar o banco em razão disso, é ignorância das pessoas. Toda vítima de um estelionato cai porque não desconfia. A pessoa precisa ter uma certa dose de paranoia. Eu tenho que desconfiar. Se a pessoa vem comprar alguma coisa comigo e aceita o preço que estou jogando, tenho que ficar atento”, enfatizou Sidnei.

Para o delegado, a facilidade com que a negociação ocorre já é um motivo para ficar atento. “Talvez o preço do caminhão vendido tenha sido acima da média. Então devemos desconfiar quando as coisas transcorrem com certa facilidade e saem do normal. Não houve negociação de pedido de desconto. As pessoas veem a oportunidade de ganhar dinheiro fácil e caem no golpe. Não existe negócio da China. Tudo tem um ganha/perde. Tem que haver uma certa proporcionalidade entre os dois.

“Se eu comprar um objeto muito barato, que eu sei que vale R$ 5 mil, por exemplo, e eu compro por R$ 50, de duas uma, ou o relógio é falsificado, aí eu caio no crime de estelionato, ou estou comprando alguma coisa que foi furtada, onde cometo o crime de receptação. Se amanhã ou depois a pessoa que te vendeu o produto for presa, ela vai te apontar como comprador.

Além do golpe do envelope vazio outros crimes virtuais já fizeram vítimas pelo mundo todo. “É o caso de lojas fictícias que vendem produtos que em seguida desaparecem. É importante saber se alguém conhece a loja que a pessoa pretende comprar, se já tem um nome conhecido”, orienta o delegado.

Com o crescimento do número de pessoas que acessam a internet tem aumentado o número de crimes virtuais. “Um país onde o acesso é muito grande, muitas vezes as pessoas não têm conhecimento para isso, e também pela ingenuidade acabam caindo nos crimes”, defendeu.

Existem outros tipos de crime que não são praticados diretamente pela internet, mas que auxilia o criminoso. Por exemplo, a pessoa posta nas redes sociais que vai sair de férias, viajou e que vai ficar um mês fora. As pessoas dão muita informação, até mesmo sem internet. Se você olhar na traseira do veículo você sabe quantas pessoas têm naquela família. Então as pessoas têm que ser desconfiadas”, ponderou.

Outro ponto que o delegado faz questão de ressaltar é com relação a passar informações via telefone. “Não se passa informação importante por telefone. Por exemplo, quando uma pessoa liga para você e pergunta quem está falando, ela já deve saber para quem ela ligou. Existe um golpe, que não é frequente, mas tem acontecido com pessoas idosas. Ele liga para a residência e induz a pessoa do outro lado da linha a desenvolver uma conversa que o leva a cometer o crime. A vítima acredita que do outro lado é um parente e acaba depositando alguma quantia na conta bancária desta pessoa”, enfatizou.

Ao cair no golpe é preciso registrar Boletim de Ocorrência. Nem sempre o veículo poderá ser recuperado. “A menos que ele seja desmanchado e vendido as peças. Tirando o chassi e o motor, fica difícil recuperar”, alertou. Por isso é importante desconfiar, ou do preço extremamente barato, ou da origem do produto. Não existe negócio da China.