Correio do Estado/LD
Um estudo feito pelo Vebra Covid-19 e divulgado na semana passada apontou que, conforme o aumento da idade, houve uma redução da eficácia da vacina Coronavac, contra Covid-19.
Após 14 dias da segunda dose, a efetividade foi de 28% entre pessoas acima de 80 anos. Por essa razão, pesquisadores já discutem a possibilidade de uma dose de reforço para os idosos com outro imunobiológico.
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), exige que imunizantes para o uso emergencial contra o coronavírus tenham eficácia superior a 50%.
Médico infectologista, pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e um dos autores do estudo do Vebra Covid-19, Julio Croda defende que haja uma terceira dose com outra vacina para a faixa etária acima dos 70 anos. “Ainda não temos dados de uma terceira dose de Coronavac”, afirmou.
De acordo com Croda, o estudo foi encaminhado para o Ministério da Saúde. Cabe à Pasta definir se haverá revacinação desse grupo.
Segundo dados do Ministério da Saúde, pelo menos 4,2 milhões de idosos acima de 80 anos já tomaram a primeira dose contra a Covid-19, sendo a maioria Coronavac.
Em média, a eficácia do imunobiológico desenvolvido pelo Instituto Butantan em parceria com a farmacêutica Sinovac Biotech, em idosos acima de 70 anos, foi de 42%. Os índices variam de 61,8% para as pessoas de 70 a 74 anos e 48,9% para a faixa etária de 75 a 79 anos.
A pesquisa que reuniu cientistas de instituições nacionais e internacionais analisou 15,9 mil amostras de indivíduos suspeitos de Covid-19 com mais de 70 anos e residentes no estado de São Paulo, onde a variante P.1 é predominante em mais de 80% das amostras sequenciadas.
Os testes clínicos da Coronavac no País apresentaram taxa geral de eficácia em 50,7%.
VACINAÇÃO EM MS
De acordo com o Vacinômetro da Secretaria de Estado de Saúde (SES), das 91 mil vacinas contra a Covid-19 aplicadas em Mato Grosso do Sul em idosos acima de 80 anos, 86,1% foram com a Coronavac, por volta de 78,4 mil doses.
Referente aos idosos entre 70 e 74 anos, 125,5 mil vacinas do Instituto Butantan foram aplicadas em MS. Dessas, 67 mil referentes à primeira dose e 58,4 mil para a segunda etapa de imunização.
Entre a faixa etária de 75 e 79 anos, foram aplicadas 59,9 mil vacinas Coronavac. Mato Grosso do Sul segue como líder nacional na aplicação e distribuição dos imunobiológicos, com 26,25% da população vacinada com a primeira dose (D1) e 12,49% imunizada com a segunda dose (D2).
Em relação à meta de 90% de cobertura vacinal nos grupos prioritários da primeira fase, os índices são ainda mais positivos, com 93,19% de aplicação da primeira dose e 44,34% da segunda.
O secretário de Estado de Saúde, Geraldo Resende, afirmou ao Correio do Estado que ainda deve checar com os especialistas sobre o estudo publicado pelo Vebra Covid-19.
Pela falta de doses ainda ser um problema recorrente, Resende salientou que é cedo para pensar em comprar imunizantes para uma dose de reforço. “Temos de ter cuidado [com os estudos] para não deixar a população com medo, é importante deixar claro que a Coronavac é eficaz e segura”, disse.
Para o doutor em doenças infecciosas Everton Lemos, apesar de a vacina sino-brasileira conferir menor proteção, entre pessoas com maior idade, ela continua sendo importante para redução de risco de hospitalização e mortes.
“Nesse sentido, quem já tomou a primeira dose da Coronavac deve realizar a segunda dose, a qual garantirá imunidade após 14 dias”, salientou Lemos.
De acordo com o especialista, a aplicação de uma segunda vacina como dose de reforço pode ser uma estratégia válida. “Acredito que deve ser analisado primeiro o impacto da vacina na redução da taxa de hospitalização e óbito nesse grupo, para que, assim, se tome decisões sobre a dose de reforço”, ressaltou Everton.
IMUNOSSENESCÊNCIA
Professor da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) e responsável técnico pelo Laboratório de Doenças Infecciosas e Parasitárias da Faculdade de Medicina (LabDip), James Venturini, explicou que os idosos apresentam um efeito biológico natural chamado imunossenescência, que é um enfraquecimento esperado do sistema imune.
Conforme Venturini, o importante é saber se a eficácia da vacina afeta a gravidade da doença. “Antes de pensar em terceira dose, precisamos entender que a resposta ao vírus não depende somente da produção de anticorpos pelo organismo. Outros componentes, como células específicas e células de memória, também atuam no combate ao vírus”, declarou.
O professor ponderou que os estudos em curso sobre os efeitos dos imunobiológicos contra o coronavírus devem apresentar em breve resultados desses parâmetros celulares, cuja análise é complexa.
Os cientistas do Vebra Covid-19 analisam agora, a eficácia da Coronavac contra internações e mortes. O estudo deve ser divulgado em um mês, com o foco em pessoas com mais de 60 anos.