Sheila Forato
“Ó meu pai do céu, limpe tudo aí, vai chegar a rainha precisando dormir. Quando ela chegar tu me faça um favor dê um banto a ela, que ela me benze aonde eu for.” O trecho é da música Dona Cila, escrita e interpretada por Maria Gadu para homenagear sua vó, que hoje emprestamos para uma família coxinense, que perdeu Vó Diomara ou Vó Gomar, uma das benzedeiras mais antigas da cidade.
Diomara Rosa da Silva, de 93 anos, morreu na noite desta quarta-feira (27) em decorrência do Coronavírus (Covid-19). Ela ficou internada dois dias num leito clínico do Hospital Regional Álvaro Fontoura, em Coxim. Como ainda existe risco de contágio, não vai ter velório. O cortejo deixa o hospital às 13 horas e segue para o cemitério da Vila Bela, onde o corpo vai ser enterrado, seguindo todos os protocolos de segurança.
Vó Diomara teve 16 filhos e antes de partir se despediu de cinco. Os netos, bisnetos e taranetos de sangue somam 44, porém, eles passaram a vida tendo de dividir a vó com netos emprestados, que pediam a benção de Vó Diomara por onde ela passava. Os relatos, cheios de carinho, deixam claro que a bondade era a maior virtude que ela carregava.
Uma das netas, de sangue, Rosângela Jahn, a definiu como a mais generosa das avós. “A mais querida, a que cuidava de todos, a que dava um dinheirinho escondido na mão dos netos, a que não gostava de tapioca porque dizia que biju era melhor, a que benzia as criancinhas com quebrante, a mais correta, a que ensinou pelo exemplo. Sentiremos saudades e gratidão pelo carinho”, escreveu.
As palavras de quem é de sangue são endossadas por quem era emprestada, como a funcionária pública Adebrícia Borges Moura, de 35 anos. O filho está com 19 anos, mas, quando criança, era benzido por Vó Diomara, para cortar o medo, tirar quebrante e por aí vai. “Ela era muito querida, meu filho sempre pedia a bença, até mesmo depois de grande”, contou Adebrícia.
Vó Diomara é baiana, nasceu em Sussuarana, e se mudou para Coxim há mais de 40 anos. Aqui ela deixa um legado de amor e fé em Deus, que carimbou seu passaporte para o novo lar, no Reino Divino, limpinho e cheirando a alecrim. E nós, como forma de homenageá-la, deixamos a poesia de Maria Gadu, no vídeo abaixo: