Ciência e Saúde
23/09/2013 06:18:04
Especialista avalia que pais querem "terceirizar" filhos usuários de drogas
O crack é um sintoma e não o problema em si. A opinião é da presidenta da Associação de Conselhos Tutelares do Município do Rio de Janeiro, Liliane Lo Bianco.
Agência Brasil/PCS
\n \n O crack é um sintoma e não o problema em si. A opinião é da\n presidenta da Associação de Conselhos Tutelares do Município do Rio de Janeiro,\n Liliane Lo Bianco. Claro que precisamos enfrentar o crack, mas os casos de\n dependência química estão relacionados à ausência de políticas integradas para\n o fortalecimento do núcleo familiar de pessoas em situação de vulnerabilidade,\n avaliou. \n \n Há mais de dez anos trabalhando com crianças e adolescentes em\n situação de risco, ela acredita que os vínculos familiares estão em um ponto de\n fragilidade que muitos pais querem se isentar das responsabilidades legais e\n sociais sobre os filhos. A mãe sai, deixa a criança em casa para ir ao baile e\n o pai não quer saber. São pais que têm os vínculos familiares já esgarçados e\n não têm essa relação de zelo e proteção com os próprios filhos, avaliou. \n \n A presidenta da Associação de Conselhos Tutelares ressaltou que a\n situação é de tal gravidade que os pais, hoje, querem terceirizar o poder\n familiar. Segundo ela, ao tentarem delegar a criação de seus filhos, essas\n pessoas mostram que a relação de proteção familiar e de autoridade diluiu-se.\n \n \n A própria realidade dos conselhos é um exemplo da falta de\n estrutura da sociedade para lidar com o problema. Liliane Lo Bianco destacou\n que na área em que atua o conselho na zona oeste, abrangendo Jacarepaguá, Barra\n da Tijuca, Recreio e Vargem Grande, com mais de 1,5 milhão de habitantes,\n deveria haver outros 12 de acordo com o Conselho Nacional dos Direitos da\n Criança e do Adolescente (Conanda). A realidade, no entanto, é outra: são\n apenas dois conselheiros para 30 atendimentos por dia. \n \n A cada 100 mil habitantes é preciso ter um conselho tutelar para\n que haja um serviço de qualidade. É humanamente impossível atender a todos,\n relatou. Além disso a rede [de assistência] não é integrada e as casas de\n abrigamento não têm projeto terapêutico. Nós não temos o retorno dos casos que\n enviamos, então não sabemos como é a dinâmica. Só sabemos o que aconteceu com\n essas crianças quando eles voltam para nós, ressaltou a presidenta da\n associação. A falta de dados e de números sobre crianças e jovens dependentes\n de drogas impossibilita, segundo ela, a criação de políticas públicas eficazes.\n \n \n Além dos atendimentos espontâneos, o conselho recebe chamadas de\n delegacias, escolas, hospitais e casos relatados ao Ligue 100, entre outras\n fontes de denúncias. Liliane explicou que a maioria dos problemas estão\n relacionados à violência doméstica, sobretudo a falta de afetividade. O que\n leva à droga, à compulsão, à prostituição é a ausência de afetividade. Nosso\n maior problema hoje em dia, nos conselhos, é o grande índice de abandono, seja\n por pais usuários de drogas ou não, explicou ela. \n \n Tem um caso emblemático. O rapaz [filho] começou a usar droga e a\n mãe não quer mais saber dele. Mas o menino havia largado a escola há mais de um\n ano. Se ele tivesse tido uma escola em que fosse estimulado, com horário\n complementar, pais que pudessem acompanhar esse processo, a droga não teria\n entrado na vida dele, lamentou Liliane. \n \n Os investimentos no combate ao uso do crack, segundo ela, devem\n ser voltados principalmente para a prevenção. Na sua opinião, depois que a\n pessoa se vicia o tratamento torna-se muito mais difícil. Não acreditamos na\n internação compulsória pois, sem adesão, o menino volta para rua e vai se\n drogar de novo, disse Liliane. O necessário é ter um espaço para as crianças\n que pedem para ser tratadas, defendeu. \n \n Apesar da situação problemática, Liliane Lo Bianco comemora a\n criação de mais quatro conselhos, em 2013, e outros quatro no ano que vem, além\n da previsão de aumento do número de conselheiros de 60, atualmente, para 100\n até 2014. \n \n O Conselho Tutelar é um órgão não jurisdicional, composto por\n cinco membros eleitos pela sociedade. Os conselheiros atendem crianças e\n adolescentes que sofrem algum tipo de violência ou abuso e são responsáveis\n pela proteção dos direitos das crianças e dos adolescentes. Os conselhos\n fiscalizam os entes de proteção - Estado, comunidade e família - e requisitam\n serviços públicos nas áreas de saúde, educação, serviço social, previdência,\n trabalho e segurança. Além disso, o conselho contribui com o Executivo na\n formulação de ações e políticas públicas a esse público.\n \n \n