\n \n O\n Conselho Federal de Medicina (CFM) passa a permitir a partir desta sexta-feira\n (31) que um paciente deixe orientações ao médico sobre tratamentos que não\n queira receber em casos que já não haja mais possibilidade de recuperação.
A\n nova resolução aprovada pelo órgão será publicada pelo Diário Oficial da União.\n Qualquer maior de idade – ou menor emancipado – pode registrar a chamada\n “diretiva antecipada de vontade”. A pessoa precisa apenas estar lúcida e em\n pleno gozo de suas faculdades mentais.\n \n Em\n nota, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) se disse contrária às\n novas regras.\n \n Pelo\n Código de Ética Médica, o médico não pode praticar a eutanásia – matar um\n paciente, ainda que ele peça. No entanto, o texto prevê que o profissional\n ofereça os cuidados disponíveis e apropriados para uma morte mais humana, nos\n casos de doenças incuráveis e situações irreversíveis ou terminais.\n \n Segundo\n a norma, o registro do documento poderá ser feito pelo próprio médico anexado\n ao prontuário, desde que o paciente autorize expressamente. Não é necessário\n registrar em cartório nem incluir testemunhas, mas isso pode ser feito, caso o\n paciente prefira. Ele pode ainda escolher um procurador que não seja da\n família.\n \n Se\n o paciente quiser cancelar o desejo expresso na diretiva, deve procurar o\n médico para alterar o documento. Caso contrário, essa diretiva prevalece sobre\n qualquer parecer que não seja médico, até mesmo sobre a vontade dos familiares.\n O médico só não deverá seguir a diretiva se ela for contra o Código de Ética.\n \n “Não havia orientação”
\n “Esse passo é mais direcionado a garantir o direito do paciente no momento que\n ele esteja incapaz de comunicar-se”, explicou Élcio Bonamigo, da Câmara Técnica\n de Bioética do CFM, que elaborou a resolução.\n \n Com\n a publicação, os médicos passam a ter uma referência do próprio paciente para\n orientar os tratamentos. “Não havia orientação nesse caso. O que acontecia é\n que os familiares decidiam, e, às vezes, eles também não se entendiam”, apontou\n Bonamigo.\n \n Segundo\n o médico, esse é um passo inicial para chegar a um ponto em que outros países\n já estão. Ele afirmou que na Espanha, por exemplo, esse documento pode ser\n preenchido em postos de saúde.\n \n Dessa\n forma, um paciente pode expressar seus desejos mesmo que não tenha nenhuma\n doença. Ele pode prever a hipótese de algum acidente que o deixe em coma, e\n pedir para desligar os aparelhos após um tempo determinado, diante da\n impossibilidade de recuperação.\n \n CNBB
\n O presidente da CNBB, o cardeal Dom Raymundo Dasmasceno, afirmou que "não\n cabe a cada um a decisão sobre a sua própria vida, no sentido de decidir quando\n ela começa, ou termina". Dom Dasmasceno disse que é preciso defender a\n vida "integralmente.\n \n De\n acordo com ele, a “medicina só tem sentido quando está serviço da vida e da\n saúde”. “Um médico preocupado em terminar com a vida humana está como que\n negando a sua própria profissão, que é cuidar da vida e fazer com que seja\n vivida cada vez melhor, com dignidade”, afirmou.\n \n “Doente\n terminal, eutanásia, aborto, são questões que hoje nos preocupam porque a vida\n para nós é o primeiro direito, dom, pelos quais se fundamentam os demais\n direitos da pessoa humana”, disse o cardeal.\n \n Para\n Élcio Bonamigo, do CFM, a decisão não vai contra a vida em nenhum aspecto.\n “Essa resolução não se refere ao fim de vida do paciente, se refere ao tratamento”,\n afirmou o médico. “A forma de lutar vai ser vista de acordo com o ponto de\n vista do paciente”, completou.\n \n Bonamigo\n lembrou um exemplo em que a religião se aplica a esse caso, e que os médicos já\n respeitam o desejo do paciente. “Mesmo não tendo nada escrito nos códigos de\n ética nem na lei, as Testemunhas de Jeová já têm isso. Eles não querem [receber\n transfusão de] sangue em hipótese nenhuma”, lembrou o representante do CFM.