Correio do Estado/LD
A pesquisa do Instituto Butantan que revela uma substância na saliva do carrapato (Amblyomma cajennense) capaz de reduzir tumores cancerígenos, principalmente melanomas, está na reta final. Em novembro, a União Química Farmacêutica Nacional, co-titular da patente e detentora do licenciamento para comercialização, enviará à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) solicitação para iniciar os testes em humanos. Os testes realizados em animais já comprovaram a eficácia da proteína.
Estudos realizados por pesquisadores do Instituto Butantan, a partir da genética do carrapato Amblyoma cajennense,identificaram uma proteína com ação anticoagulante e potencialmente anticancerígena, codificada por um gene proveniente das glândulas salivares do carrapato.
Após a clonagem do gene, as primeiras experiências com ratos mostraram que houve regressão de tumores do tipo melanoma e de tumores de pâncreas e renais, bem como redução de metástases pulmonares derivadas desses tumores. O câncer de pâncreas não possui tratamento clínico, resultando em óbitos em 100% dos casos não tratáveis por via cirúrgica. “A saliva do carrapato possui propriedades tóxicas para células tumorais, sem oferecer risco para as células saudáveis”, explica a coordenadora do estudo, Ana Marisa Chudzinski-Tavassi.
“A eficácia desta substância em humanos pode oferecer benefícios a milhares de pacientes”, destaca o diretor médico da União Química, Miguel Giudicissi Filho.
Patrocinada inicialmente pela Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), a pesquisa, iniciada em 2003, além de financiada pela farmacêutica nacional, também conta com recursos de mais de R$ 15 milhões do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). O estudo está protegido pelo Patent Cooperation Teaty (PCT), e a expectativa é de que o medicamento seja totalmente produzido no Brasil.
Segundo dados do Instituto Nacional do Câncer (INCA), o câncer de pâncreas representa 2% de todos os tipos, sendo responsável por mais de nove mil novos casos anualmente. Dos pacientes que contraem a doença, 75% morrem ainda no primeiro ano de tratamento. Cinco anos após a detecção do tumor, a taxa de mortalidade sobe para 94%.