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Ciência e Saúde
09/10/2012 07:29:41
Pesquisa sobre células-tronco vence o Nobel de Medicina
O Prêmio Nobel de Medicina de 2012 foi oferecido nesta segunda-feira (8) pelo Instituto Karolinska, em Estocolmo, na Suécia, a dois pesquisadores de células-tronco, o britânico John B. Gurdon, de 79 anos, e o japonês Shinya Yamanaka, de 50.

Correio do Estado/LD

\n \n O\n Prêmio Nobel de Medicina de 2012 foi oferecido nesta segunda-feira (8) pelo\n Instituto Karolinska, em Estocolmo, na Suécia, a dois pesquisadores de\n células-tronco, o britânico John B. Gurdon, de 79 anos, e o japonês Shinya\n Yamanaka, de 50.\n \n Os\n cientistas descobriram, em trabalhos separados por 44 anos de distância, que\n células adultas podem ser "reprogramadas" para se tornar imaturas e\n pluripotentes, ou seja, capazes de se especializar em qualquer órgão ou tecido\n corporal – como nervos, músculos, ossos e pele.\n \n Na\n natureza, todos os animais se desenvolvem a partir de óvulos fertilizados. Nos\n primeiros dias após a concepção, o embrião é composto por células imaturas, que\n acabam virando vários tipos de células durante a formação e o amadurecimento do\n feto. Assim, cada grupo se especializa e adquire a capacidade de desempenhar\n uma função específica.\n \n Até\n então, essa transformação era considerada unidirecional, sem possibilidade de\n volta. Mas os dois cientistas mudaram o destino delas, ao "atrasar o\n relógio" responsável pelo crescimento celular. Isso indica que, apesar de\n o genoma sofrer mudanças com o passar do tempo, essas alterações não são\n irreversíveis.\n \n Cada\n vencedor levará 8 milhões de coroas, equivalentes a R$ 2,4 milhões.\n \n Em\n entrevista por telefone a uma rádio sueca, o biólogo Gurdon, cuja descoberta é de\n 1962, disse que está extremamente agradecido e surpreso pelo Nobel. O cientista\n também revelou ter ficado feliz pelo reconhecimento ao lado de Yamanaka, que\n segundo ele tem feito um "trabalho maravilhoso".\n \n Já\n Yamanaka, em entrevista coletiva na Universidade de Kyoto, no oeste do Japão,\n onde é professor, afirmou que pretende continuar as pesquisas para contribuir\n realmente com a medicina e a sociedade, em aplicações clínicas de\n células-tronco.\n \n "A\n única palavra que vem à mente é gratidão. Quero expressar minha sincera\n gratidão a todos os jovens pesquisadores, aos meus amigos e familiares que\n sempre me apoiaram", declarou o cientista, que em 2006 conseguiu gerar\n células-tronco pluripotentes induzidas (iPS), com recursos que, até então, os\n pesquisadores acreditavam que estavam disponíveis apenas em células-tronco\n embrionárias.\n \n Enquanto\n falava aos jornalistas, Yamanaka recebeu uma ligação do primeiro-ministro\n japonês, Yoshihiko Noda, que o parabenizou pela conquista. O cientista, que\n dirige o Centro de Pesquisa e Aplicação de células iPS na universidade, também\n contou a novidade à mãe, de 80 anos.\n \n Importância das pesquisas\n \n Os\n resultados obtidos por Gurdon e Yamanaka revolucionaram o entendimento sobre\n como as células e os organismos se desenvolvem e segmentam. Isso tornou\n possíveis estudos mais aprofundados sobre doenças e novos métodos de\n diagnóstico e tratamento. Além disso, livros didáticos foram reescritos e\n surgiram novas áreas de investigação científica.\n \n Os\n dois trabalhos também trouxeram grandes avanços à área de medicina\n regenerativa, ao estabelecer as bases para a reprogramação de células adultas\n em células-tronco.\n \n Até\n então, os cientistas acreditavam que esse caminho não poderia ser revertido, ou\n seja, transformar uma célula madura em imatura. Com a descoberta,\n células-tronco agora podem ser cultivadas em grande quantidade em laboratório.\n \n O\n assunto, porém, tem sido motivo de amplas discussões sobre segurança – mas tem\n o lado positivo de não entrar na questão ética envolvida nas células-tronco embrionárias,\n que acabam destruindo embriões para serem usadas.\n \n Segundo\n o Comitê do Nobel, durante a apresentação nesta segunda, é a sociedade que\n precisa discutir se as células adultas devem ou não ser aplicadas em pessoas\n doentes no futuro. Além disso, espera-se que, quando for viável o uso\n terapêutico das células iPS, elas não causem rejeição nos pacientes porque são\n geneticamente compatíveis com a pessoa, o que facilitaria a reconstrução de\n órgãos e tecidos.\n \n Em\n 2007, outro trabalho envolvendo células-tronco, para manipulação genética em\n animais, foi premiado com um Nobel de Medicina.\n \n Para\n 2013, está previsto um teste clínico em Kobe, no Japão, que deve usar pela\n primeira vez essa técnica em pacientes cuja retina sofreu uma doença chamada\n degeneração macular relacionada à idade (DMRI).\n \n Além\n disso, outra linha de pesquisa quer começar a produzir, em grande quantidade,\n células iPS a partir de um pequeno grupo de doadores, o que poderia ser\n utilizado em muitos receptores.\n \n A descoberta de Gurdon\n \n Gurdon,\n que nasceu na pequena cidade de Dippenhall, no sul da inglaterra, é professor\n na Universidade de Cambridge e coordena o Instituto Gurdon, antigo Instituto de\n Células Biológicas e Câncer, que mudou de nome em 2004 como reconhecimento ao\n britânico.\n \n Em\n 1962, o Gurdon fez seu estudo com sapos, ao substituir o núcleo de uma célula\n imatura no óvulo de fêmeas pelo núcleo de uma célula madura do intestino de um\n girino.\n \n Esse\n óvulo modificado acabou se desenvolvendo em um girino normal, apesar de o DNA\n da célula madura conter toda a informação necessária para desenvolver cada uma\n das células do indivíduo.\n \n A\n descoberta de Gurdon, que é PhD e em 1995 foi condecorado com o título de\n cavaleiro (Sir) do Império Britânico pela rainha Elizabeth II, foi recebida\n inicialmente com desconfiança pela comunidade científica, mas foi aceita após\n ser confirmada por outros pesquisadores, que conduziram experimentos com\n clonagem de vacas, porcos e a famosa ovelha Dolly.\n \n O estudo de Yamanaka\n \n Mais\n de 40 anos depois, Yamanaka – que, além de dar aulas na Universidade de Kyoto,\n é ligado ao Instituto Gladstone, em São Francisco, nos EUA – coordenou\n pesquisas com roedores.\n \n O\n japonês, que nasceu em Osaka e havia sido treinado como cirurgião ortopédico\n antes de se dedicar à ciência, percebeu que quatro genes, quando ativados,\n podem induzir essa capacidade de pluripotência nas células, capazes de virar\n qualquer célula do corpo.\n \n As\n células-tronco foram isoladas inicialmente pelo ganhador do Nobel de 2007\n Martin Evans, e Yamanaka tentou encontrar os genes que as mantinham imaturas.\n Quando quatro genes foram identificados, o pesquisador testou se qualquer um\n deles poderia ser reprogramado para tornar as células pluripotentes.\n \n Esses\n genes foram, então, introduzidos em células maduras do tecido conjuntivo,\n chamadas fibroblastos e localizadas na segunda camada da pele – a derme. Dessa\n forma, células adultas voltaram a ser imaturas, com a possibilidade de gerar\n neurônios a células intestinais.\n \n Nobel de Medicina\n \n O\n Nobel de Medicina é oferecido desde 1901 e já reconheceu o trabalho de 199\n pessoas – 189 homens e 10 mulheres. Ao todo, 78 pesquisadores eram britânicos e\n 16, japoneses. A média de idade dos cientistas na data do anúncio era de 57\n anos, e não há premiações póstumas – embora, no ano passado, um dos cientistas\n agraciados tenha morrido três dias antes da divulgação.\n \n O\n pesquisador mais novo a receber esse Nobel foi Frederick G. Banting, que tinha\n 32 anos em 1923, pela descoberta da insulina.\n \n Por\n nove vezes, o prêmio – que ganhou esse nome em homenagem ao inventor da\n dinamite, Alfred Nobel – não foi anunciado: em 1915, 1916, 1917, 1918, 1921,\n 1925, 1940, 1941 e 1942.\n \n Medicina\n é sempre a primeira área valorizada com o Nobel a cada ano. Nesta terça-feira\n (9), será anunciado o Nobel de Física, na quarta (10) o de Química, na quinta\n (11) o da Paz, e na sexta (12) o de Economia. O de Literatura ainda não tem\n data definida.\n \n Os\n vencedores são geralmente informados pelo júri no dia do anúncio oficial e não\n há uma lista de concorrentes disponível previamente, o que torna a divulgação\n sempre uma surpresa, embora haja favoritos.\n \n Veja os últimos dez ganhadores do Nobel de Medicina\n \n 2012:\n Shinya Yamanaka (Japão) e John B. Gurdon (Grã-Bretanha), por trabalhos com\n células-tronco\n \n 2011:\n Bruce Beutler (EUA), Jules Hoffmann (França) e Ralph Steinman (Canadá), por\n descobertas sobre o sistema de defesa do corpo humano\n \n 2010:\n Robert Edwards (Grã-Bretanha), pelo desenvolvimento da fertilização in vitro\n \n 2009:\n Elizabeth Blackburn (Austrália-EUA), Carol Greider e Jack Szostak (EUA), pela\n descoberta de uma enzima que protege as extremidades dos cromossomos\n \n 2008:\n Harald zur Hausen (Alemanha), pela descoberta do vírus do papiloma humano\n (HPV), causador do câncer de colo do útero; Françoise Barré-Sinoussi e Luc\n Montagnier (França), por descobertas sobre o vírus da imunodeficiência humana\n (HIV), que causa a Aids\n \n 2007:\n Mario Capecchi (EUA), Oliver Smithies (EUA) e Martin Evans (Grã-Bretanha), por\n trabalhos com células-tronco e manipulação genética em modelos animais\n \n 2006:\n Andrew Z. Fire (EUA) e Craig C. Mello (EUA), pela descoberta da\n ribointerferência, um mecanismo exercido por moléculas de RNA\n \n 2005:\n Barry J. Marshall (Austrália) e J. Robin Warren (Austrália), pela dascoberta da\n bactériaHelicobacter\n pylorinbsp;e seu papel na gastrite e úlcera estomacal\n \n 2004:\n Richard Axel (EUA) e Linda B. Buck (EUA), por descobrir os receptores de cheiro\n e a organização do sistema olfativo\n \n 2003:\n Paul C. Lauterbur (EUA) e Peter Mansfield (Grã-Bretanha), pela invenção da\n ressonância magnética nuclear\n \n \n \n \n