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Ciência e Saúde
12/06/2021 10:19:00
Sem prescrição, tomar anticoagulante antes de vacina é correr risco

CGNews/LD

O medo de uma possível trombose por conta da vacina covid-19 criou outro problema para a saúde pública, o abuso de medicamento. Após casos da enfermindade relacionados ao imunizante Astrazeneca/ Fiocruz, a procura por anticoagulantes nas farmácias cresceu tanto que chegou a causar desabastecimento. A título de prevenção, as pessoas passaram a tomar anticoagulantes antes da aplicação da dose. Mas atenção: essa profilaxia é desautorizada e representa, em vez de prevenção, o risco de problemas de saúde como sangramentos.

No começo da covid-19, em março de 2020, a procura por medicamentos anticoagulantes começou a crescer em razão do kit covid. Na época, existia a falsa ideia de que poderiam evitar agravamento da doença. Mas agora o medo é outro: trombose por conta da vacina Astrazeneca e a procura indiscriminada da medicação, causa um desabastecimento nas farmácias prejudicando quem realmente precisa tomar o remédio.

Ao Campo Grande News, o cirurgião vascular e endovascular Ricardo Magnani explicou que tomar um medicamento antes da vacina sem nenhuma prescrição médica é uma atitude equivocada e não existe benefício nenhum.

Não há benefício em tomar esses medicamentos antes da vacina. Os pacientes que já fazem uso de anticoagulante, por diversas causas, devem manter o uso da medicação. A chance de você ter trombose por conta da vacina é muito baixa, se eu não engano, da Astrazeneca a chance é de 0,004% e da Jansen é de 0,001%. Então existem outros fatores que envolvem muito mais risco que a vacina, como o próprio anticoncepcional e o vírus que envolve 16% a 20% de chance de trombose venosa profunda", explicou o profissional da Medicina.

Segundo o especialista, os casos que aconteceram na Europa de mulheres que tomaram a Astrazeneca e depois de cinco a sete dias desenvolveram trombose venosa cerebral já foram estudados e a causa já foi identificada.

"Esses casos graves a proporção na Europa foi de 1 para 168 mil, no Canadá de 1 para 250 mil e nos EUA de 1 para 500 mil. É uma alteração extramente rara que já identificaram a causa e já tem tratamento específico para isso que inclui não tomar anticoagulante, se o paciente fizer uso de eparina, inclusive, pode piorar a situação. Então pode ser um risco maior ainda o paciente buscar um remédio na farmácia por um efeito da vacina que já tem tratamento e que envolve não tomar medicação ", detalhou o médico.

"Esses medicamento são sérios e o principal risco é o sangramento, então é preciso muito critério para serem prescritos. Alguns pacientes graves podem ter complicações como acidente vascular cerebral hemorrágico e sangramento gastroentestinal, por exemplo.", completou Ricardo.

"Os casos precisam ser avaliados. Se algum paciente após a vacina tiver alguma condição clinica deve procurar imediatamente o médico. A gente consegue resolver com uma avaliação física. Hoje mesmo atendi dois pacientes com dor na perna, fizemos o exame aqui e descartamos a trombose.", afirmou.

Questionado sobre pacientes que já tem histórico ou tiveram trombose ou embolia pulmonar, Ricardo explicou que ainda não existe uma resposta categórica, no entanto ainda não há nenhuma contra indicação da vacina nesses casos, e a orientação é se imunizar.

"Quem já tem histórico de trombose ou embolia e está tomando a medicação, ele já está teoricamente protegido, então ele pode tomar a vacina. Se o paciente teve e não faz mais uso da medicação, procure atendimento médico para que seja avaliado e orientado da melhor forma. De forma geral a recomendação é tomar a vacina e não há nenhuma evidência cientifica para usar anticoagulante ou outro medicamente antes ou depois da vacinação", finalizou o médico.