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O Brasil registrou até o fim de agosto 224 mil km² de incêndios, o equivalente ao tamanho de Roraima. O mês de agosto sozinho responde por quase metade de toda a área queimada. E os sintomas de toda essa tragédia ambiental são percebidos na saúde.
Prestando atenção na respiração do Kleber. É possível ver e ouvir o esforço. Ele está internado com bronquiolite. A tosse e a inflamação nos pulmões do bebê de um mês, segundo a mãe, chegaram junto com a fumaça.
"Quando fizeram o exame, o raio-x, aí é quando o doutor descobriu que ele estava com bronquiolite. Imagina um bebê desse, fiquei muito assustada mesmo", diz a mãe de Kleber, Alice Motondo Sanda.
E o Kleber está longe de ser o único a ter os pequenos pulmões afetados pelo ar seco e sujo de São Paulo. O Menino Jesus é um dos mais importantes hospitais infantis e públicos de São Paulo. Em um dia comum de setembro, atende em média 120 crianças. Nesses dias de secura e poluição, está atendendo mais de 200.
"Um dos fatores que mais está contribuindo para esse aumento exagerado de consultas no nosso pronto-socorro é a poluição. Agride esse revestimento no nosso sistema respiratório, facilitando o aparecimento de infecções, sejam elas causadas por vírus ou bactérias", destaca Antônio Madeira, superintendente-médico do Hospital Infantil Bom Jesus.
A poluição é medida por tipo e tamanho das partículas que estão no ar. As mais grossas irritam nariz e garganta, mas as mais finas e os gases tóxicos penetram fundo nas estruturas dos pulmões e chegam até o sangue, espalhando os efeitos danosos pelo corpo.
"Acomete coração, cérebro, inclusive rins e fígado. Então, ele pode se disseminar e causar um processo inflamatório nesses órgãos. Essa inflamação pode ficar crônica e aí pode acabar piorando as doenças que o paciente já tenha, ou não, e pode ficar mais agravada por conta dessa exposição prolongada", afirma Fernando Oliveira, infectologista do Hospital São Luiz.
O movimento em uma rede de hospitais particulares aumentou mais de 15% na última semana. A gerente-executiva Evelyn Okoda, que não tem problemas de saúde, passou a se sentir mal, principalmente quando está na rua. Nesta quinta-feira (12), foi parar no Pronto Socorro.
"Desde segunda-feira, eu venho sentindo muita falta de ar. E essa falta de ar está ocasionando também um pouquinho de tontura", relata a gerente executiva, Evelyn Okoda.
A poluição do ar causa cerca de 7 milhões de mortes por ano no mundo, segundo a Organização Mundial de Saúde. Especialistas já falam em redução da grande conquista que é o aumento da expectativa de vida. A saúde de todos nós depende da saúde do planeta e de um ar mais limpo para respirar.