Terra/PCS
Durante milhões de anos o toque significou muito mais do que apenas um gesto de carinho ou respeito por alguém. Registros históricos comprovam que, por volta de 1.800 (A.C), terapeutas já haviam descoberto que o toque, principalmente através de massagens terapêuticas, funcionava como eficiente forma de cura e de prevenção contra inúmeras doenças físicas e até psicológicas, como depressão e hipertensão.
Com o passar dos anos, os modernos tratamentos e estudos a respeito da psicologia humana só comprovaram (e reforçaram) o que aqueles sábios já declaravam: o ato de tocar é fundamental para o desenvolvimento do ser humano - tanto na questão sensorial (pele) quanto psicológica (emoções provocadas por essas sensações).
Através do toque expressamos inúmeros sentimentos como carinho, respeito, proteção, consolo e atenção. Sentimentos sempre tão presentes em nossas relações cotidianas que, muitas vezes, ignoramos o seu verdadeiro poder.
***"Abraçar é dizer com as mãos o que a boca não consegue, porque nem sempre existe palavra para dizer tudo"
A distância física, por exemplo, pode ser facilmente compensada através da tecnologia, que já torna possível a comunicação por vídeo em tempo real. Mas o verdadeiro toque, o abraço ou o conforto de um colo familiar jamais poderá ser substituído por uma tela.
O simples ato de abraçar alguém que amamos, por exemplo, promove tantos benefícios ao corpo e a mente quanto comer um chocolate ou receber um elogio sincero: de acordo com estudo realizado pela Universidade Médica de Viena, na Áustria, conduzido pelo neurofisiologista Jürgen Sandkühler, abraçar reduz o stress, o medo e a ansiedade, além de promover o bem-estar e melhorar a memória.
Todos esses efeitos devem-se à liberação de ocitocina no organismo, popularmente conhecido como “hormônio do amor”, que cai na corrente sanguínea das duas pessoas que se abraçam, relaxando o corpo, diminuindo o ritmo cardíaco, a pressão arterial e os níveis de cortisol, que geram o stress.
De acordo com estudos, a liberação de ocitocina, que ocorre ao tocarmos alguém que amamos, é duas vezes maior quanto tocamos nossas mães. A razão para este acontecimento é de que nosso corpo e cérebro reagem de forma natural aos extintos maternos, criado logo após o primeiro contato com a mãe.
Tais descobertas, no entanto, não foram importantíssimas apenas para a ciência e psicologia humana: a partir da segunda metade do século XX, o setor de cosméticos e perfumaria usou estas informações para alavancar seus negócios, principalmente em datas especiais como o Dia das Mães, segunda data mais importante para o comércio, atrás apenas do Natal.
Com campanhas do tipo “dê um toque de carinho a sua mãe”, “toque o coração de quem mais te ama” e “um toque especial para sua mãe”, o varejo, ao longo dos anos, ganhou cada vez mais representatividade na vida das brasileiras apenas estampando essas frases junto a imagens de filhos presenteando suas mães.
Pesquisas realizadas em maio de 2016 apontaram que o percentual de consumidores brasileiros que planejaram comprar presentes para o Dia das Mães havia caído de 85% em 2015 para 75% no ano passado, embora o ticket médio tenha subido. Tal cenário, entretanto, não assustou as redes de franquias no setor de perfumaria e cosméticos, que mais do que dobra suas vendas nessa época.
*"A família não nasce pronta; constrói-se aos poucos e é o melhor laboratório do amor. Em casa, entre pais e filhos, pode-se aprender a amar, ter respeito, fé, solidariedade e companheirismo."*
Luis Fernando Veríssimo
Outros produtos e serviços, como smartphones e viagens, também costumam entrar na mira dos consumidores neste período, embora ocupem posições inferiores na lista de presentes. Mas, apesar da boa intenção que todos nós temos em querer presentear nossas mães com “tudo do bom e do melhor”, muitos ainda se esquecem do que verdadeiramente importa para elas: a nossa presença.
O desejo é até compreensível. A correria diária, somada às inúmeras possibilidades de consumo pelas quais somos bombardeados através dos meios de comunicação, acaba por nos afastar de momentos de contato, de toque e de carinho. Momentos que as mães valorizam e esperam dos seus filhos.
Na contramão dos princípios do comércio, a maioria dos filhos também sabe que dar um presente é diferente de estar presente na vida de suas matriarcas – embora sempre prefiram compensar a falta de contato com alguma lembrancinha.
“Morei na Holanda por uma década, e como não podia celebrar o Dia das Mães com a minha mãe todos os anos sempre enviava presentes para ela através do correio”, confessa a enfermeira Vera Lúcia Faria. “Agora que voltei ao Brasil, vejo o quanto tudo aquilo foi inútil. O que a minha mãe queria mesmo era me ter por perto”, completa Vera Lúcia Faria.
Em janeiro de 2017, a professora auxiliar Vanessa Pinheiro passou pela experiência de se tornar mãe pela primeira vez. Alexandre nasceu no dia 24, um pouco antes do que o previsto pelos médicos. “Senti muita dor durante o trabalho de parto, mas valeu a pena. Me emocionei assim que ouvi o chorinho dele, e mais ainda quando o peguei no colo”, lembra.
Naquele momento, Vanessa se deu conta: é mãe!
Mais segura do que nos dias que antecipavam o nascimento do pequeno Alexandre, ela ainda diz que não há nada no mundo que pague a sensação de poder segurar o próprio filho nos braços. “Só agora eu entendo aquela frase que diz: o amor é cego”, conta emocionada.
“O melhor presente que ele pode me oferecer hoje e sempre é um sorriso bondoso, um olhar carinhoso e um abraço apertado”.
Tanta troca de carinho entre mães e filhos, no entanto, é algo relativamente novo. Durante gerações, as mães receberam a mensagem de que manter os filhos por perto era errado e talvez até perigoso. A desculpa para tomar tal atitude é deque promover laços emocionais profundos com os filhos os tornariam mais fracos e dependentes de suas mães, impossibilitando-os de se tornarem adultos saudáveis.
Apesar de tal pensamento ser um total equívoco, foi somente a partir da segunda metade do século passado, quando médicos e especialistas provaram (inúmeras vezes) o quão importante e benéfico era o poder do toque de mãe, é que elas finalmente puderam gozar da maternidade e dedicar-se integralmente aos seus filhos sem ter medo de serem julgadas.
Tanto carinho e dedicação renderam bons frutos e inúmeras homenagens àquelas que abrem mão de tudo pelos filhos. Músicas como No Dia em que Saí de Casa, de Zezé de Camargo e Luciano, e filmes do tipo Que Horas ela Volta, estrelado por Regina Casé, bem como o poema Minha Mãe, do poeta Vinícius de Moraes, são bons exemplos de como e porque o toque materno é tão importante em todas as fases da vida e merece ser reconhecido e recompensado todos os dias.
Mas não é preciso cantar uma música, escrever um longo texto nas redes sociais ou mesmo oferecer grandes presentes para demonstrar a consideração que sentimos por nossas mães. Carinho, respeito, atenção e amor não se compram com tais coisas. Para realmente fazer a diferença na vida de quem mais amamos é preciso doar-se por inteiro, isto é, tornar cada segundo ao lado dela um momento inesquecível.
Seja através de um abraço, um cafuné ou um simples afago, o carinho de mãe se faz sempre presente. Por essas e outras tantas demonstrações de afeto, é que o toque e alívio que elas nos proporcionam são tão fundamentais para a manutenção da nossa saúde, do nosso amor.