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Comportamento
19/11/2025 14:05:00
Dia do Homem: eles evitam médicos e Novembro Azul alerta para 462 mortes em MS
Em dois anos, o Mato Grosso do Sul perdeu 462 pessoas mortas por câncer de próstata

MMN/PCS

Homens negligenciam a própria saúde, evitam consultas médicas e sofrem com o risco de doenças durante todo o ano. Porém, neste mês a campanha Novembro Azul chama atenção para a saúde masculina e os exames preventivos contra o câncer de próstata, que matou 462 sul-mato-grossenses desde 2024.

Segundo a SES (Secretaria Estadual de Saúde), o Estado registrou 255 mortes por conta de neoplasia maligna da próstata, termo técnico para câncer. Neste ano, MS já acumula mais 207 óbitos causados pela doença. A doença é tratável e o diagnóstico precoce pode salvar vidas: a taxa de cura ultrapassa 90%

A estimativa do Inca (Instituto Nacional de Câncer) é de 72 mil casos deste câncer por ano no Brasil e 48 homens morrem por dia em decorrência da doença. No entanto, a próstata não é o único órgão do corpo masculino que pode adoecer. A saúde mental, do coração e a segurança são outros desafios para os homens.

“Homens morrem mais em acidentes de trânsito, violência e por doenças cardiovasculares. É um alerta para cuidar do peso, fazer atividade física e manter o check-up em dia”, explica o médico urologista Thiago Frainer, especialista em cirurgia robótica.

Padrão de autonegligência

A criança nasce e começa o acompanhamento médico com o pediatra. Depois, o homem cresce e deixa de passar por consultas frequentes. “Só vai ao clínico geral quando tem alguma gripe ou algo assim”, diz o urologista Thiago Frainer.

“Um problema cardiovascular ignorado pode resultar em infarto ou AVC (Acidente Vascular Cerebral), deixando sequelas permanentes. No câncer, quando o diagnóstico vem tarde, o tratamento é mais agressivo e afeta a vida pessoal e familiar”, explica o médico. Se a descoberta é precoce, pode-se evitar as dolorosas rotinas de quimioterapia e radioterapia.

Quando o assunto é saúde mental, aquela velha frase ainda é repetida por alguns: ‘homem não chora’. Porém, o público masculino nunca foi imune às doenças e condições psicológicas. “Ansiedade e depressão são mais difíceis de serem aceitas pelos homens. Observamos índices altos de suicídio, inclusive em jovens”, diz Frainer.

O especialista defende que o urologista deve ser “o médico do homem“, responsável pelo acompanhamento muito além do pênis. “Somos porta de entrada: orientamos e encaminhamos para cuidados específicos”, diz o médico, Ele explica que a atenção no consultório é à saúde integral dos pacientes. “O ideal é que o adulto faça rotina anual para avaliar diversos pontos da saúde, não apenas a próstata”, conclui.

Quando procurar um médico?

Todos os homens a partir de 50 anos deve fazer, anualmente, exame de próstata. “No início, o câncer costuma ser silencioso. Por isso o rastreamento é importante”, explica Thiago Frainer. Se há histórico familiar da doença em parentes de primeiro ou segundo grau, o rastreio deve começar entre os 40 e 45 anos.

Obesidade, idade acima de 60 anos e histórico familiar são os principais fatores de risco para o câncer de próstata. Além disso, o urologista cita sinais de alerta para a doença:

Jato urinário fraco ou intermitente;

Necessidade de fazer força para urinar;

Aumento da frequência urinária, inclusive à noite;

Dor ou sangramento ao urinar ou ejacular.

No entanto, ele alerta que é necessário fazer exames preventivos antes dos primeiros sintomas. “A maioria procura o médico quando sente alguma coisa. Ainda assim, conseguimos detectar doenças no início com certa frequência”, explica Frainer.

O temido exame

O primeiro passo para diagnosticar alterações na próstata, que podem revelar um câncer, é o PSA (Antígeno Prostático Específico), exame de sangue, que auxilia no rastreamento e diagnóstico de problemas no órgão, como câncer, hiperplasia prostática benigna e prostatite. Este exame é recomendado a partir de 50 anos.

Então, há o grande tabu da doença: o exame de toque. Nesse caso, o médico precisa inserir uma parte do dedo no canal retal masculino para sentir se há alterações no tamanho, formato ou textura da próstata. Pode parecer assustador para alguns, mas é indolor e extremamente rápido, conforme garantem os médicos.

“Dura de cinco a dez segundos. Não interfere na vida sexual e não provoca dor na maioria dos casos, apesar de gerar um leve incômodo. Ainda não existe exame capaz de substituí-lo totalmente“, explica Thiago Frainer, médico urologista. Se houver suspeita, pode ser necessário realizar ultrassom ou ressonância magnética.

Segundo Thiago Frainer, a chave para substituir o tabo dos exames de próstata são informação e conversa. “Muitos chegam instruídos, buscando fontes confiáveis. Outros ainda carregam preconceitos, mas conseguimos quebrar essa resistência durante a consulta com muita explicação”.

O elefante na sala: sexo

Outro tabu para os homens são as questões relacionadas ao sexo. Eles tem dificuldade de assumir transtornos de ordem psicológica e isso pode influenciar nas atividades sexuais. “Sono ruim, estresse, ansiedade e depressão afetam ereção, libido e qualidade de vida”, explica Thiago Frainer.

Isso pode gerar um ciclo vicioso de piora e exige diálogo, conscientização e confiança no médico. Outros problemas frequentes na vida sexual masculina, segundo o médico, são a ejaculação precoce ou disfunção erétil. Essas questões, principalmente entre os mais jovens, podem ser relacionadas à saúde mental.

“A ejaculação precoce costuma estar ligada à ansiedade, depressão ou dinâmica com a parceria. Já a disfunção erétil depende da faixa etária: nos jovens, é mais emocional e de estilo de vida; nos idosos, pode envolver baixa testosterona, problemas vasculares, hipertensão, diabetes e tabagismo”.

Tamanho é documento?

Durante a consulta com o urologista, o tamanho do pênis – outro assunto tabu entre os homens – também é motivo de vergonha, que dificulta a ida ao médico. “A avaliação física faz parte da consulta. A preocupação com tamanho do pênis é comum, mas a maioria não tem qualquer alteração. Informação e confiança resolvem isso”.

Segundo o urologista Thiago Frainer, essas visões distorcidas podem ter ligação com o abuso de consumo de pornografia. Isso também pode afetar em dificuldades de ereção e ejaculação precoce.

A ‘febre’ da tadalafia

Medicamento utilizado para controle de disfunção erétil, a tadalafila também é usado, de forma clandestina, como pré-treino por pessoas que frequentam academias.

“Muitos jovens tomam para treinar ou por dificuldades de ereção por conta de ansiedade, sem indicação médica. Isso pode gerar dependências sérias”, explica Thiago Frainer. No caso da disfunção erétil causada por ansiedade, comum em jovens, nenhuma medicação é necessária.