Pauta Materna/PCS
Claudiane Furtado perdeu seu bebê em um trágico acidente de carro três dias após o parto. Hoje, quase dois anos depois, ela escreveu um lindo desabafo e contou, pela primeira vez, como foi viver esse momento tão doloroso, os desafios que superou (e ainda está superando) e de como renasceu com a chegada de seu segundo filho, Vinícius, de 5 meses. Prepare-se para se emocionar!
A carta
Antes que leiam a minha história, quero que entendam que essa foi a maneira que eu encontrei para lidar com a morte do meu filho. Eu acredito que estamos sempre evoluindo e que sempre temos mais uma chance, que a morte não é o fim de tudo.
Em 2014, ter um filho não estava em nossos planos, mas depois de cair a ficha que eu iria ser mãe, eu adorei. Tudo foi se transformando, meu corpo e minha mente, nada mais era igual. Eu pensava por dois.
A descoberta do sexo mexeu um pouco comigo, porque eu pensava que seria mãe de uma menina, mas veio o Claudio Eduardo. Foi lindo, foi maravilhoso, ele se mexia muito dentro da minha barriga e eu amava, era algo fantástico acontecendo. Eu não me cansava de sentir aquela sensação maravilhosa, eu carregava em mim o ser mais lindo e amado do mundo. Ele era o presente de Deus para mim e minha família.
Me preparei para um parto normal (quase desisti eu confesso rsrsrs). Porém deu tudo certo, ocorreu tudo bem e eu consegui. Quando eu vi o Cláudio Eduardo pela primeira vez entendi o que já havia lido inúmeras vezes sobre aquele momento e percebi também que não se pode traduzir tanto amor em palavras, só quem já viveu isso é capaz de imaginar o que eu estou dizendo.
Era muita emoção, eu não era capaz de dormir. Mesmo cansada, eu não conseguia me desligar dele, de parar de olhar o quão perfeito ele era. Pouco tempo depois de nascer ele quis se alimentar e, como num passe de mágica, ele começou a mamar. Foi tão simples pra ele que parecia que já havia feito aquilo inúmeras vezes. Posso afirmar com toda certeza que aquele momento foi um dos mais mágicos da minha vida, com certeza será inesquecível. Me lembro com uma riqueza muito grande de detalhes como me emocionei com aquele momento. Meu pequeno estava ali comigo, lindo e perfeito em meus braços.
Ele era esperto, ativo, ate conseguiu esboçar um sorriso no segundo dia de vida. É engraçado como ser mãe é algo tão simples e complexo ao mesmo tempo, as coisas vão acontecendo de forma natural, o medo e a insegurança vão ficando de lado, eu me sentia uma “super mulher”. Bastava olhar pra mim pra ver o quão feliz e sorridente eu estava.
Infelizmente, após três dias de vida um acidente fatal o tirou de mim, de nós. E aquele sorriso e felicidade em meu rosto também foram arrancados de mim naquele dia. Fiquei sem chão, sem ar, sem fé, sem coragem de me olhar no espelho e me ver sem ele. Surgiram muitas perguntas em minha cabeça: Por que comigo? Por que com ele? Por que com a minha família? Não existe resposta, mas existe Deus.
E por mais que doa e machuque, por maior que seja a revolta, a única forma de continuar vivendo foi me apegando ainda mais a Deus e com as pessoas que me amam. (Quando digo me apegando ainda mais com Deus, não estou falando em ir para dentro de uma igreja ou algo assim. Era tudo no silêncio do meu quarto, do meu eu que busquei a Deus e o encontrei).
Continuar vivendo sem ele foi e é difícil ate hoje. Ele foi um anjo lindo e grandioso que veio naquele corpo pra nos ensinar algo, pra nos ajudar em nossa missão aqui na terra.
Nunca quis me desfazer das coisas dele, nada foi tirado do lugar, mas eu sabia que ele não estava ali naqueles objetos, tinha muito discernimento pra entender que ele tinha se desligado do corpo físico, mas tinha certeza também que ele estava junto comigo, em meu coração, em minhas lembranças.
Aceitar a morte não é fácil pra ninguém, eu nunca aceitei a morte dele, eu convivo com isso. Então se eu era obrigada a conviver com isso eu poderia pedir, pedir ele de volta. Acredito muito que orações quando são feitas com fé e esperança são atendidas. E lá estava eu, pedindo pra Deus mais uma chance. Só eu sei o quanto implorava pra ter um milagre em minha vida e na vida das pessoas que eu amo.
Eu orava pra poder ver meu anjinho nos meus sonhos, e na maioria das vezes ele estava lá, mostrando pra mim que estava bem. Aos poucos fui deixando a minha vida seguir, mas nunca e em nenhum momento eu deixei meu filho de lado. Ele me acompanhou sempre. Não podia fazer nada ou ir a algum lugar sem que me lembrasse dele. Nos momentos que eu achava que não podia mais suportar a dor, eu pedia a ele força e coragem pra continuar.
Quando eu percebi que estava preparada psicologicamente pra ter meu filho de volta, eu mais uma vez fui e me coloquei a pedir milagres, pedia a Deus que se fosse da vontade dele, que meu filho voltasse pra nós. Cheguei, por várias vezes, pedir que viesse da mesma forma, no mesmo sexo, pra que eu pudesse ter a certeza que a minha fé não estava errada.
Eu não queria precipitar as coisas, então decidi continuar fazendo uso da pílula e deixar que as coisas acontecessem no momento certo. E aconteceu! Hoje tenho em meus braços meu filho, de uma forma linda ele voltou pra mim, pra nós. E, cinco meses, ele tem me ensinado dia após dia a ser feliz, a viver um dia de cada vez, a amar sem medidas. A cada sorriso em seu rosto eu vejo a face de Deus junto a mim, prova de amor maior que essa nunca existirá.
Quando olho o meu pequeno meu coração transborda de felicidade, algo inexplicável jorra de dentro de mim. Antes uma dor me sufocava por várias vezes durante o dia, hoje quando suspiro é de amor e felicidade. Uma grande saudade ainda habita o meu coração, mas aquela dor de antes aos poucos está se ausentando e dando lugar apenas a lembranças lindas.
O Cláudio Eduardo tinha uma missão rápida e curta, mas tenho fé que o Vinícius veio pra amenizar a dor e responder ao meu pedido de milagre. Talvez um dia eu entenda os motivos pra tudo ter acontecido, mas hoje eu não busco mais por isso. Busco ser melhor a cada dia, principalmente pra minha família.
O que eu tenho a dizer pra quem passou ou passa por uma situação parecida com a nossa é: nunca perca a fé, mesmo que você pense que nada mais existe ou faça sentido, você não pode parar ou se entregar, tem muita gente que precisa de você (como foi o meu caso, tinha meu anjinho no céu, meu marido, meus pais, meus irmãos, minha família e meus amigos).
Outra coisa, nunca deixar de acreditar naquilo que faz sentido para você porque alguém acha que é errado. As pessoas não precisam ser iguais, mais devem respeitar o sentimento e a fé dos outros. E por último, nunca culpe Deus ou se desapegue Dele. Fácil não é pra ninguém, mas a vida por menos sentido que as vezes tenha, tem que ser vivida e com Deus do lado fica tudo mais fácil.
Meu pequeno me ensinou muita coisa com a sua chegada e sua partida tão precoce, me aproximou de pessoas, me ensinou a ser mãe e a amar sem medidas. Ensinou-me a ser paciente, a não exigir perfeição das outras pessoas e que pra ser feliz não precisamos de muito, apenas de amor. Que a felicidade verdadeira não está nas coisas e sim nos gestos, no carinho e dedicação.
Ah! Sabe aquele sorriso e aquela felicidade que eu possuía e me foi tirado? Pois bem, eis que eu tenho de volta. A chegada do Vinícius me fez viver novamente!
Abraços! Claudiane.