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Um Buggy totalmente artesanal, com motor 1.6 de um Fox Volkswagen e rodas de caminhonete aro 15, é o novo xodó do juiz David de Oliveira Gomes Filho, titular da 2ª Vara de Direitos Difusos, Coletivos e Individuais Homogêneos de Campo Grande. Pois é, nem só de audiências vive um magistrado. Um sonho de criança, que chegou aos 50 anos de idade, virou atração no trânsito da cidade.
Com o pai professor e mãe costureira, David não tinha condições financeiras para a compra do veículo, mas, nem por isso, o sonho acabou. Antes de setembro de 2018, aniversário de 50 anos, o juiz decidiu que estava na hora de realizar o desejo preservado por décadas no coração.
"Minha mãe era costureira e meu pai, além de atuar como professor de macro e micro economia, também foi comerciante. Ele faliu quando eu tinha 15 anos e depois só ficou dando aulas. Meu pai faleceu quando eu tinha 18 anos e minha mãe ficou viúva com cinco filhos e dois netos, mas conseguiu formar todos os filhos", conta.
Assim que se formou, David saiu de Ponta Grossa, com o intuito de ir subindo as regiões do país, mas parou em Mato Grosso do Sul. Por dez anos, o magistrado atuou em municípios do Estado, até se fixar em Campo Grande, cidade que, segundo ele, é apaixonante.
"Saí de Ponta Grossa e a primeira cidade que parei foi Campo Grande. Eu gostei, uma cidade super arborizada, de um povo simpático decidi ficar. Comecei a trabalhar, passei no concurso e comecei a rodar o interior do Estado. Passei por Porto Murtinho, Bataguassu, Coxim, Bonito e agora me fixei aqui, onde sou casado e tenho duas princesas, de 13 e 16 anos, as paixões da minha vida", conta.
David cresceu vendo Buggys seguindo para o litoral curitibano. Nascido em Ponta Grossa (PR), o pequeno sonhador já se imaginava dentro do automóvel recreativo, popular nas praias do sul e nordeste.
“Era um sonho ter um Buggy. Ponta Grossa não tem praia, mas não é muito longe do litoral. E lá você vê muita gente com Buggy, pelo menos quando eu era criança eu via. Eu sempre tive essa vontade, meu pai não podia pagar e minha mãe também não, mas o sonho nunca morreu”, conta.
Ele só não imaginou que seria um pouco demorado. “Comecei a procurar na internet e achei Jonas. Encomendei, mas levou seis meses para ficar pronto. Eu achei que ia terminar a tempo do aniversário. Mas ele fez e eu mesmo fui buscar”, lembra David.
O veículo foi construído do zero, de forma totalmente artesanal, por um ex-empresário do ramo automobilístico. Depois de fechar a empresa, o mecânico Jonas Ratier ficou produzindo em casa, mas os altos impostos o obrigaram a se aposentar.
Conforme David, Jonas chegou a produzir mais de mil Buggys, quando tinha a firma. “Ele disse que até vendeu muito e exportava até para o Caribe, mas parou durante a crise, principalmente, no governo da Dilma. Ele acabou fechando e começou a produzir em casa, mas o imposto alto o impossibilitou de continuar. Então, decidiu se aposentar”, conta.
O Buggy tem tabela Fipe e tudo que um qualquer outro carro tem direito. “O meu Buggy foi o antepenúltimo. Foi meu presente de aniversário e o fim das produções dele. O projeto foi do Jonas, mas eu escolhi a cores do banco, preto e vermelho, a cor do carro, os desenhos e a faixa vermelha. Os detalhes da pintura são escolha do cliente”, conta.
Atração - De terno e um bonezinho na cabeça por causa do vento, o juiz chega para trabalhar no Fórum da Capital. A cena é uma verdadeira atração num trânsito que não é dominado por conversíveis. Os recordes de temperatura dos últimos dias têm obrigado David a deixar o veículo na garagem, mas o magistrado abriu uma exceção e o Lado B deu um voltinha no Buggy.
“O pessoal me para no sinaleiro. Eu moro perto do Parque dos Poderes e de lá aqui (Fórum) ou daqui até lá (residência), surge uma conversa com algum estranho com perguntas sobre o motor, fabricante, quanto paguei e um monte de dúvidas”, conta.
O transporte de Curitiba a Campo Grande teve chuva e o desafio de carretas “monstruosas”. “Mas ele é firme e super estável. Não entrou uma gota de água. Ele tem duas capotas, uma de lona que fecha completamente e outra que só fecha em cima. Não molhou nada. Eu poderia ter colocado em um caminhado para trazer, mas o divertido é dirigir. Busquei com a minha esposa. Eu até queria ter vindo sozinho, porque é um carro artesanal, mas funcionou certinho na estrada, sem problema nenhum. Eu ainda disse: e se quebrar o carro no meio do caminho? Ela respondeu: eu vou mesmo assim”, completa.
O sonho custou R$ 73,5 mil e o juiz garante que a sensação é de pilotar uma motocicleta, porém sem o capacete e com a segurança de um carro.