EFE/PCS
Enquanto o consumo de drogas causa mais mortes do que nunca, o mercado (ilegal) bate recordes. Essas são as duas principais conclusões do novo Relatório Mundial sobre Drogas da Organização das Nações Unidas (ONU), apresentado na terça-feira (23), em Viena, documento que mostra um panorama cada vez mais complexo.
A ONU elevou a sua estimativa de mortes vinculadas ao consumo de drogas no mundo para 585 mil em 2017, acima dos 450 mil óbitos que ocorreram em 2015. Essa alta se deve a uma melhor compreensão da situação global graças a novos dados, como os de Índia e Nigéria.
*"Estes dados completam e complicam ainda mais o cenário mundial diante dos desafios que enfrentamos", resumiu no relatório o diretor do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC), Yury Fedotov.*
Em 2017, 271 milhões de pessoas - 5,5% da população mundial - com idades entre 15 e 64 anos consumiram drogas, um número similar ao do ano anterior, mas 30% superior ao de 2009.
Desses consumidores, os mais sensíveis são os que têm graves problemas de toxicomania, que passam de 30,5 para 35 milhões devido aos novos dados fornecidos por Índia e Nigéria.
Drogas mais usadas
A droga mais popular é a cannabis, com 188 milhões de consumidores, mas as mais letais são os opioides, causadores de dois terços das mortes atribuídas ao consumo de entorpecentes. O relatório destaca que a prevenção e o tratamento continuam falhando em muitas partes do mundo, e só uma a cada sete pessoas com problemas graves de dependência está em tratamento.
A crise de opioides nos Estados Unidos e no Canadá pelo abuso de analgésicos sintéticos, como o fentanil - 50 vezes mais potentes do que a heroína -, volta chamar a atenção dos especialistas da ONU.
Estima-se que 4% de todos os americanos adultos tenham consumido algum tipo de opioide, pelo menos uma vez, em 2017. Das 70.237 mortes por overdose registradas nos EUA nesse ano, 47.600 foram por causa do uso de opioides, 13% a mais do que em 2016.
"A overdose de droga na América do Norte realmente alcançou dimensões de epidemia", ressaltou a chefe da Seção de Estatísticas e Pesquisas do UNODC e autora do relatório, a italiana Angela Me, que alertou que existem indícios de um aumento do consumo do fentanil na Europa.
Pelo lado da produção, tanto o ópio quanto a cocaína bateram recordes, enquanto as drogas sintéticas continuam se expandindo. A produção mundial de cocaína em 2017 atingiu um nível histórico, com 1.976 toneladas, 25% a mais do que no ano anterior, e 70% desta produção com pureza de 100% vem da Colômbia.
*A quantidade de cocaína confiscada pelas forças de segurança também é a maior da história, 1.275 toneladas, um aumento de 13% com relação ao ano anterior, um dado que parece apontar para uma melhora da cooperação internacional entre as polícias.*
As enormes apreensões de cocaína feitas significam que "a quantidade de cocaína disponível para o consumo aumentou mais lentamente do que a produção", de acordo com o relatório. O UNODC acrescenta que "enquanto as apreensões de cocaína aumentaram 74% na última década, a produção cresceu 50%".
Drogas no mundo
O Afeganistão é, de longe, o maior produtor de ópio do mundo, seguido pelo México, com 586 toneladas, que superou Myanmar. Os cultivos de papoila-dormideira no México subiram progressivamente na última década e passaram a ocupar 30.600 hectares em 2017, quando dez anos antes as plantações correspondiam a 6.900 hectares.
O aumento também foi notado no caso das drogas sintéticas. Na Ásia, o continente mais habitado, elas são as mais consumidas. A ONU reconhece ser difícil fazer estimativas desse tipo de substância, mas o aumento das apreensões e a diminuição dos preços apontam para um mercado em contínua expansão.
A organização alerta sobre uma nova epidemia invisível de opioides na África, causada por um analgésico chamado tramadol que chama pouca atenção, mas necessita ação urgentemente. O relatório indica que o mercado do produto está se ampliando rapidamente, não só por África Ocidental e Central, mas também pelo Oriente Médio.
As apreensões dessa substância no mundo todo passaram de dez quilos, em 2010, para 125 mil, em 2017, e as Nações Unidas alertam sobre o seu impacto na saúde em uma região do planeta com poucos recursos.