Mariana Kotscho
Conversando com outras mães, eu já notei que um medo comum são os grupos de WhatsApp da escola. De qualquer escola. São pessoas que muitas vezes nem se conhecem pessoalmente que começam a debater assuntos inclusive profundos e chegam a se odiar em poucos segundos. Tem até bullying contra professor, intercalado por receitas de bolo e pedidos de indicação de técnico de geladeira.
Os grupos da escola, em sua maioria, são formados por mães. Mesmo que digam que os pais estejam mais atuantes e participativos, é fato que nas reuniões da escola e nos grupos de WhatsApp, as mulheres ainda são as mais presentes.
Numa entrevista que gravei sobre este assunto com o psicanalista Christian Dunker, nós falamos sobre a necessidade de se criar um código de ética para estas conversas. Se o papo, por um lado, pode ser produtivo, e às vezes até ajudar em coisas práticas, por outro pode se tornar extremamente perigoso.
Ânimos exaltados chegam a pedir afastamento de professor por ter dado notas baixas numa prova para grande parte dos alunos. Certa vez, no programa "Papo de Mãe", uma mãe contou ter sofrido ela mesma bullying num grupo porque tinha pintado os cabelos de azul. A conversa começou assim: "vocês viram que horror, uma mãe da escola com cabelo azul?"; "eu não deixaria minha filha ser amiga da filha dela" - ignoraram totalmente que a própria estava ali acompanhando tudo.
Pior é quando começa uma campanha contra algum aluno, uma criança ou adolescente. "Ouvi dizer que tem um ladrão entre nossos filhos"; "É mesmo, estão sumindo coisas das mochilas". Daí já vira aquele burburinho em torno de quem deve ser o criminoso.
Tenho 3 filhos e vários grupos da escola, do futebol, de festas, de vaquinhas, de tudo um pouco. E já dei vários foras, claro, de responder mensagem no grupo errado, mandar foto que não devia, entrar em discussão que nem tempo eu tinha para discutir.
E quando a pessoa sai de um grupo e vira o assunto? Tem alguma regra nesta hora? Sair à francesa ou se despedir, dar alguma satisfação, dizer o tradicional "estou dando um tempo de grupos"?
Mal-entendido e conversa cruzada é o que mais tem. Uma resposta depois de um comentário sobre outro assunto ou um emoji colocado por engano e pronto, está feita a confusão. Até você se explicar, já entraram quatro indicações de costureira e duas de eletricista. O fato é que texto escrito, por mais que seja acompanhado de carinhas, kkkkkkks, rsrsrsrsrs, hahahahas, nunca vai substituir o diálogo presencial.
Pessoas dizem coisas digitando no celular que talvez nunca diriam se estivessem conversando pessoalmente. Pior ainda é quando compartilham fake news. Se eu vejo erro de português, já fico querendo logo corrigir, e se são meus filhos que me respondem com aquele monte de abreviação, confesso que muitas vezes não entendo metade - preciso pedir tradução.
Outra coisa que me tira do sério é quando filho não coloca o risquinho azul para eu saber que leu minha mensagem. Mãe também quer impor suas regras maternas ao educar filhos via mensagens. Eu quero.
Uma coisa legal e que pode ser bem aproveitada nestes grupos, um jeito saudável de usar, é a troca de experiências entre pais e mães, os combinados, a ajuda mútua - principalmente na fase da adolescência. Neste período, pais e mães unidos em torno de um mesmo propósito podem inclusive se ajudar na criação dos filhos e filhas e na segurança deles em relação à prevenção do uso de álcool e drogas, por exemplo. Isso costuma funcionar melhor em grupos menores, com pessoas que já se conhecem e que têm alguma afinidade.
Depois que eu entro num grupo, dificilmente vão ler a frase "Mariana saiu". Quando eu entro, entro pra ficar, até porque quero estar por dentro de tudo e não quero virar assunto. Nem sempre dá para acompanhar todos os temas, ainda mais quando em 5 minutos aparecem 100 novas mensagens. Mas o negócio é respirar fundo, procurar o bom senso, o uso adequado, equilibrado, positivo. Sempre temos o que aprender.