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Embora a pornografia acompanhe a história da humanidade em diversas formas — da arte erótica antiga ao cinema contemporâneo — o avanço da tecnologia e a facilidade de acesso fizeram o consumo disparar nas últimas décadas. Com isso, surgem questionamentos sobre os efeitos da exposição frequente a conteúdos sexualmente explícitos no funcionamento do cérebro.
Segundo Danielle Sukenik, terapeuta familiar e de casais, o consumo de pornografia pode atender a diferentes propósitos. “Algumas pessoas buscam prazer sexual, outras usam como distração contra o tédio, e há ainda quem recorra a esse tipo de conteúdo como forma de escapar de sentimentos ligados à depressão ou ao estresse”, explica.
No entanto, a especialista alerta que o impacto cerebral do consumo contínuo de pornografia não deve ser ignorado. “Embora muitas das pesquisas mais relevantes sejam de uma década atrás, seus resultados seguem extremamente válidos hoje”, afirma Sukenik.
Um estudo de 2015, um dos primeiros a utilizar tomografias cerebrais em usuários regulares de pornografia, identificou uma correlação entre o consumo e a redução da massa cinzenta em áreas do cérebro relacionadas ao sistema de recompensa — especialmente regiões associadas à motivação e à tomada de decisões. O mesmo estudo também apontou uma dessensibilização a outros estímulos sexuais, reduzindo o interesse e o prazer fora do conteúdo pornográfico.
De acordo com a terapeuta, esse padrão pode estar ligado a uma menor conectividade entre o córtex pré-frontal — responsável por decisões racionais — e as áreas de recompensa do cérebro. “Com isso, aumentam os desejos e a impulsividade, já que o cérebro passa a demandar estímulos mais intensos para atingir o mesmo nível de satisfação”, conclui.