CPI da Saúde
04/05/2014 09:10:15
Antibióticos geram pragas mais violentas e obesidade, diz especialista
Neste mundo, nada é de graça, especialmente quando estamos falando de saúde.
Uol/AB
Neste\n mundo, nada é de graça, especialmente quando estamos falando de saúde. \n Todos os exames, todas as incisões, e cada uma das pílulas que tomamos \n nos trazem benefícios e riscos. \n Em nenhuma área, a coisa pende mais obviamente para a direção errada do \n que no mundo das doenças infecciosas, a maior história de sucesso do \n século 20. Nós contamos com os antibióticos desde meados dos anos 1940 \n praticamente desde que a bomba atômica foi criada, destaca o professor \n de medicina Martin J. Blaser e o nosso maior erro foi não ter \n percebido há muito tempo os paralelos entre essas duas histórias. \n Os antibióticos controlaram boa parte de nossos velhos inimigos \n bacterianos: nós queríamos fazê-los desaparecer do planeta, e a dose foi\n cavalar. Mas, agora, estamos começando a sofrer as consequências. \n Aparentemente, nem todos os germes são maus e existem alguns que são \n muito bons, na verdade. No livro "Missing Microbes" ("Os micróbios \n perdidos", em tradução livre), Blaser, professor de medicina e doenças \n infecciosas da Universidade de Nova York, apresenta uma série \n impressionante de razões que nos levam a repensar a destruição promovida\n nas últimas décadas. \n \n Pragas mais violentas\n Primeiro e mais importante: a guerra tem se tornado cada vez mais \n violenta. O uso imprudente de antibióticos resultou na resistência dos \n micróbios; médicos especializados em doenças infecciosas operam agora em\n um estado de quase pânico, uma vez que o tratamento de doenças comuns \n está exigindo medicamentos mais e mais poderosos. \n Em segundo lugar, como sempre, são justamente os espectadores \n desafortunados que mais sofrem com isso não os seres humanos, vejam \n bem, mas as infinitas bactérias benevolentes e trabalhadoras que \n colonizam nossas peles e o interior de nosso trato gastrintestinal. \n Precisamos dessas criaturinhas para sobreviver, mas até mesmo algumas \n doses de antibióticos são o bastante para destruir seu universo, com \n mortes incalculáveis e paisagens devastadas. Às vezes, nem as populações\n nem seu habitat voltam a se recuperar plenamente. \n E, por fim, há um acúmulo desanimador de evidências de que a guerra \n contra as velhas pragas esteja levando simplesmente a guerras ainda \n piores contra uma série de novas pragas. \n Parte dos argumentos de Blaser já é bem conhecida, tais como a história \n do Clostridium, uma causa cada vez mais comum de diarreia. Essa condição\n surge quando os antibióticos eliminam a população microbiana normal de \n nossas entranhas, favorecendo um organismo produtor de toxinas. Às vezes\n é preciso usar ainda mais antibióticos para reestabelecer a função \n intestinal. Mas às vezes não há tratamento que funcione nada além de \n preencher o intestino com fezes repletas de bactérias normais, uma \n estratégia que é o último recurso, mas que se mostrou bastante eficaz. \n Sem isso, pessoas totalmente saudáveis podem morrer. \n Menos conhecido é o paradoxo gerado por um pequeno organismo em forma de\n vírgula conhecido como Helicobacter pylori, que habita o estômago \n humano. Blaser é um dos maiores especialistas nessas "bactérias da \n úlcera", que estão associadas não apenas com as úlceras, mas também com o\n câncer do estômago. Estamos lentamente eliminando o H. pylori com \n antibióticos e eles se tornaram bastante incomuns em países \n desenvolvidos. \n Mas à medida que desaparecem, destaca Blaser, uma pequena epidemia de \n doenças no esôfago é seguida de uma inflamação que pode causar azia e, \n até mesmo, câncer. Aparentemente, essa bactéria do mal também é boa e \n fundamental para proteger o esôfago humano. \n E isso está longe de ser tudo, pessoal.