\n \n A\n carreira é tão longa, algumas histórias são tão mal resolvidas, que é melhor\n ser bem direta depois da entrevista com Gerson Douglas, o ex-sanfoneiro do\n Tradição. Bem, ele continua com o mesmo corte de cabelo (o dos cachinhos), usa\n óculos, mora ainda no Jardim Leblon, em Campo Grande, e a casa (desenhada por ele)\n permanece inacabada.\n \n O\n filho cresceu, a esposa ainda é Karina (como há 15 anos) e a sanfona continua\n como principal meio de sustento. Nos anos de Tradição, chegou a montar uma loja\n da marca All Star e os lotes de tênis agora estão à venda na casa do músico.\n \n O\n que mudou, outra vez, foram os parceiros artísticos. Agora ele toca ao lado do\n violeiro Alessandro Brosolato (um bonitão do interior de SP) e do cantor\n Denilson Graciano (sargento do Exército). Juntos, lançam no dia 7 de abril o\n Trio Violada, durante show em Brasilândia.\n \n No\n dia 18, Gerson reencontrou Michel Teló por acaso, no festival Planeta\n Universitário, em São\n Paulo. Como sanfoneiro pronto, que não precisa de muito\n “guerigueri” para tocar uma música, Gerson foi indicado para participar do show\n do português Lucenzo, dono do sucesso Danza Kuduro.\n \n “Eu\n estava esperando a hora de entrar quando o Michel me viu no canto do palco e me\n convidou para tocar com ele. Na hora a gente se olhou e eu já introduzi o\n Barquinho, foi demais. Fiquei muito emocionado. Ele disse que me amava e só\n falou coisas boas no palco”.\n \n Mas\n foi apenas um encontro rápido, a relação com o ex-parceiro também foi outra\n mudança grande dos últimos tempos. Depois de 20 anos tocando juntos, os dois\n mal conversam hoje em\n dia. Evitando ao máximo “falar mal” do ex-parceiro, Gerson\n apenas explica o que a maioria dos fãs nunca entendeu. Porque os dois\n principais nomes do Tradição se separaram?\n \n “Ele\n é meu irmão. Temos um sentimento puro. Mas as coisas tomaram um rumo bem\n diferente daquele que a gente tinha combinado”, comenta. Aos poucos ele vai se\n abrindo por concordar que “até hoje ninguém sabe a verdade sobre o que\n aconteceu”.\n \n Apesar\n do novo projeto e do Trio Violada ser o principal motivo dele ter concordado\n com a entrevista, Gerson, extremamente humilde e simpático, aceita falar e\n parece gostar de relembrar os velhos tempos.\n \n O\n sanfoneiro conheceu Michel Teló ainda no Colégio Dom Bosco. Com o pai\n paraplégico, depois de um acidente com moto, o rapaz teve de se virar para\n ganhar dinheiro. “Eu tocava porque precisava, o Michel porque queria. Ele\n sempre teve mais dinheiro”, explica.\n \n Na\n lida da música de raiz, eles passaram a integrar grupos diferentes, até se\n encontrarem de novo no Tradição. “O Michel me chamou, 3 meses depois dele\n entrar no grupo”. Tudo foi lindo durante os 13 anos de fama, mas o futuro\n juntos acabou quando o loirinho decidiu sair.\n \n O\n Tradição estava estagnado, sem nenhuma novidade e os problemas internos sobre\n os investimentos e formas de divulgação do grupo incomodavam . As decisões eram\n tomadas muitas vezes sem a participação de todos os 11 integrantes da\n sociedade, entre músicos e empresários, o que instalava o tempo ruim. “Eram\n muitas brigas”, resume.\n \n A\n família Teló ganhava cada vez mais voz e batia de frente com o empresário\n Wagner Hidelbrand e assim as coisas foram degringolando. “Tive a oportunidade\n de falar recentemente para ele (Wagner) que a culpa foi dele, que era o líder e\n deveria assumir esse papel, o que não fez”, diz Gerson.\n \n Um\n dos momentos de clara mudança de planos dos Teló em relação ao projeto coletivo\n foi em uma das atualizações do layout do site do grupo. Ao abrir a página, o\n que aparecia primeiro era “Blog do Michel”.\n \n Sem\n comunicar nada ao Tradição, Michel anunciou em um programa de TV a carreira\n solo. “O pai dele disse, chama o Gerson e lá fomos nós. Toquei um ano com o\n Michel, mas não aguentei”, lembra.\n \n Durante\n um ano, Gérson conseguiu “aguentar” o papel de coadjuvante, mas a “parceria”\n com o amigo minguou cada vez mais, também por regras impostas pela família, que\n administra a carreira de Michel.\n \n O\n sanfoneiro tinha de respeitar o cantor como a única estrela, o cachê passou a\n ser como o de qualquer outro, Gerson foi obrigado a ser mais um no palco. Para\n esclarecer, minha impressão não é de um músico recalcado com o sucesso do\n amigo. Vejo sim uma pessoa que quer ser um artista mais completo.\n \n “Eu\n sabia que seria um coadjuvante, mas não pensei que fosse ser desse jeito. Nunca\n fui só sanfoneiro, gosto de me expressar como artista completo, foi isso que\n deu certo no Tradição”.\n \n Os\n dois romperam “artisticamente” e hoje Gerson adapta trecho bíblico para falar\n do futuro. “Tenho de ser esperto como a serpente e manso como a pomba”, comenta\n ao explicar porque não quer a publicação de nenhuma história mais reveladora\n sobre os bastidores da crise com Teló. Ele desabafa, depois de muito\n insistência, em off, mas tenho de fechar a boca conforme prometido.\n \n Compositor,\n acostumado a escrever “andando na rua ou no banheiro”, conta, o músico já\n conseguiu emplacar 3 canções em novelas da Rede Globo e já foi convidado também\n 3 vezes para retornar ao Tradição. “Tenho um projeto meu e acredito nele”,\n justifica a recusa.\n \n O\n hit “Ai se eu te pego”, na voz do ex-parceiro, foi uma surpresa para Gerson,\n assim como outros sucessos de Michel. “Eu nunca acreditei em Fugidinha, e essa\n outra música eu até achei que ia estourar, mas nem tanto. Sempre pensei que o\n Michel seria famoso, mas pensava que só ia chegar perto do Luan Santana, nunca\n que seria maior. Mas o que me preocupa mesmo é que a fama é da música, não do\n trabalho do Michel. Já com o Luan é diferente, o cara tem muitas fãs.”\n \n Gerson\n confessa que “pede a Deus“ para que consiga também fazer “nem que seja só uma\n musiquinha” que também cole como chiclete e faça o Trio Violada estourar. “Tem\n de pedir a Deus e ao empresário, né”, reforça o cantor Denilson Graciano,\n parceiro de Gerson na nova empreitada.\n \n Sobre\n o fenômeno internacional Michel Teló, Gerson não parece arrependido de largar\n tudo e investir em um novo grupo. “Se eu estivesse com ele, estaria ganhando um\n cachê pequeno para ficar até 2 meses longe da família. A única coisa que seria\n legal era conhecer Roma, Paris, comer salsichão na Alemanha, um sonho que eu\n tenho. Mas deixa, isso aí eu vou fazer um dia, nem que seja para pagar\n parcelado”.\n \n Entrevista\n concedida ao Campo Grande News.\n \n \n \n \n