Lado B/PCS
O sul-mato-grossense Matu Miranda chegou à semifinal do The Voice Brasil, que teve o último episódio exibido pela TV Globo na noite desta quinta-feira (28). Embora não tenha avançado na competição, ele contou ao Lado B que, independente do resultado, sua prioridade não era vencer o programa.
“A gente sempre fica nervoso porque cantar é ficar vulnerável, é sempre um desafio, mas estou tranquilo porque cheguei aqui e não imaginava. Não tenho pretensão de ganhar o programa, minha pretensão é continuar cantando com verdade”, garantiu o músico.
Tendo sua mãe, Daniele Rodrigues, como uma das referências para sua construção artística e para o modo com que vê a fama, ele destaca que não deseja ter sua vida restringida como uma das consequências do The Voice.
Isso porque Daniele, aos nove anos de idade, foi a segunda Narizinho do Sítio do Pica-Pau Amarelo e, ainda muito pequena, viu sua liberdade ser cerceada. “Não quero perder minha liberdade, quero fazer música com tranquilidade, realmente não tenho ambição de fama”.
Explicando melhor sobre a forma com que lida com o assunto, Matu detalhou que estar sob os holofotes não é algo que o deslumbre.
“Eu sigo a mesma pessoa, fazendo a música que eu acredito. Quem me ouviu antes do holofote se conectou e pode ter criado uma relação de admiração. O fato de eu estar em um holofote maior, com mais admiração, potencializa esse deslumbro do público, mas eu sigo buscando me aprimorar e ser um profissional”, diz.
Para além da fama, ter participado do programa significou entrar em uma experiência totalmente nova, como ele conta. Desde o acesso a mais pessoas graças ao alcance da televisão até aprender novas formas de se expressar no palco, Matu relata que todo o processo foi cheio de emoções.
Ao pensar sobre o contato dentro do The Voice, o artista explicou que poder conversar e conhecer outros músicos foi um dos pontos altos. “A experiência de me comunicar com as pessoas e fazer trocas artísticas com os participantes foi muito importante. Admiro cada um deles porque são incríveis em suas áreas, com suas técnicas, seus domínios”.
Outra novidade foi poder performar sem o violão e repensar a forma com que se apresentaria. “Eu sempre faço show com o violão e ele acaba sendo esse escudo. Então, no programa, pude cantar e pensar em como explorar meu corpo para me comunicar enquanto canto”, conta.
De Mato Grosso do Sul para o Brasil
Mas, antes de repensar suas performances e do programa chegar à sua vida, Matu se viu rodeado por arte desde cedo em Mato Grosso do Sul.
“Minha relação com arte vem de berço. Minha mãe sempre foi atriz e tanto ela quanto meu pai, Aldo Miranda, sempre proporcionaram um ambiente estimulante e criativo. Sempre ouvíamos desde música brasileira até Beatles, rock progressivo, enfim. E tive a sorte de ter uma irmã mais velha, a Natália, que sempre foi artista.”
Especificamente sobre a música, ele explica que o contato veio a partir de seus 15 anos. “Comecei a tocar cavaquinho e criei um grupo de pagode com amigos da escola, mas tudo muito amador. Depois, comecei a andar de skate e isso se tornou minha atividade principal, mas sofri uma lesão no joelho e foi ali, me recuperando, que comecei a tocar violão”.
Nesse período, entre os 17 e 18 anos, o artista criou suas primeiras canções e, pouco tempo depois, deixou Mato Grosso do Sul e foi para o Ceará. “Lá, voltei a andar de skate novamente, mas me lesionei mais uma vez e o violão veio como instrumento de cura”.
Hoje, olhando para sua trajetória, Matu pontua que Mato Grosso do Sul e o Ceará foram e continuam sendo importantes para o modo com que se construiu enquanto artista.
“Eu tive o privilégio dos meus avós morarem por muito tempo em Bonito, então passei minha infância nadando no rio e vejo que minha música tem muita interferência disso. É um reflexo do que vivi de contato com essa natureza tão bruta, minha música reflete esse estado de contemplação, desse olhar de criança para a natureza”, detalha sobre a influência sul-mato-grossense.
Já sobre o outro estado, ele comenta que lá passou a ter coragem de se entender enquanto músico. “O Ceará veio como uma terra de luz, de possibilidade em que vi como compositor e que passei a dividir isso com as pessoas, me possibilitou criar coragem e fui muito acolhido pelos músicos”.
Em uma nova etapa em sua vida desde a pandemia, Matu conta que novos espaços começaram a habitar seu cotidiano. “Eu comecei a levar uma vida nômade desde que precisei entregar meu apartamento durante a pandemia. Hoje, passo por casas de amigos e familiares no Rio de Janeiro, sul de Minas, Florianópolis, Ceará, Campo Grande. Faço esse circuito e, no caminho, realizo alguns shows”.
E, entre os caminhos, o Rio de Janeiro é o espaço que mais tem ocupado a agenda do artista. “Criei laços de amizade e trabalho fortes no Rio, então está sendo esse porto. Ao mesmo tempo, impermanência é uma condição desafiadora no sentido de resiliência, de se adaptar e estimular um olhar criativo, acredito que o movimento faz isso”, completa.