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O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central se reúne nesta quarta-feira (27) e deve manter, pela sexta vez seguida, os juros básicos da economia brasileira estáveis em 14,25% ao ano. Trata-se do maior patamar em quase dez anos, segundo previsão dos economistas do mercado financeiro. A decisão sobre a taxa de juros será anunciada na noite desta quarta.
Ao subir os juros ou mantê-los elevados, o BC encarece o crédito e reduz o consumo no país, atuando assim para segurar a inflação que mostrou resistência no ano passado e no início de 2016. Por outro lado, os juros altos prejudicam o nível de atividade da economia brasileira e, também, a geração de empregos.
Cenário da economia Atualmente, a economia brasileira passa pela maior recessão de sua história. No ano passado, oProduto Interno Bruto (PIB) teve retração de 3,8% e, para este ano, o mercado financeiro já prevê um tombo maior ainda, de 3,88%. Se confirmado, será a primeira vez na história com dois anos seguidos de encolhimento do PIB.
Com a economia patinando, o desemprego cresce. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, o desemprego ficou em 10,2% no trimestre encerrado em fevereiro - o maior índice da série, iniciada em 2012. Pela primeira vez, a taxa da Pnad Contínua atinge dois dígitos. Esses fatores contribuem, teoricamente, para o controle da inflação.
Porém, ainda influenciada pelo alto patamar do ano passado, a inflação brasileira, em 12 meses, segue elevada, apesar do recuo nos meses recentes.
No período de 12 meses até março passado, a inflação somou 9,39%. Com isso, continua bem acima da meta central de 4,5% fixada para este ano, e também do teto de 6,5% do sistema de metas brasileiro.
Previsões e sinalizações do BC No fim do mês passado, o BC estimou que a inflação oficial do país, medida pelo IPCA, deve ficar entre 6,6% e 6,9% neste ano. Deste modo, ficaria, pelo segundo ano seguido, acima do teto de 6,5% determinado pelo sistema de metas de inflação do Banco Central. Em 2015, a inflação somou 10,67%, a maior taxa desde 2002.
O mercado financeiro previu, na semana passada, que o IPCA deste ano somará 6,98%. A expectativa dos economistas dos bancos para a inflação deste ano vem recuando sistematicamente nas últimas semanas por conta do cenário recessivo da economia brasileira e do aumento do desemprego.
Há um mês, ao comentar o cenário da economia durante uma audiência no Congresso Nacional, o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, declarou que o balanço de riscos para a inflação permanecia "desafiador" e que a estratégia da instituição para a taxa de juros não contemplava, naquele momento, a hipótese de "flexiblização da política monetária", ou seja, não previa redução de juros.
"O processo de desinflação está começando agora. É importante que os agentes econômicos e a população se convençam da queda da inflação. Depois, começará a distensão [queda dos juros]. As expectativas dos agentes [para a inflação futura] têm de estar mais baixas para que esse processo de distensão [queda dos juros] comece", disse Tombini na ocasião.
Segundo pesquisa realizada com mais de 100 instituições financeiras na semana passada, a previsão dos analistas dos bancos é de que a taxa básica de juros, fixada pelo BC, começará a recuar a partir de setembro deste ano - quando deverá cair para 14% ao ano. Em abril de 2017, a expectativa é de que os juros básicos já tenham recuado para 12% ao ano.
O que dizem os economistas Segundo o economista-chefe da Gradual Investimentos, André Perfeito, para segurar a inflação, o Banco Central "teve que criar uma recessão para segurar o mercado de trabalho e assim fazer com que os salários caiam em termos reais [descontada a inflação]."
"Não me parece razoável supor que o Banco Central vá iniciar um processo de afrouxamento agora das condições monetárias [corte de juros] uma vez que está na frente da curva. Ele deve esperar cair para dentro da meta a inflação de 2016 para matar de vez a questão e aí sim iniciar um afrouxamento mais perene da taxa básica", avaliou Perfeito.
O economista observou que a diretoria do BC pode ser trocada com a eventual queda da presidente Dilma Rousseff e ascensão de Michel Temer à Presidência da República, na esteira do processo de impeachment, mas acrescentou que, nesse caso, a tendência de queda dos juros, nos próximos meses, tende a ser mantida.
Uma eventual troca no BC teria de ser precedida de sabatinas da nova diretoria no Congresso Nacional e da subsequente aprovação dos novos nomes pela Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado Federal e depois pelo plenário daquela Casa. Por isso, não seria imediata.
Para José Francisco Lima Gonçalves, economista-chefe do Banco Fator, o Copom deve manter os juros por conta das incertezas domésticas e externas.
"A convergência da inflação para as proximidades de 6,5%, por cima, no fim deste ano, aumenta se a transição política mostrar governabilidade aceitável. O estrago feito pela recessão na inflação, a diluição do choque de tarifas e a trajetória mais comportada do câmbio devem se impor se o cenário político permitir. É possível, assim, pensar em ciclo de queda da Selic a partir de julho", avaliou ele.