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Com a forte disparada do dólar nas últimas semanas, nenhuma modalidade de investimento rendeu mais que os fundos cambiais desde o início do ano. A perspectiva de valorização da moeda fez dobrar a procura de pessoas físicas por esse tipo de aplicação, tradicionalmente mais acessível a grandes investidores.
Os fundos cambiais são aplicações que investem pelo menos 80% de sua carteira em ativos ligados à cotação de moeda estrangeira, – em regra o dólar e o euro, que são mais fortes. Sempre que estas moedas se valorizam, o rendimento acompanha a alta na mesma proporção.
A quantidade de pessoas físicas que compraram cotas nestes fundos saltou de 17.578, do início de janeiro, para 34.650 até a última sexta-feira (13), um aumento de quase 100%, mostram dados da provedora de informações financeira Morningstar, compilados pelo administrador de investimentos Marcelo D’Agosto.
“Esse aumento mostra a dimensão do crescente interesse de investidores menores neste tipo de investimento”, explica o especialista ao G1.
Apesar de somar uma parte ínfima do mercado trilionário de fundos no Brasil, o patrimônio líquido destas aplicações cresceu 60% de dezembro a julho deste ano. Passou de R$ 3 bilhões para R$ 5,2 bilhões, segundo dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima).
“Em especial este ano, diante da volatilidade ligada a questões locais e a tensões no mercado internacional, o fundo cambial se tornou um instrumento interessante de proteção contra essa variação”, explica o vice-presidente da Anbima, Carlos André.
Quando se olha o patrimônio destes fundos, nota-se que a maior parte (56%) vem de pessoas físicas, somando os segmentos de varejo (que investem via de regra até R$ 100 mil), alta renda e private banking (investidores que aplicam, em geral, mais de R$ 1 milhão).
Entre janeiro e julho, 65% da captação líquida (entradas menos saídas) destes fundos cambiais veio deste tipo de investidor.
Para D’Agosto, a oferta maior do produto no mercado ajudou a popularizar estes fundos. Em tempos de incerteza política, juros baixos e câmbio volátil, a modalidade passou a ser mais indicada nas plataformas de investimento operadas por bancos e corretoras.
“Hoje existe uma oferta [de cotas em fundos cambiais] capaz de atender essa demanda maior do varejo, que antigamente era mais restrita a grandes investidores”, aponta D'Agosto.
Rendimento em alta
Quem investiu neste tipo de aplicação no início do ano teve um retorno médio de 24,68% até o final de agosto, de acordo com levantamento da Anbima.
Mas o potencial de alta do fundo cambial implica também em alto risco de perdas. Em vista disso, a recomendação dos gestores é alocar apenas uma parte dos recursos neste tipo de investimento – a velha regra de não colocar "todos os ovos na mesma cesta".
“O fundo cambial é uma opção interessante para pessoas físicas que procuram uma forma relativamente simples de diversificar seus investimentos”, considera o vice-presidente da Anbima, Carlos André.
A aplicação também funciona como uma alternativa de hedge (proteção cambial no mercado futuro) para investidores corporativos que não têm interesse em atuar no mercado futuro, uma modalidade que implica em contratos mais complexos negociados na bolsa ou no mercado a termo.
Além da possibilidade de lucro no curto prazo, os fundos cambiais também são indicados como proteção para quem tem compromissos pré-agendados em moeda estrangeira, diante uma potencial desvalorização do real. O mais comum para pessoas físicas são as viagens planejadas para o exterior, seja com objetivos turísticos ou educacionais.
Veja abaixo os investimentos que, em geral, costumam se beneficiar com a alta do dólar:
Fundos cambiais
São aplicações que investem pelo menos 80% de sua carteira em ativos ligados à cotação de moeda estrangeira, especialmente as mais fortes como dólar e euro. Sempre que estas moedas se valorizam, o rendimento cresce na mesma proporção.Há cobrança de taxas e Imposto de Renda que varia de 15% a 22,5%, dependendo do tempo em que o dinheiro estiver aplicado.
Ações de empresas com receita em dólar
Papéis de companhias brasileiras dolarizadas (que têm suas principais fontes de receita em dólares) são indicadas quando há perspectiva de alta da moeda dos Estados Unidos. Isso porque, quando o dólar se valoriza, elas em geral melhoram seus balanços. São exemplos as grandes exportadoras dos setores de mineração, aviação e papel e celulose.
Fundos multimercados
Este tipo de investimento, que usa a diversificação como estratégia, pode investir parte de sua carteira com exposição em ativos cambiais ou no mercado futuro, se a leitura do gestor for de possível valorização do dólar. “É uma outra forma indireta de se beneficiar dessa valorização”, diz André.
Fundos de ações de BDRs
Os Brazilian Depositary Receipts (BDRs) são emitidos no Brasil e têm lastro em ativos negociados em bolsas no exterior, geralmente ações de empresas estrangeiras. Como o valor destas ações é em dólares, quando a moeda se valoriza, o valor destas ações sobe. “Se a ação subir, o investidor pode ter um duplo ganho com o câmbio e com a própria ação”, explica o vice-presidente da Anbima.
ETFs da bolsa americana
Os fundos de índices (ETFs,Exchange Traded Funds, em inglês) são aplicações que replicam índices negociados em bolsa e eles permitem investir em índices como Nasdaq e Dow Jones sem precisar enviar dinheiro para fora. A lógica é a mesma dos BDRs: quando a tendência é de alta do dólar, essas ações ficam mais valiosas em relação ao ativos em real.
Contratos futuros de dólar
São derivativos, que consistem em contratos de compra ou venda de moeda estrangeira em que se negocia previamente uma cotação futura. Quando o investidor aposta na alta da moeda, ele opera comprado. Quando ele acredita que o dólar vai cair, ele opera vendido.
Dólar em espécie
A estratégia é mais indicada para quem tem uma viagem marcada para o exterior no curto ou médio prazo. Ela consiste em adquirir aos poucos a moeda em papel, para se proteger das eventuais oscilações no período que antecede o compromisso.