Agência Brasil/AB
A redução da expectativa do crescimento econômico – refletindo cortes nos gastos públicos –, a elevação da taxa de juros, a contração do crédito, a reprogramação dos investimentos e a elevação das tarifas de energia elétrica deverão fazer com que o consumo de energia elétrica feche 2015 em queda de 0,5%, o que não acontece desde 2009 – no auge da crise financeira internacional –, quando o consumo fechou com queda de 1,1%.
As projeções constam da Resenha do Mercado de Energia Elétrica, do mês de março, divulgada hoje (31) pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE), com os dados do consumo de energia relativos ao mês de fevereiro deste ano, que fechou com queda de 2,2%, registrando retração de demanda em todas as classes de consumo.
Pela nova previsão, o consumo total de energia elétrica na rede, em 2015, será 16,6 mil gigawatt-hora inferior à projeção anterior, o que equivale à geração de uma usina hidrelétrica de 4.000 megawatts (MW) durante um ano.
Pelas projeções da EPE, a queda refletirá a menor demanda dos consumidores de baixa tensão e a o encolhimento ainda maior do consumo industrial. “As alterações no panorama econômico de curto prazo têm reflexo no comportamento do consumo de energia elétrica, o que levou a empresa a rever as projeções para a demanda de energia elétrica em 2015”, avalia.
As projeções revisadas pela EPE chegam a ser 2,5 pontos percentuais abaixo da previsão anterior, que era de crescimento de 3%, com forte dinâmica do consumo na baixa tensão e recuo do consumo industrial. “A nova projeção mantém essas características, mas incorpora efeitos mais fortes das alterações no panorama, indicando que o consumo total poderá recuar 0,5% neste ano relativamente a 2014”.
Além dos motivos acima citados, que refletem as medidas de ajuste fiscal, a nova projeção considera também a reprogramação de projetos de investimento, como efeito do ajuste macroeconômico e da revisão do plano de inversões da Petrobras; campanhas para racionalização do uso da energia, em linha com o enfrentamento do cenário hidrológico desfavorável dos últimos anos.
Houve redução nas previsões de consumo em todos os segmentos. O crescimento do consumo residencial foi revisado de 5,2% para 2,5%, refletindo, principalmente, a reação dos consumidores em face do aumento das tarifas e das campanhas de racionalização do uso e o desaquecimento do setor de construção civil.
Na classe comercial, o crescimento do consumo de energia foi revisto de 6,1% para 2,7%, refletindo tanto a baixa na atividade econômica (dados do IBGE de janeiro indicam que o comércio varejista registrou o pior resultado em vendas desde 2004) quanto o efeito da elevação das tarifas ao longo do ano. Reflete ainda a expectativa de menor expansão nas vendas de shoppings, hipermercados e comércio em geral.
O segmento industrial, um dos mais afetados pela conjuntura, teve a taxa de consumo reduzida da previsão anterior de -0,6% para -4,4%. “Além da manutenção do panorama dos segmentos eletrointensivos, que vêm reduzindo o consumo de energia desde o ano passado, avalia-se que outros segmentos industriais – notadamente construção civil e automobilístico – devem reduzir de modo expressivo seu nível de produção, iniciando retomada somente no segundo semestre”, de acordo com a resenha.